Por LUIZ RECENA GRASSI
A primeira notícia dramática desta semana foi dada pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, que garantiu a presença e o depoimento do presidente da Bielorrúsia, Aleksandr Lukashenko. Os dois secundados e garantindo a notícia: a Rússia poderá atacar a Ucrânia com arma estratégica. Na sobra, poderiam levar uns tiros estratégicos.
Tudo isso terá seu preço, inclusive a retaliação pelos estados da União Europeia e pelos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A tudo isso seguirão ações contra ultrapatriotas de uma guerra normal: a Alemanha mandou carros de combate Leopard-2 — 18 já chegaram, assim como três enviados por Portugal. Tanques do tempo da extinta URSS.
Outros aliados mandaram armas de treinamento e teve até um que reservou 2,5 bilhões de euros para pagar salários e, junto com outro país, estão acumulando balas e tiros a serem distribuídos a Ucrânia. A primeira tranche já saiu. Não chegou.
Para terminar, a Rússia foi indicada presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. É do jogo, embora uns e outros estejam choramingando. Veio um rastro de ódio, com a morte do blogueiro Vladlen Tatarsky, ligado e a grupos de combate na região do Dombass. Sobraram as palavras difíceis da Ucrânia e a Rússia. Danya Trepova, cúmplice, está na cadeia.
O COREIO SABE PORQUE VIU
Estava lá. No segundo verão, começaram os problemas. Polícias ganharam mais serviço. Este correspondente teve o apartamento violado. Passado o susto, contei o ocorrido a meus amigos russos. Pergunta: “Não passava nenhum carro de polícia?”. Passava. “E você não pediu ajuda? Seria tudo muito mais fácil”. Depois dos assaltantes imaginários atrás de cada árvore, de novo vem a cabeça: Eu pedir ajuda para a polícia, nunca, meu caro amigo!
Moscou, em agosto de 1988, era assim, as pessoas estavam acostumadas a recorrer à polícia quando precisavam de auxílio. Os tempos mudaram muito aceleradamente. Em outubro de 1991, meu apartamento foi assaltado. Levaram toda minha música, roupas e bebidas estrangeiras. Deixaram cinco garrafas de champanha soviética e uma de conhaque búlgaro. A champanha foi levada pelos policiais, o conhaque, pelo tenente que os comandava.
Naquele fim de semana, 32 apartamentos de estrangeiros foram visitados pelos amigos do alheio. Nada com a polícia moscovita. Os primeiros, no mesmo ano, tinham visitado meu automóvel duas vezes. Na primeira, levando os limpadores de para-brisas, na segunda, o rádio-toca-fitas.
Quanto à polícia, depois do golpe de Estado fracassado, da desorganização do abastecimento de viveres e aumento da inflação, passou a agir cada dia com mais desenvoltura, principalmente com os automobilistas, preferencialmente os estrangeiros, que transitavam com placas de cores diferentes.
Não precisava cometer nenhuma infração, pois eles mesmos se encarregavam de arrumar uma para a vítima. O negócio era tentar conversar, para pagar menos, abrir a carteira e mostrar que, embora estrangeiro, não tinha dólares, uma vez que a simples presença das verdinhas excitava e aumentava a mordida.
Os caucasianos cuidavam dos hortifrutigranjeiros. As outras repúblicas, da Geórgia e do Azerbaijão, por exemplo, por terem um clima muito mais quente, tinham mais produção de frutas e legumes do que as que enfrentavam mais tempo o rigor do inverno.
Os espertos, levavam o que podiam para Moscou e faziam a festa. Os preços obedeciam a uma dinâmica mercurial. Valia pechinchar. Brigar pelo preço fazia parte da cultura e, às vezes, não regatear, não pechinchar, quebrava a magia da transação comercial.