A BRAVATA DOS JUROS

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A presidente Dilma Rousseff se especializou em bravatas no primeiro mandato. E, sem exceção, meteu os pés pelas mãos em todas elas. No próximo 1º de maio, completará três anos que a petista declarou guerra aos juros altos. Num discurso exaltado, disse que não toleraria mais os bancos cobrarem tão caro pelos empréstimos concedidos aos trabalhadores. Ela não sossegaria enquanto o custo do dinheiro não caísse para níveis civilizados.

Pois bem. Nem os bancos públicos obedeceram às ordens presidenciais. A Caixa Econômica Federal, que ontem elevou, pela segunda vez no ano, os juros da casa própria, praticamente triplicou a taxa média do cheque especial desde a bravata de Dilma. No fim de abril de 2012, conforme levantamento do Banco Central, a Caixa cobrava, em média, 62,80% ao ano dos consumidores que entravam no especial. Agora, são 152,57% anuais. No mesmo período, o Banco do Brasil subiu os encargos médios do cheque especial de 151,14% para 185,60% ao ano.

A alta dos juros se deu em todas as linhas de crédito oferecidas pelos bancos, públicos e privados. Nos empréstimos pessoais, as taxas médias passaram de 79,14% para 107,02% ao ano no Bradesco. Os clientes do Banco do Brasil estão pagando 60,80% anuais contra os 42,10% registrados em abril de 2012. No cartão de crédito, citado como o principal alvo de Dilma, há instituições, como a francesa Cetelem, cobrando juros de 860,19% ao ano. No HSBC, as taxas médias são de 424,61%. Três anos atrás, o BC não se preocupava em dar publicidade aos encargos do dinheiro de plástico, mesmo diante de todos os abusos cometidos pelas instituições financeiras.

Na avaliação de Gustavo Morelli, diretor da Consultoria Macroplan, o comportamento das taxas cobradas pelos bancos mostra que não se pode baixar juros por decreto. Para que os encargos financeiros caíam, é preciso que o governo controle a inflação e dê maior previsibilidade à economia. O custo de vida acumulado em 12 meses está acima de 8%, o que não se vê desde 2003, início do governo Lula. Por mais que o BC diga que a inflação está sob controle e vai cair nos próximos meses, poucos acreditam. Os empresários preferem fazer remarcações preventivas, mesmo que isso resulte em vendas menores.

A desconfiança do empresariado está baseada no comportamento do BC no primeiro mandato de Dilma. Logo depois da declaração de guerra dela aos juros altos, a autoridade monetária pisou no acelerador em derrubou a taxa básica (Selic), mesmo com a inflação resistente. De abril a outubro de 2012, a Selic caiu de 9% para 7,25% ao ano, o nível mais baixo da história. A realidade, porém, se impôs. E o Comitê de Política Monetária (Copom) teve de puxar novamente a taxa básica para cima. Tanto que ela está hoje em 12,75% e deverá saltar para 13,25% ao ano no fim desde mês, às vésperas do 1º de maio.

O mais assustador foi que Dilma enganou os consumidores e os estimulou a se endividarem, vendendo um país de conto de fadas. Atualmente, de cada R$ 100 da renda das famílias, R$ 46 estão sendo destinados para o pagamento de débitos. Esse comprometimento recorde dos salários com dívidas ocorre justamente num momento em que o desemprego dá as caras. Num país sério, Dilma poderia ser acusada de propaganda enganosa.

Risco de R$ 117,2 bi ao Tesouro

» O projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016, encaminhado pelo governo ao Congresso, mostra que os processos enfrentados pela União podem custar R$ 117,2 bilhões ao Tesouro Nacional. Desse total, a maior parte, R$ 102,8 bilhões, se refere a subsídios à casa própria.

Fantasmas da era Collor

» O mesmo projeto explicita que as estatais extintas durante o governo Collor, entre 1990 e 1992, ainda são um fantasma para os cofres públicos. Os passivos contabilizados até agora chegam a R$ 7,3 bilhões. Ou seja, não faltam esqueletos para sair do armário.

Brasília, 15h10min