ROSANA HESSEL
Após o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, elevar a taxa básica da economia (Selic) de 13,25% para 13,75% ao ano ano e não fechar a porta para novas altas nos juros, o mercado já projeta uma Selic de, pelo menos, 14% no fim de dezembro.
O Banco Central iniciou o processo de aperto monetário em março de 2021, quando a Selic estava no piso histórico de 2% ao ano. A alta de 0,50 pontos percentual na Selic, anunciada nesta quarta-feira (03/08), ficou em linha com a maioria das apostas do mercado.
No comunicado, o Copom informou considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. “O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião”, destacou.
Para o economista-chefe da Necton Investimentos, que esperava uma alta menor na Selic, a nota do Copom foi “um balde de água fria nos participantes do mercado que imaginavam o fim do ciclo agora e está explícito no penúltimo parágrafo as intenções da autoridade monetária”. Ele elevou de 13,50% para 14,25% a estimativa para a taxa básica no fim do ano. “A autoridade monetária fala de ancoragem das expectativas e acredito que esteja falando do ano que vem”, disse Perfeito, que manteve em R$ 5 a previsão do dólar em dezembro porque “alta mais intensa na Selic consolida cenário de real mais forte”.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, também passou a esperar uma Selic mais alta do que a taxa de 13,75% estimada antes do Copom. “A decisão de alta de 0,50 ponto percentual era esperada pela maioria do mercado e tem duas leituras. A primeira, significa uma combinação da persistência dos choques inflacionários globais e a ideia é que os juros fiquem em um patamar elevado por um período maior, porque tem um cenário mais otimista do que o mercado. A estratégia é que o BC já começa a olhar para 2024 e entende que a convergência da inflação será mais lenta. A gente entende que o BC vai elevar a Selic para 14% em setembro e deverá manter nesse patamar até o fim do ano”, explicou.
Patrícia Pereira, estrategista-chefe da MAG Investimentos, assim como Padovani, aposta em alta na Selic de 0,25 ponto percentual na reunião de setembro do Copom. “Com um comunicado bastante inusitado, o Copom optou por dar ênfase à inflação acumulada em 12 meses no primeiro trimestre de 2024, onde os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias seriam suavizados”, disse. “Na minha opinião, o mercado achará essa opção bastante confusa e ruidosa, o contrário do desejado para ancoragem do mercado e redução de volatilidade. Sobre os próximos passos de política monetária, Banco Central sinalizou que avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, o que deve ser entendido como o fim do ciclo ou um último ajuste de 25 pontos-base na próxima reunião”, acrescentou.