Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal
O presidente russo Vladimir Putin diz que a Rússia tem muitas bombas de fragmentação. Não usou nenhuma, não pretende usá-las em futuro próximo ou distante. Não está nos planos. Mas se os adversários fizerem gestos de violência e provocação, estará apto a usá-las em sua defesa. Sempre foi assim. A Ucrânia já foi avisada e aliados também. É recomendável mudar seus hábitos.
E Volodymyr Zelensky está com as bombas nas mãos e a fazer discursos mostrando valentia com seus brinquedos novos. Também mandou avisar Putin, recomendando-o a mudar as atuais maneiras de atacar. Do contrário, pode dar-se mal. E assim estaríamos combinados: um avisa o outro.
Putin informa que o ataque ucraniano não é capaz de penetrar na defesa russa, e a contraofensiva é um fracasso. Toda a cúpula de Kiev está a saber. Na outra ponta, a curva se inverte. Kiev informa que a verdadeira contraofensiva só começou agora, a segunda etapa depois de uma primeira eficiente e vitoriosa.
Todos sabem em Moscou. Não se sabe, porém, é o que leva a crer nos “momentos vitoriosos” do exército de Zelensky e como foi o sucesso da primeira etapa. As novas armas chegaram e já estão sendo exibidas e utilizadas? Alguém está a receber essas notícias e a avisar os russos o que acontece. Assim, uns informaram os outros.
A guerra não vai bem, mas todos acham que sabem tudo. Deu ou recebeu. informações. É grande a confusão informativa. Chegou a hora de Garrincha entrar em campo, analisou um comentarista que viveu no Brasil nos anos dourados do futebol brasileiro.
Gênio da bola, Mané Garrincha fazia coisas fantásticas em campo e se atrapalhava fora dele. Tinha apenas uma grande jogada. Só. Todos sabiam, mas ninguém conseguia detê-lo. Quando técnicos pediam para que mudasse, respondia “ok, mas já avisaram os russos?”, numa metáfora contra times fortes e desconhecidos.
E assim seguia o Mané fazendo sua jogada, inventando histórias. Os Manés da guerra se parecem, só que jogam com bombas. E matam. A Ucrânia atingiu a ponte na Criméia. Avisaram os russos? Vem aí retaliação (a primeira foi a suspensão do acordo que previa a exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro), que não requer aviso prévio. Mortos não mandam recados.
O CORREIO SABE POQUE VIU
Estava lá. O verão russo é curto e esplêndido. Na extinta União Soviética, era pura alegria, lembra o filósofo do Cerrado. Tudo em dois meses, porque coincidem com férias escolares e as Noites Brancas, fenômeno do clima com auge na hoje São Petersburgo, antiga Leningrado.
Não há truque: só um sol pirado e teimoso que insiste em não anoitecer. Meia noite? Tudo cinza-sombra com sol escondido; meia-noite e um quarto? Tudo cinza-luz com o sol a avisar que está de novo no cenário.
As cabeças registram, as sensibilidades idem. A cidade explode em música e outros eventos. Quem gosta, se esbalda; quem não gosta, sofre. “Mande esse sol dormir“, pedia a mãe com enxaqueca e sono, dentro de uma cabine de trem. Para os meninos, melhor do que sorvete de creme russo.
O dia normal terminara em problemas, embora tenhamos conhecido e convivido com Anatólio Gakh, brasileiro responsável por ter aberto a cadeira de português do Brasil na Universidade de Leningrado, sendo até perseguido por portugueses e russos lusófonos. Pois, uma pena: não deu liga. A professora brasileira, cultura vasta e timidez igual, não bateu com o colega.
Tudo foi acelerado: jantar, visita, espera no hotel, táxi, embarque, esse o único a manter horário e nele sair. Antes, bela historinha: já era época do câmbio livre, o paralelo a reinar. Dezoito horas, começa o ex-combatente a fechar a porta do museu da Guerra de Leningrado, cheio de relíquias.
A burocracia decretava: não tem choro, voltem amanhã. O mais velho tinha uma nota de um dólar, o mais novo, duas. A negociação foi rápida: dinheiro na mão, burocracia no chão. Aos risos que perduram, assim vimos a obra, dessas que não entram em programa turístico. Como se os russos não tenham ido à guerra. A Rússia já estava condenada.