Ucrânia Rússia vem conquistando cada vez mais cidades ucranianas

ARTIGO: Mísseis, tunga e napoleões modernos

Publicado em Economia

Por LUIZ RECENA GRASSI

 

A Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) avisa: não quer mandar tropas de países membros para lutar no front ucraniano. A Otan foi criada para dissuadir, para alertar países do bloco soviético que imaginassem provocações bélicas que não tentassem, pois ali estava o bastião da defesa. Nada aconteceu, e sobrou o penduricalho deixado pela Guerra Fria: defender a Europa de terroristas e traficantes. Sempre com um olho na Rússia, herdeira soviética, não comunista, mas com eternos sonhos imperiais.

 

Hoje, a Otan atua como gerente de logística da Ucrânia na guerra: arruma armas, munições, máquinas, alimento e farda para soldados que lutam contra a Rússia. Seus dirigentes sabem o drama que enfrentam. Mais ainda em momentos como o atual. A Rússia ataca e conquista cidades pequenas. A defesa da Ucrânia está sem controle. Falta tudo, ou quase. Armas velhas aquecem, precisam parar. Munições diminuem, sem reposição.

 

O Reino Unido anuncia que vai mandar munições. Os ingleses descobriram que, para cada cinco, sete tiros da Ucrânia, a Rússia responde com 12 ou mais. Mandaram 300 mil cartuchos até agora e querem repetir a dose este ano. Especialistas estimam entre dois a três mil cartuchos o gasto diário da Ucrânia. É baixa a capacidade de reação. O presidente ucraniano, Volodimyr Zelensky, faz chantagem: ou recebe mais apoio, ou a Europa será tragada pela Rússia.

 

Há briga interna: a Polônia é acusada de não repassar 16 bilhões de euros arrecadados em 2022 na Europa, em duas reuniões para esse fim em Bruxelas. O dinheiro não chega, nem dos Estados Unidos, nem da Europa. Novidade é o Pentágono abrir pelo menos 50 investigações criminais para apurar desvios de verba. Na Ucrânia e por ucranianos.

 

Aliados alemães levaram um golpe na retaguarda política: a Rússia revelou com documentos conversa de altos oficiais do exército alemão sobre possíveis chances de atacar alvos russos. A revelação, feita por jornalista do sistema russo, foi recebida com restrições. Mas a transcrição divulgada dissipou qualquer dúvida. Com um dado explosivo, o da presença de soldados ingleses ajudando ucranianos a disparar mísseis. A Inglaterra ainda não respondeu, mas está em saia justíssima.

 

O chanceler alemão Olaf Scholz determinou investigação “exaustiva” para apurar o vazamento, onde há ideia de entregar armas modernas para a Ucrânia. Gesto perigoso, equivaleria a entrar formalmente no conflito. Antes disso, em reunião em Paris de apoio aos ucranianos, o francês Emmanuel Macron considerou a possibilidade de enviar tropas para a guerra. Não convenceu ninguém. O arroubo Bonapartista foi considerado manobra eleitoral. Mas a semente foi lançada.

 

Para aumentar a onda antirrussa, a União Europeia renovou a ideia de usar os fundos da Rússia congelados em instituições financeiras da Europa e fazer compras para a Ucrânia. É tunga internacional de muitos bilhões de dólares. Autoridades financeiras dizem que é ilegal e criminoso. Some-se a aprovação da entrada da Suécia na Otan.

 

O cerco à Rússia se materializa. O presidente russo, Vladimir Putin, alerta: a internacionalização do conflito roça limites do equilíbrio mundial, provoca desejos de guerra nuclear. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, alarma-se: o risco deve ser evitado. Dez dias de pouca ação no front. Tensos pelo que podem significar no futuro.

 

O CORREIO SABE PORQUE VIU

 

Estava lá. O dia oito de março era quase sagrado na extinta URSS. Era dia de celebrar a mulher e o internacionalismo feminino. Visto por um brasileiro, era um Dia das Mães politizado. Erro. Conquistas e reivindicações só no discurso oficial. Na prática, os Ivans festejavam suas Natashas como em qualquer outro lugar no mundo: flores, declarações de amor, idas ao restaurante, comer e dançar um pouco. Dia seguinte tudo seria como antes.

 

Forçando uma simpatia, o correspondente, na primeira vez, deu parabéns a quantas colegas que encontrou. Até que uma delas, franca, aconselhou: “Não faça isso, as soviéticas não gostam nem curtem tanto o dia; o que queremos, mesmo, é o fim da dupla, tripla jornada de trabalho”. Trabalhar na repartição, cuidar de casa, brigar nas filas de víveres, tudo junto era demais. Após o puxão de orelhas, fui para casa. Só não dava para esquecer o dia. Meu endereço: rua oito de março!