Na avaliação dos empresários, não faz mais sentido o conservadorismo do BC na condução dos juros. Isso foi compreensível em outubro e em novembro do ano passado, quando a taxa básica caiu 0,25 ponto em cada uma das reuniões do Copom. Naquele momento, ainda havia muitas dúvidas sobre a velocidade da queda da inflação, que surpreendeu o presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn. Agora, porém, com a economia no limbo, se debatendo para recuperar as forças, e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caminhando para um nível abaixo do centro da meta, de 4,5%, não há porque manter os pés no freio. Uma redução de 0,75 ponto já não será suficiente para dar um gás na atividade.
Os empresários ressaltam que o pleito que será feito a Temer não deve ser entendido como pressão sobre o BC. Dizem que reconhecem a autonomia da instituição, mas alegam que devem colocar tal posição ao presidente da República, que precisa liderar o processo de recuperação da economia. Não se pode esquecer que Temer assumiu o comando do país em maio do ano passado em meio a uma grande expectativa de virada no ritmo da atividade. Na verdade, o que se viu foi o aprofundamento da recessão, independentemente do acerto das medidas adotadas e da confiança restabelecida pela equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
“Os juros precisam cair mais rápido. Quanto mais o BC demorar para levar a Selic para um dígito, maior será o custo para o país. Juros altos travam os investimentos e o consumo das famílias, duas das principais alavancas do PIB”, afirma o presidente de uma das maiores empresas brasileiras. Historicamente, a política monetária leva de seis a nove meses para surtir efeito. “Portanto, quanto mais rápido for o corte dos juros, mais rapidamente veremos os investimentos produtivos voltando e o consumo se aquecendo. Não há o que o BC temer. A recessão fez o jogo sujo de derrubar a inflação para baixo do centro da meta. Levará tempo para que a demanda exija uma política de juros mais restritiva”, complementa.
Pedras na Geny
Para Manuel Enriquez García, presidente do Conselho Federal de Economia, os empresários têm todo o direito de pleitearem juros mais baixos, mas não há como o BC agir de forma precipitada e irresponsável. O risco de se repetir os erros da gestão anterior é grande. No entender dele, a pressão do governo e do empresariado não deve ser sobre a autoridade monetária, mas sobre os bancos, que, mesmo com a Selic caindo desde outubro do ano passado, aumentaram as taxas cobradas de empresas e de consumidores. “O crédito precisa ficar mais barato. Nos níveis atuais de juros, com o setor produtivo e as famílias altamente endividadas e inadimplentes, ninguém quer saber de tomar empréstimos”, diz.
García assinala que há muita incerteza quanto à retomada da atividade produtiva. E as dúvidas não se restringem ao campo econômico. “Falta informação sobre o que acontecerá no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em relação à chapa que elegeu Dilma Rousseff e Michel Temer. Não se sabe como será o andamento das reformas no Congresso”, afirma. São muitas as perguntas: Temer terminará o mandato? As delações da Odebrecht vão minar o governo a ponto de destruir a unidade da base aliada no Congresso? As reformas da Previdência e trabalhistas sairão do jeito que é necessário para estancar o rombo fiscal e estimular a criação de empregos?
Na opinião de Tony Volpon, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, dúvidas à parte, todas as janelas estão abertas para a autoridade monetária cortar os juros em um ponto percentual. “Na verdade, já na última reunião do Copom, a Selic deveria ter caído mais do que 0,75 ponto”, destaca. Ele ressalta que o governo precisa ser mais pró-ativo para tirar a economia do atoleiro e não ficar culpando a administração anterior por todos os problemas que o país enfrenta. “Não há mais espaço para ficar batendo na Geny. É preciso agir”, complementa.
Brasília, 06h30min