A torcida unânime no Planalto é por corte de um ponto percentual nos juros, de 13% para 12% ao ano, um movimento agressivo que teria força para levar muitos empresários a incrementarem os investimentos produtivos, vitais para uma retomada mais forte da economia. A aposta de assessores de Temer em um BC mais ousado foi reforçada pelo mercado futuro de juros. A taxa dos contratos com vencimento em janeiro de 2019 caiu, ao longo dia, abaixo de 10%, chegando a 9,98%.
O Planalto conta ainda com outro trunfo para quebrar os argumentos mais conservadores que prevalecem no BC: a divulgação, nesta terça-feira, da prévia da inflação oficial de fevereiro, o IPCA-15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As estimativas entre os assessores de Temer é de que o índice ficará entre 0,40% e 0,45%, inferior à média de 0,51% esperada pelos analistas privados. Se tal projeção se confirmar, será difícil para o Comitê de Política Monetária (Copom) sacramentar o que espera o grosso do mercado financeiro: queda de 0,75 ponto nos juros.
“Que fique claro: não há nenhum tipo de pressão do governo sobre o BC. O que está pesando sobre a instituição são fatos concretos, como uma queda muito forte da inflação”, diz um integrante do Planalto. “Desde pelo menos outubro do ano passado, a inflação vem surpreendendo para baixo. Mesmo o item educação, que, historicamente, empurra o custo de vida para cima em fevereiro, perdeu força. Tanto que estamos vendo a inflação de março rodando entre 0,20% e 0,25%”, acrescenta.
O que importa
Para Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Investimentos, há argumentos de sobra para o BC ser mais agressivo na redução da Selic. “O nível de atividade está muito fraco, não há consumo, a inflação vem caindo e as expectativas futuras para o custo de vida estão ancoradas no centro da meta, de 4,5%”, afirma. Ele ressalta ainda que os juros reais, que descontam a inflação acumulada nos últimos 12 meses (ex-post) e que realmente importam para a economia real, vem aumentando desde que o Copom começou a cortar a Selic.
Em outubro de 2016, quando a taxa básica cedeu 0,25 ponto, os juros reais ficaram em 6,1%. Em janeiro último, depois de mais duas reduções na Selic — uma, de 0,25; outra, de 0,75 ponto —, fecharam a 7,65%. “Isso mostra que os juros reais estão indo na contramão do desejo do BC, de dar um alívio monetário”, destaca Cardoso. Pelos cálculos dele, diante das previsões para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mesmo que o Copom diminua a Selic em 0,75 ponto em cada uma das quatro próximas reuniões, os juros reais ficarão em 6,3%, ou seja, acima do que estavam quando a taxa básica começou a cair.
Cardoso reconhece, porém, que, ante o histórico da atual diretoria do BC, de ótima reputação, por mais que haja espaço para uma queda de um ponto percentual na Selic, o mais provável é que o corte seja de 0,75. “É plausível, mas não muito comum, a autoridade monetária surpreender o mercado por duas reuniões seguidas do Copom. Em janeiro, a redução de 0,75 ponto pegou muita gente de surpresa. O mesmo ocorrerá se vier hoje uma diminuição de um ponto”, assinala o economista da Daycoval Investimentos. “Por isso, no meu cenário base, estou com a maioria do mercado.”
Pistas claras
Levando-se em consideração os contratos de juros no mercado futuro, a probabilidade de o Copom ser mais ousado e derrubar a Selic de 13% para 12% ao ano aumentou de 28% para 30% nos últimos dias. Para vários analistas, a leitura desses números é a de que, no comunicado pós-reunião, o Copom avisará que optou por reduzir a Selic em 0,75 ponto agora, mas discutiu a possibilidade de cortá-la em um ponto, o que poderá se concretizar em abril. “Talvez, o BC queira esperar um pouco mais de informação para avançar os passos”, frisa Cardoso.
O economista acredita que boas notícias no campo inflacionário estão por vir. Os preços dos alimentos no varejo vão continuar caindo, uma vez que têm apresentado recuo no atacado (produtores). Há muita chance de a Petrobras reduzir novamente os valores dos combustíveis em março, uma vez que o dólar está desabando. Sem demanda, os preços dos serviços perderam toda a resistência. “Certamente, o BC dará pistas mais claras do que fará em relação aos juros no relatório de inflação que será divulgado no fim de março”, diz.
Independentemente da decisão sobre a Selic que será divulgada hoje, Cardoso não tem dúvidas: a diretoria do BC liderada por Ilan Goldfajn tem credibilidade de sobra para conduzir a política monetária. Seria de bom tom, contudo, que o governo e o Congresso pavimentassem, sem atropelos, o ajuste fiscal por meio da aprovação de reformas importantes, como a da Previdência Social, de forma a dar sustentabilidade à dívida pública. O economista estima juros de 9,25% até o fim do ano.
Brasília, 06h02min