O Brasil mergulha hoje na folia do carnaval ciente de que o que lhe espera na quarta-feira de Cinzas é uma realidade desanimadora. Além dos dois fantasmas que estão à espreita, prontos para botar o bloco na rua — o desemprego e o racionamento de energia elétrica e água —, os consumidores vão se deparar com uma inflação de quase 7,5%, contas de luz com novo reajuste, dólar caminhando para os R$ 3 e impostos (IPVA e IPTU) bem maiores do que o imaginado. A ressaca da festa de momo se somará à dor da parte mais sensível do corpo, o bolso.
O governo recorreu, o quanto pôde, ao ilusionismo na economia. Segurou tarifas públicas para manter a inflação dentro das metas, gastou sem qualquer critério e abusou na adoção de medidas inconsistentes para criar uma falsa sensação de que tudo estava bem. Acreditou que, com base no marketing, conseguiria manter o controle da situação. O samba desafinado dos quatro últimos anos resultou, porém, em uma fatura pesada. E ela será paga pela parte mais frágil do processo, a população. Não há outra alternativa.
Entre os assessores da presidente Dilma Rousseff, o discurso é de que o carnaval será importante para esfriar os ânimos, permitir ao governo juntar os cacos e partir para o ataque, mesmo que, do ponto de vista econômico, o pior ainda esteja por vir. O Palácio do Planalto acredita que, se conseguir restabelecer pontes com o Congresso e convencer a base aliada, sobretudo o PT, da importância dos ajustes propostos pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para arrumar a casa, terá fôlego para lidar com a pressão popular que tende a crescer à medida que a recessão mostrar as garras. “Não dá para continuarmos fragilizados nas duas pontas, na política e na economia”, reconhece um auxiliar palaciano. “Então, vamos tentar pelo menos recompor a nossa base aliada”, emenda.
Técnicos da equipe econômica torcem, contudo, para que, no retiro de carnaval, na Bahia, Dilma admita o tamanho do problema que tem pela frente. De nada adiantará articulações do ex-presidente Lula ou de aliados para reverter o pessimismo que minou o país, se a chefe do Executivo insistir em meter os pés pelas mãos. Com menos de 40 dias de segundo mandato, o atual governo está com cara de velho, de fim de festa. E só Dilma, ninguém mais, será capaz de reverter esse quadro.
Na avaliação da economista Mariana Hauer, do Banco ABC Brasil, teremos, pela frente, um processo penoso. “A recessão já está dada. O que resta saber é a intensidade dela. Mas tudo leva a crer que (o tombo no Produto Interno Bruto, PIB) poderá ser de mais de 2% se tivermos racionamento de energia e água”, diz. Em relação ao dólar, a discussão não é se chegará aos R$ 3, mas quando. Ela ressalta que, apenas para fechar as contas externas — que apontam um buraco de US$ 90 bilhões — o país precisa de US$ 30 bilhões de especuladores. A obtenção desses recursos não seria problema se o Brasil ainda ostentasse o título de “queridinho”. Infelizmente, está na lista dos desafetos do capital.
Mariana ressalta que o escândalo da Petrobras tende a reduzir, em pelo menos US$ 15 bilhões, a captação de recursos no exterior. Esse era o montante esperado da contribuição que a estatal daria ao financiamento do país. Mas todas as portas estão fechadas à companhia, diante da corrupção que destruiu o caixa dela e jogou a imagem do Brasil no limbo. Assim, restarão três alternativas: atrair mais capital especulativo, o Banco Central vender reservas internacionais ou o dólar disparar para fazer o trabalho sujo do ajuste nas contas externas.
Pelo que indicou o governo até agora, a aposta é de que, com os juros nas alturas — 12,25% ao ano —, os estrangeiros se sentirão confortáveis para despejar recursos no país. Mas é preciso cautela. Com a recuperação da economia dos Estados Unidos, a tendência de valorização da divisa norte-americana ante as demais moedas do mundo é natural. E, com o mercado de trabalho se fortalecendo nos EUA, o Federal Reserve (Fed) deve elevar as taxas de juros em junho próximo, atraindo parte dos recursos que hoje irrigam os países emergentes. Com essas forças monumentais se colocando no meio do caminho, ficará difícil para o Brasil seguir na direção mais fácil.
Trabalho sem comunicação
» A disputa pela comunicação do Ministério do Trabalho virou uma guerra judicial. No fim de julho do ano passado, a empresa que venceu o processo seletivo, ao oferecer o menor preço, apresentou problemas de documentação, só solucionados após o prazo previsto em edital. A segunda colocada foi, então, declarada vencedora. Mas liminar obtida pela firma desclassificada travou o negócio. A briga envolve contrato de R$ 6,4 milhões por ano.
Processo parado no Ministério Público
» Diante do impasse, o Ministério Público Federal (MPF) emitiu parecer compreendendo que a empresa que perdeu o prazo para apresentar a documentação não pode assumir no Ministério do Trabalho. O caso está no gabinete do desembargador federal Daniel Paes Ribeiro, que ainda não analisou parecer da Advocacia-Geral da União (AGU).
Parceria de R$ 46 milhões
» A Unisys e o Banco de Brasília (BRB) renovaram contrato na área de tecnologia por mais três anos. Os serviços prestados pela gigante internacional custarão R$ 46 milhões.
Brasília, 00h01min