Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal
Sangue, cinismo, luz e gás. Nas últimas semanas são as situações e as palavras mais ouvidas e praticadas no teatro de operações da guerra entre Rússia e Ucrânia. É que o verão foi acabando, devagar, acabou! Do fim de agosto, começo de setembro. Burocratas do clima dirão sim e não. Não porque o fim tem data; sim porque acabou de fato.
Um fantasma ronda a Europa e tira o sono dirigente em três dezenas de países. O frio bate nessas portas. Vem com tudo. Tabelar o preço do gás russo? Cínicos. A Rússia já estava a vender a antigos, atuais e discretos aliados. Preço de mercado com desconto. Ameaça retaliar fechando torneiras a outros. Também difícil, quando não mentira. A União Europeia (UE) está junta no geral e dividida no particular, com muitos detalhes a resolver. Húngaros a favor, poloneses contra. É só exemplo da vida com a Rússia.
Emmanuel Macron, presidente da França, reduziu para um terço suas importações. Poucos acreditam sabendo da situação interna dos franceses. Políticas internas jogarão feito gente grande nesse imbróglio. Volodymir Zelensky, presidente ucraniano, manterá os blefes, com a exceção da contra-ofensiva dos últimos dias em Kharkiv, para adular padrinhos da UE e dos Estados Unidos (EUA) e receber diamantes de sangue em verbas, armas e munições.
Mostra resultado parcial com duas reconquistas de cidades com alguma importância. Equilibrado especialista militar português, inquirido sobre a capacidade ucraniana de manter esses pontos, foi curto: baixa. Os russos admitem que estão a dar ré e reagrupam-se em outros lados. Agora, bombardeiam Dnipro, em frente a Kiev. Na opção interna botaram quase 150 mil soldados a treinar. Repor ou aumentar tropas a partir de dezembro.
A Europa colhe o que plantou. A frase atraiu raiva contra Recep Erdogan, presidente turco que abriu portos para escoar cereais. O líder russo Vladimir Putin informa que grãos não chegam nem matam a fome africana. Ficam na Europa. Pode vir suspensão de tráfego. O frio vai apertar e dificultar ainda mais a vida de quem mora por lá. O general inverno derrotou Napoleão e Hitler, espera o melhor momento para entrar no fuzuê. Isso piora a situação de uns e outros. Não costuma falhar.
O CORREIO SABE PORQUE VIU
Estava lá. O sobe e desce é frenético pela velha rua Arbat. Modernizado, o local voltou a ser palco para cafés, bares de cerveja, lojas pequenas, luxo nas ofertas, importações da Europa e EUA. Pagamento em moedas fortes, com promessas de aceitar o rublo rápido, o que ocorreu. Uma volúpia caucasiana dominava aqueles olhares de dardo atirados sobre os novos bares. Eram moças bem jovens, sós ou com amigas.
O passeio não era a negócios, só diversão na estação ainda quente a dar sinais primários de final. Meus jovens colegas começavam a obter moeda forte e estavam excitados. Cada dia conversas diferentes, histórias novas. Fiz o que devia: busquei luzes com experiente colega brasileira, mais de 20 anos de Moscou. Matou na hora: mulher de soldado. Difícil explicá-las. Havia de quase todas as patentes, de soldado a capitão.
Os níveis mais baixos treinavam para a guerra eterna. Os mais altos ficavam em lugares protegidos pela Logística, Administração e Serviços Gerais. A maioria não veio, nem viria mais. Preencher o vazio era permissão concedida. E executada nos domínios do prazer que, contudo, mantinha-se em limites públicos. Tristeza brotava nos pequenos ambientes. E vinha a raiva de não ter marido, filho, família, governo ou país.
Depois do pranto a ira e depois a vingança no sexo. A cama era teatro de operações onde morriam amores, príncipes encantados, ilusões de felicidade. No frio outono, mensagem: ao inverno sentirei mais falta.