Acadêmicos criticam o “histórico sombrio” de Bolsonaro e a falta de respeito pelo planeta

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ROSANA HESSEL

Professores de universidades conceituadas dos Estados Unidos demonstraram preocupação com os retrocessos do Brasil em várias áreas, principalmente, na ambiental e de direitos humanos, e fazem coro sobre os riscos que corre a democracia na maior economia latino-americana. O “histórico sombrio” do presidente Jair Bolsonaro e a falta de respeito pelo planeta são alguns dos principais problemas apontados pelos acadêmicos que assinaram um dossiê enviado à Casa Branca, na manhã desta quinta-feira (04/02). O documento, inclusive, recomenda ao presidente dos EUA, Joe Biden, congelar os acordos e as negociações que estavam sendo realizados pelo ex-presidente Donald Trump com o governo o mandatário brasileiro.

Em entrevistas ao Blog e ao Correio, vários especialistas reconheceram que é difícil apontar um único problema de Bolsonaro, que já defendeu publicamente torturadores da ditadura militar.   “Acho que, internacionalmente, o problema mais saliente do atual governo brasileiro é seu histórico sombrio no que diz respeito ao meio ambiente”, destacou Sidney Chalhoub, professor de História da Universidade Harvard.

“É difícil para mim mencionar apenas um desafio ou mesmo identificar o maior problema do governo Bolsonaro, porque os danos são muito abrangentes. Uma falta generalizada de respeito pelo planeta, pelos direitos humanos e uma falha no atendimento das necessidades mais básicas da população permeia o governo brasileiro e suas políticas, impactando a dignidade humana e o respeito pela população do país”, apontou Erika Robb Larkins, professora da Universidade de San Diego, na Califórnia (EUA).

Larkins e Chalhoub estão entre os acadêmicos e representantes de Organizações Não-Governamentais (ONGs) que assinaram um documento de 31 páginas encaminhado a Binde e a autoridades norte-americanas. Denominado “Recomendações sobre o Brasil ao presidente Biden e ao novo governo”, o dossiê,  elaborado pela Rede dos Estados Unidos para a Democracia no Brasil (USNDB), aponta os principais problemas e retrocessos da gestão Bolsonaro em diversas áreas e também mostra preocupação com o desmantelamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

James Green, professor de História do Brasil da Brown University, por exemplo, avaliou que Bolsonaro está se tornando um grande inimigo global. André Pagliarini, professor do Programa de Estudos Latino-Americanos do Dartmouth College, afirmou que a agenda econômica de Paulo Guedes é deletéria.

“Retórica inflamada”

Sidney Chalhoub lamentou o discurso do presidente Jair Bolsonaro e sua “retórica inflamada contra a ciência e as mudanças climáticas”. “O desmantelamento de agências e políticas ambientais, a aceleração do desmatamento e a crescente vulnerabilidade das populações indígenas, todos esses fatores combinados, prejudicaram a imagem do país no exterior de formas difíceis de reverter a curto prazo”, explicou.

O historiador da conceituadíssima Universidade Harvard contou que a preocupação com a democracia nos Estados Unidos foi decorrente das estratégias do ex-presidente Donald Trump para minar o processo eleitoral, que acabou culminando na invasão de integrantes da extrema direita ao Capitólio, sede do parlamento norte-americano. Para ele, esses fatos devem fazer com que a atual administração dos EUA deverá prestar cada vez mais atenção à democracia e ao Estado de Direito internacionalmente. “O presidente brasileiro já está imitando Trump ao sinalizar a alegação infundada de que haverá fraude eleitoral na eleição presidencial de 2022. Este é outro movimento que tenderá a isolar o Brasil no exterior”, argumentou Chalhoub.

Na avaliação do historiador, a carta que Bolsonaro enviou tardiamente a Biden cumprimentando pela vitória nas urnas não deve apaziguar os atritos entre ambos que ocorreram durante a campanha eleitoral. “É difícil acreditar que tal estratégia do governo brasileiro funcione. A continuidade da cooperação entre os atuais governos dos dois países depende de uma mudança significativa nas políticas brasileiras nas duas áreas mencionadas acima. É difícil ver isso chegando”, frisou.

Procurado, o Palácio do Planalto não comentou sobre o documento assinado por acadêmicos e representantes de organismos não-governamentais (ONGs). Nesta sexta-feira (05/02), o Ministério das Relações Exteriores respondeu dizendo que não iria comentar. “O Itamaraty não fará comentários a respeito do dossiê, tendo em vista tratar-se de documento com recomendações de entidades não-governamentais e de ativistas políticos, dirigidas a governo de outro país, que não se manifestou sobre o tema”, informou a pasta.

Atenciosamente,
Vicente Nunes