O dado do IPCA-15 de março a maior variação para o mês desde 2015, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado nesta sexta-feira (25/3). A mediana das estimativas do mercado era de alta de 0,86%. No acumulado em 12 meses até março, o indicador avançou 10,8%, dado também acima da mediana das projeções dos agentes financeiros, de 10,67%.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic de 10,75% para 11,75% ao ano, e sinalizou nova alta de um ponto percentual na próxima reunião, em maio, para 12,75%, mas, agora, com esse IPCA-15 acima das projeções, é provável que um aperto maior ocorra, de acordo com a Capital Economics.
“Enquanto o Banco Central deu sinais de que pode haver apenas mais um aumento de um ponto percentual na taxa de juros no atual
ciclo (para 12,75%), suspeitamos que o próximo aumento da inflação a leve a um pouco mais de aperto”, destacou William Jackson, economista-chefe para Mercados Emergentes da consultoria britânica, em relatório enviado aos clientes. Ele esperava 10,5% de alta acumulada no IPCA-15 e elevou de 11,75% para 13,50% a aposta para a Selic no fim do ciclo de aperto monetário diante da elevada disseminação da inflação entre os produtos pesquisados, pouco acima de 75%.
Ontem, durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu que não será possível cumprir a meta de inflação deste ano, de 3,5%, com limite superior de 5%. Resta saber se Campos Neto vai preferir mostrar que o BC é autônomo e desagradar o presidente Jair Bolsonaro (PL), elevando os juros e contratando uma recessão, ou preferir descumprir a meta ou mesmo alterá-la, como alguns analistas estão apostando também.
As estimativas do mercado para o IPCA deste ano não param de subir há 10 semanas. Conforme dados do boletim Focus, do BC, a mediana das projeções do mercado para a inflação oficial está em 6,59%. Já as projeções para a Selic no fim do ano estão em 13%. Arnaldo Lima, diretor de Estratégias Públicas do Grupo Mongeral Aegon (MAG), prevê a taxa básica encerrando o ano em 13,25%, acima da mediana do mercado.
Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, destacou que a despeito do choque nos preços que podem levar o IPCA no fim do ano para algo em torno de 8%, “o que exigiria uma Selic também superior a 13,5%”. Segundo ele, o aperto monetário será superior a 13% até junho.
“A alta de 0,95% no IPCA-15 de março surpreende um pouco e consideramos que reforça nossa estimativa de alta da Selic pós-Copom de maio. Estimamos com Selic até 13,5%, o IPCA superaria 7% em 2022. No exterior, recursos estão retornando para fundos globais de ações pós ajuste do conflito, mas ajuste técnico e volatilidade permanecem”, disse Velho. Pelos cálculos dele, há um teto para o IPCA de 7,32%, em 2022. “A Selic deveria atingir uma taxa superior à 13,75% para que a inflação não supere 7% “, reforçou.
Velho destacou que as diferentes medidas de núcleo do IPCA-15 acumulam altas entre 8% e 9% em 12 . “A perspectiva com os preços das commodities é de mais reajuste de administrados e inflação dos alimentos acima do esperado, a despeito da queda do dólar, inferior à R$ 5”, acrescentou.