Artigo: Mortes, números, propaganda

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Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

A guerra segue sua rotina e estaria bastante estabilizada, com ligeira vantagem para os russos. É o que dizem analistas militares europeus, geralmente mais sóbrios que os propagandistas civis. Eles também elogiam o feito ucraniano de conseguir bombardear bases militares em território russo. Com drones ou mísseis… soviéticos! São de 1979, foram doados em 1989 e ganharam recente upgrade na Ucrânia com auxílio de empresas de armas europeias e norte-americanas. São os TU-141, de Tupolev, um engenheiro herói que fez aviões para transportar pessoas. Ironias da guerra.

A Ucrânia informou que a Rússia perdeu 93 mil soldados no conflito. A Ucrânia. Os russos negam, dizem que é inferior a 50 mil, mais ou menos o número de soldados ucranianos. A Ucrânia nega tudo e não fala no assunto. Só admite a morte de centenas de civis e dezenas de crianças. Analistas pró acham que é isso mesmo, o exército russo é cruel. Exército ucraniano parece não ter soldados.

A UE vazou a informação dos 100 mil soldados ucranianos mortos. Teve a notícia revisada e censurado o parágrafo das baixas. Jogou contra. A Ucrânia teve de admitir 13 mil mortes fardadas no front. Analistas militares europeus são técnicos. Frios e impiedosos. Dizem também que, só numa das frentes do Donetsk, onde a Ucrânia recuperou território, mantê-lo passou a custar entre 500 e 800 baixas por dia. Recuar é a nova ordem, o que acontece no momento.

O conflito tem muitas frentes. Uma é a econômica. Foi divulgado o estado geral das contas dos 27 países da União Europeia. Um está em recessão. Sete a um passo. Os outros, para mais ou para menos, enfrentam pesadas batalhas contra inflação, preços de alimentos, energia cara é escassa. Nenhum faz previsões otimistas para 2023. O Natal será o mais difícil dos últimos anos. No máximo, esgrimem planos para acertar as contas gerais. Será um feito.

O ambiente de inverno na Europa ficará tenso e disputado a palmo. O mercado alimentar, primeiro, depois, o mercado de energia, farão os países de cobaia para experiências de preço e maneira de entrega do vendido. Há navios petroleiros parados no Bósforo. Tabelar em 60 dólares o preço máximo do barril não gerou harmonia. Rusgas entre países começam e muitos fazem negócios paralelos ou via terceiros, antigos parceiros da Rússia no Oriente ou Ásia. Vale a máxima do Brasil: farinha pouca, meu pirão primeiro. A História ensina que esse não é bom caminho.

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. Fontes e amigos de Moscou estão preocupados. Depois de informar a quantidade de soldados russos já mortos, perto de 200 mil, segundo um deles, mandou uma mensagem curta, que compartilho: “É incrível e horrível ao mesmo tempo. Depois do Afeganistão, a URSS sofreu grande crise demográfica. Nos anos de 1993 a 1995, as maternidades ficavam semi-vazias. Imagine qual será a situação daqui a dez anos. É uma tragédia”.

Difícil para quem está em Moscou e ainda ama o próprio país, independentemente dos seus governantes. Estão todos preocupados. E quando eles ficam assim é porque as conversas nas cozinhas estão em marcha acelerada. Assim, na Perestroika, colhi muitos casos sobre a crise, desmanche interno do poderoso, único, partido comunista soviético. Velhos burocratas bolcheviques não tinham compromissos com o Estado e quase nenhum com o partido. A saída era beber vodka, trocar informações e repassá-las a jornais populares e rádios de audiência.

Sabia-se o que ocorria ficando-se à espera do futuro breve. Ele veio. Mais uma lembrança, a maternidade. No centro da cidade. Proibida a pais a visita nos primeiros dias. Protocolos. Combinavam dia e hora e iam para a esquina oposta. A mãe surgia na janela e lá de cima mostrava o “pacotinho”. Chorávamos e ríamos com os pais. Demografia é coisa séria.

Vicente Nunes