Após Copom, setor produtivo retoma pressões para mais cortes nos juros

ROSANA HESSEL

Após o Banco Central confirmar as expectativas do mercado financeiro de mais um corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic), nesta quarta-feira (20/3), e sinalizar que pode fazer reduções menores nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom),  entidades do setor produtivo reforçaram as pressões para que o Banco Central acelere ou mantenha o ritmo de afrouxamento da política monetária.

Após anunciar a decisão unânime do sexto corte consecutivo de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, o Copom informou que poderá manter o ritmo apenas na reunião do Copom de maio, pois deixou de usar o plural na sinalização futura (forward guidance) da política monetária.

Em nota, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, afirmou que a redução de 0,50 ponto nos juros básicos é insuficiente “e penalizará ainda mais a atividade econômica no Brasil”, prejudicando as empresas que precisam de financiamento de recursos junto ao mercado financeiro para realizar investimentos.

“A situação da inflação no Brasil já permite, há algum tempo, uma redução mais intensa dos juros reais. O Copom também tem que considerar em suas decisões o prejuízo que a elevada taxa básica de juros vem provocando à economia”, disse Alban, em nota. “A CNI entende que, mantido o cenário de inflação sob controle, é imprescindível uma aceleração no ritmo de redução da taxa Selic já na próxima reunião do Copom”, acrescentou.

O presidente da CNI lembrou que  Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi de 5,60% no acumulado em 12 meses até fevereiro de 2023, fechou em 4,50% nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2024, “ficando dentro do limite superior da meta de inflação para 2024, de 4,5%.

“Nesse cenário, é importante que o Banco Central compreenda a realidade brasileira e dê a sua contribuição para a tão necessária redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores. Sem essa mudança urgente de postura, fica mais difícil avançar na agenda de neoindustrialização, o que, consequentemente, anula oportunidades de mais prosperidade econômica para o país”, defendeu,.

Apesar de o Copom ter sinalizado corte de 0,50 ponto percentual na Selic apenas na próxima reunião, deixando em aberto o que pode acontecer nas seguintes, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) defendeu que o Copom mantenha o ritmo de redução da taxa de juros nas próximas reuniões.

“A Firjan pontua que a decisão do Banco Central de reduzir a taxa de juros já era esperada, porém ressalta que essa queda de 0,5 ponto percentual precisa ser mantida nas próximas reuniões do Copom, haja vista que a economia e, sobretudo, a indústria seguem sofrendo os efeitos da taxa ainda elevada”, ressaltou a nota da entidade. “O resultado negativo da produção industrial em janeiro reflete bem esse cenário. A continuidade do corte de juros também é justificada pela melhora em alguns indicadores inflacionários e pela redução nas expectativas, que sugerem uma dissipação da pressão de alta nos preços em diversos setores da economia”, acrescentou.

De acordo com a Firjan, os juros elevados restringem a capacidade produtiva e impactam a taxa de investimento do país. “No Brasil, a taxa de investimento encerrou o ano de 2023 em 16,5%, abaixo da média de muitas economias emergentes. Vale destacar, no entanto, que a continuidade na redução da taxa de juros precisa ser acompanhada de uma política fiscal responsável”, ressaltou a entidade. “Sem isso, não será possível atingir um ambiente de alto crescimento econômico, com pleno emprego e inflação controlada. Nesse sentido, é imprescindível o cumprimento das metas fiscais estabelecidas, fortalecendo o compromisso com a responsabilidade fiscal e a credibilidade do país”, completou a nota.