Crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press. Homem olha engrenagens com cifrão. Crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press. Homem olha engrenagens com cifrão.

Apesar do fim da deflação, mercado mantém apostas de manutenção da Selic em 13,75%

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

A alta de 0,16% na prévia da inflação oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de outubro, divulgado, nesta terça-feira (25/10), pelo Instituto Brasileiro, não altera as apostas dos analistas de mercado para a manutenção da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75%. Segundo os especialistas, a  decisão dos diretores do Banco Central, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre hoje e amanhã, não deve mudar, mesmo com o IPCA-15 de outubro ter ficado acima das estimativas do mercado. O consenso previa alta de 0,09% em relação ao mês anterior.

 

Especialistas alertam que o núcleo de inflação continua elevado, com variações de 0,47%, no mês e de 9,79%, no acumulado em 12 meses. Com isso, o Banco Central precisará manter a Selic elevada por um período prolongado ao longo de 2023.  No acumulado em 12 meses, o IPCA-15 registrou alta de 6,85%, a menor variação nos últimos 18 meses. 

 

Graças às reduções de impostos sobre combustíveis, o IPCA registrou deflação entre julho e setembro, mas o consenso entre analistas é de que o período de queda no indicador acabou e o IPCA retorna para o campo positivo neste mês. “No geral, apesar das impressões negativas do IPCA de julho a setembro, impulsionadas por profundos cortes de impostos federais e estaduais, a redução nos preços da gasolina e, mais recentemente, a queda dos preços dos alimentos no domicílio, a dinâmica da inflação subjacente ainda é desafiadora, dadas as pressões ainda disseminadas sobre núcleo e inflação de serviços em um cenário de aperto no mercado de trabalho e grande estímulo fiscal adicional para o segundo semestre de 2022”, alertou Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, em relatório enviado aos clientes.

 

Na avaliação de Ramos, é provável que a inflação se torne inercial (pegajosa) devido à intensificação dos mecanismos retroativos de fixação de preços e salários, como a redefinição de contratos salariais incorporando ajustes de custo de vida. “Em suma, em nossa avaliação, o cenário desafiador de inflação atual e prospectiva e a sinalização agressiva dos principais bancos centrais garantem uma calibração conservadora da política monetária por um período de tempo razoável”, frisou.

 

O economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson, lembrou que alta de 6,85% no acumulado em 12 meses, ficou levemente acima do consenso do mercado, de 6,8%, mas marcou a menor taxa anualizada desde abril de 2021, mas reconheceu que a inflação, “na maioria das categorias, continua muito forte”. “Em sua última reunião, o Copom havia deixado a porta aberta para a retomada do ciclo de aperto, caso a evolução da inflação justificasse; mas claramente não é o caso. De fato, achamos que a taxa Selic ficará em 13,75% na reunião de amanhã do BC”, apostou. Ele ainda apostou que a política monetária permanecerá rígida até o próximo ano. “Acreditamos que o Copom será um pouco mais lento para cortar as taxas de juros no ano que vem do que o precificado atualmente nos mercados financeiros”, afirmou.

 

O economista e especialista em alocação de investimentos da Warren, Carlos Macedo, reforçou a aposta de manutenção da taxa Selic no Copom desta semana. “A surpresa do IPCA-15 foi puxada sobretudo por itens voláteis como alimentação e passagem aérea. Já os núcleos e serviços subjacentes vieram abaixo do consenso, o que é uma boa notícia para o Banco Central. Em resumo, o número cheio foi pior do que o qualitativo e não deve modificar o cenário base de manutenção da taxa de juros para a reunião do Banco Central amanhã”, destacou.