Ucrânia Guerra entre a Ucrânia e a Rússia não dá sinais de trégua, favorecendo comerciantes de armas

ARTIGO: O mar e a marca da guerra

Publicado em Economia

Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

A guerra chegou ao mar e poucos como eu viram os navios. E ouviram a música. Talvez. Antes do fim de semana, a Rússia bombardeou e destruiu um navio ucraniano, com confirmação de outras fontes, questão já resolvida.

 

A Ucrânia ameaça com ataques a navios russos, sob alegações de que eles podem atirar, o que eles não querem, embora achem que esses navios possam entrar em luta. Mas atiram. E mandam drones explodir até em Moscou.

 

Enquanto o mar está meio tranquilo, os russos atacam, por terra e ar, com bombardeios a Odessa; e com drones e mísseis, a capital Kiev. Muitas vítimas fatais e bastante feridos durante cinco dias de conflitos e a falta de reação eficiente por parte da Ucrânia, o que, ao que se sabe, não seria a segunda contraofensiva. Nem a primeira, dizem os adversários do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

 

Até os americanos criticam os movimentos ucranianos, com auxílio de países da União Europeia e da poderosa e agora aumentada Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Há notícias menos negativas, porém.

 

Zelensky teve reunião com Jens Stoltenberg, da Otan, que está sem graça por não ter avançado com a entrada da Ucrânia na organização. Os temas foram os cereais e um canal de exportação no Mar Negro.

 

Os preços dos grãos aumentaram 8% em um dia, e preocupam. Também preocupados estão os operadores e exportadores do mercado da região. Ameaçaram enfrentar e atirar nos russos.

 

Nada mudou, mas o tempo está desanuviando e tem novas promessas no ar: de armas e dinheiro, claro. Bombas de fragmentação já estão em uso, “muito bem e eficiente”, na opinião americana. A guerra no mar pode ter só começado, mas já inflacionou o mercado de cereais e o de armas e munições. Mais este último.

 

CORREIO SABE PORQUE VIU

 

Estava lá. O dinheiro público é tudo, menos isso: do público. O fim do inverno de 1988 foi de muito frio em toda a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Na Armênia, um terremoto causou estragos e 50 mil vítimas.

 

Lembra Gorbatchov um detalhe da nação que governa: corrupta. Imagem mais icônica é o líder com as mãos cheias de areia e terra suja, a perguntar “cadê o cimento que mandei pra cá?”. Materiais dominados pelo Comitê Central Armênio.

 

“Bolcheviques administravam, e boa parte atendia seus interesses pessoais. Os prédios novos nasceram raquíticos, e o cimento restante foi para as casas dos chefes e amigos. Quando o terremoto veio, derrubou prédios novo e nada causou às velhas casas de pedra.”

 

O Brasil mandou alimentos e remédios. O chefe do grupo era um líder armênio morador em São Paulo. Contou que levava o material por não confiar nos compatriotas de Yerevan, sede da igreja. Soube que esperavam um casamento, que gerou jantar na casa da candidata. O casamento não saiu, apenas boa história com conhaque armênio e, no jantar, fartura de semente tostada e salgadinha.

 

O velho mais velho perguntou se aquela vida, a minha, não cansava, com tempo longe de casa, família, filhos, amigos. A resposta: chocava e levava as pessoas a pensar. Correspondente não tinha tempo para os três itens.

 

A resposta levou-nos a outra, relacionada com a solidão. “Só escrevemos para dois públicos: amigos e inimigos. Os primeiros sabem onde estamos e ficam contentes; os outros, também e falam mal”, disse um velho colega, correspondente alemão, tempos depois.

 

O jantar acaba sem boda marcada. A reunião deixou duas marcas e dois registros: a corrupção dos bolcheviques e a frieza e tristeza do nosso trabalho.