Arrocho maior, juros em queda mais rápida

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O governo anunciou um corte no Orçamento maior do que o desejado pelo Palácio do Planalto. Mas espera que o arrocho de R$ 42,1 bilhões seja diminuído nos próximos meses, se conseguir aval da Justiça para usar recursos vinculados a precatórios e, claro, se a recuperação da economia melhorar a arrecadação.

Do ponto de vista dos precatórios, que somam até R$ 8,7 bilhões e se referem a dívidas reconhecidas pela União, mas que não foram requisitadas pelos beneficiários, a confiança da equipe econômica em botar a mão no dinheiro é grande. Quanto à retomada do crescimento, as dúvidas são enormes. O ritmo da atividade continua muito fraco.

A expectativa do governo era de que, neste primeiro trimestre do ano, a economia estivesse rodando numa velocidade que sustentasse a projeção de crescimento de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB), prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Se tal previsão se confirmasse, o arrocho seria de, no máximo, R$ 20 bilhões, evitando o desgaste do presidente Michel Temer de ter que acabar com quase toda a desoneração na folha de salários num momento de desemprego recorde.

O maior temor do Palácio do Planalto é de que, com a economia patinando, a frustração de receitas seja maior do que o previsto, e, em vez de o corte de gastos diminuir, a equipe econômica seja obrigada a recorrer a aumento de impostos. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, diz que prefere não falar sobre hipóteses, inclusive de a arrecadação aumentar. Mas, entre seus subordinados, a elevação da carga tributária está no radar. E mais perto do que se imagina.

Munição aos críticos

Entre assessores de Michel Temer, o arrocho vai dar munição aos críticos do governo, pois muitos vão acusar o presidente de cortar verbas de áreas essenciais, como saúde e educação, o peso da tesoura usada por Meirelles poderá dar a coragem que está faltando ao Banco Central para acelerar ainda mais a redução da taxa básica de juros (Selic) na reunião de abril do Comitê de Política Monetária (Copom).

O consenso entre os investidores é de que a Selic cairá um ponto percentual, de 12,25% para 11,25% ao ano. Contudo, com a forte diminuição de despesas, a equipe econômica esta tirando de cena um importante foco de pressão sobre a inflação, que, se ressalte, está em queda livre. Assim, acreditam integrantes do Palácio do Planalto, o BC poderá ir além do que imagina o mercado, derrubando os juros em 1,25 ou mesmo em 1,5 ponto percentual.

“Com certeza, os modelos usados pelo BC para projetar a inflação e os juros não contemplam um corte tão forte de despesas do governo”, diz um dos assessores de Temer. Para ele, diante do anúncio feito por Meirelles e pelo ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, o Relatório Trimestral de Inflação que será liberado hoje pela autoridade monetária já estará defasado. “Não há como o BC ter feito projeções se o tamanho do arrocho no Orçamento foi definido pouco antes de seu anúncio”, acrescenta.

Impacto forte

O economista Carlos Thadeu Filho, da consultoria MacroAgro, ressalta que a perspectiva de um corte maior da Selic se fortalece ante a decisão do governo de não elevar impostos. “Se a carga tributária subisse, certamente haveria repasse para os preços e, consequentemente, para a inflação”, afirma. O impacto seria mais forte se a opção fosse por elevar a Cide, que incide sobre os combustíveis.

Ele acredita que os analistas vão rever, imediatamente, para baixo, as previsões de inflação para este ano. Na média, elas estão em 4,15%, inferior, portanto, ao centro da meta de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “Uma redução de 1,25 ponto na Selic em abril ficou muito mais plausível”, destaca Thadeu. Ele, por sinal, acredita que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrará 2017 entre 3,5% e 3,7%. “Nesse cenário, o corte de um ponto nos juros me parece bastante conservador”, conclui.

Brasília, 06h30min

Vicente Nunes