ROSANA HESSEL
Depois de fazer declarações polêmicas em relação à desvinculação do salário mínimo à inflação, na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não divulgou a agenda desta segunda-feira (24/10), na contramão do que está previsto na Lei de Transparência. De acordo com a pasta, ele tem apenas reuniões “internas” e já falou muito nos últimos dias.
Coordenadores da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) não gostaram nem um pouco da fala do ministro, que “requentou” ideias da campanha anterior, como o plano 3Ds, que busca a desindexação, a desvinculação e a desobrigação de despesas do Orçamento e nunca avançou, como as privatizações. Guedes prometia, no início do governo, arrecadar R$ 1 trilhão com a venda das estatais federais.
“É claro que vai ter o aumento do salário mínimo e aposentadorias, pelo menos, igual à inflação, mas pode ser até que seja maior. Quando se fala em desindexar, as pessoas geralmente pensam que vai ser menos que a inflação, mas pode ser mais”, afirmou o ministro, na quinta-feira (19/10), a jornalistas no Rio de Janeiro, após participar de um evento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Turismo e Serviços (CNC).
O Ministério da Economia, no fim do dia, emitiu uma nota afirmando que a mudança da regra em estudo pela pasta não poderá causar danos à camada mais frágil da população. “O ministro Paulo Guedes afirma que o salário mínimo e as aposentadorias serão corrigidas, no mínimo, pelo índice da inflação, podendo inclusive, ter uma correção acima deste percentual. É falaciosa a informação de que o ministério pretende adotar medida que possa causar danos à camada mais frágil da população”, disse o comunicado. No dia seguinte, Bolsonaro foi obrigado a gravar um vídeo, negando que o salário mínimo não teria mais a correção da inflação.
A declaração do ministro de que a desindexação do o salário mínimo à inflação – uma obrigação prevista na Constituição para evitar perda do poder de compra do piso salarial – poderia permitir uma correção até maior do que a do índice do custo de vida não convenceu ninguém e provocou reações negativas nas redes sociais de forma generalizada.
Na avaliação do especialista em contas públicas Gil Castello Branco, secretário-geral da Associação Contas Abertas, é difícil acreditar que, ao desindexar o salário mínimo, será possível garantir ganho real, acima da inflação como promete Guedes. “Não é coerente dizer que vai aumentar o salário mínimo e, ao mesmo tempo, desindexar. Acho que ele está mais preocupado em colocar um elefante em uma gaiola”, destacou ele, citando as promessas de Bolsonaro que não cabem no Orçamento, e que variam de de R$ 140 bilhões até mais de R$ 200 bilhões, conforme algumas estimativas do mercado. “O país está em uma situação difícil. Os dois candidatos têm propostas que não cabem no Orçamento”, lamentou. “A despesa só cresce no discurso dos candidatos. Não sei como o mercado acha possível compatibilizar tudo, independente do resultado nas urnas”, emendou.