REINALDO FUJIMOTO*
Poucas vezes se viu tamanha falta de liturgia no cargo, como no atual comando do Banco do Brasil, instituição centenária e que faz parte da história de milhões de brasileiros. Diuturnamente — em entrevistas, reuniões públicas ou fechadas e, agora, na nova modalidade das lives — assistimos a um desfile de lamúrias e a cantilena de que a empresa deve ser vendida.
Na mais recente manifestação, publicada no Correio Braziliense (edição de 18 de julho), o principal executivo da empresa questiona o modelo híbrido e vitorioso do Banco do Brasil. Ignora que, em quase três décadas — debaixo das mais adversas conjunturas econômicas, como a crise de 2008/2009 —, o BB conseguiu apresentar índices satisfatórios de eficiência operacional.
Além de exibir grandes números que atraem os investidores, o Banco do Brasil tem obtido pontuação máxima em indicadores de governança no âmbito dos órgãos de controle do governo federal. Conquistou, também, pontuação máxima no Índice Integrado de Governança e Gestão do Tribunal de Contas da União (TCU), como consta no Relatório de Administração 2019.
Causa apreensão a investida verbal do comando da empresa contra o Tribunal de Contas da União e as decisões tomadas relativas à publicidade do BB na internet, com indícios de investimentos em veículos inadequados. E mais: sem a devida transparência e prestação de contas.
Diga-se, de passagem, a política de comunicação das grandes corporações mundiais, em virtude de pressões de investidores e de organizações da sociedade, passa, atualmente, por uma revisão profunda do investimento nas plataformas das redes sociais. Ninguém quer arranhar sua reputação, muito menos estar associado a conteúdos violentos, falsos e promotores do ódio.
Lamúrias do presidente do BB
As lamúrias do principal executivo do BB embutem o desejo de desmontar, desfazer e rejeitar o que dá certo. Ano após ano, graças ao trabalho de seus funcionários, o BB gera excelente retorno para os acionistas. Sem considerar recolhimento de impostos, o Banco do Brasil alimentou o caixa da União com quase R$ 51 bilhões nos últimos 13 anos.
Apenas com o lucro de 2019, mais de R$ 17,8 bilhões foram distribuídos para o conjunto de acionistas privados e o Tesouro Nacional. Esvaziar o papel público do Banco do Brasil não vai proporcionar nenhuma solução consistente para as necessidades da sociedade neste momento.
Sobre a nova economia pós covid-19, inúmeros especialistas, inclusive de escolas de pensamento divergentes, têm sido unânimes em clamar por uma ação mais ativa do Estado neste momento específico, em que salvar vidas, em primeiro lugar, e economia andam juntos.
A covid-19 desafia a ciência e a economia. Para alargar os caminhos estreitos da economia, deve-se levar em conta, no caso brasileiro, a capacidade do Banco do Brasil em servir ao país com sua estrutura, pessoal qualificado, tecnologias modernas e ampla experiência no crédito, a missão principal de um banco público.
No escopo de soluções para a crise, é inegável refletir sobre o papel e o potencial dos instrumentos públicos de crédito colocados à disposição do Estado brasileiro. Destruir, desmontar, esvaziar é mais fácil. Sobretudo, quando se cultiva a ideia de que nada presta no Estado brasileiro. Existe esperança desde que o país tenha lideranças capazes de unir, construir e preservar o que dá certo.
*É presidente da ANABB — Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil.
Brasília, 10h36min