O novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, diz não gostar de rótulos e de estereótipos e garante que o governo aprendeu com os erros do passado, ao se referir à tal nova matriz econômica que vigorou no primeiro mandato de Dilma Rousseff e empurrou o Brasil para a mais profunda recessão em quase quatro décadas. No primeiro discurso como comandante da equipe econômica, assegurou que o ajuste fiscal é a maior das prioridades do governo.
É difícil acreditar nas palavras de Barbosa, dado seu histórico como defensor de políticas desastrosas que trouxeram de volta a inflação e o desemprego. Como secretário executivo da Fazenda, nos quatro primeiros anos do governo Dilma, formulou políticas de subsídios que estraçalharam as contas públicas e participou das pedaladas fiscais que deram base ao pedido de impeachment da presidente da República. Se condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pode ser proibido de exercer cargo público.
Barbosa é uma metamorfose ambulante. Neste ano, quando assumiu o Ministério do Planejamento, apresentou um discurso muito afinado com seu antecessor na Fazenda, Joaquim Levy. Aos poucos, porém, foi mostrando sua real face, a de um economista não muito comprometido com o equilíbrio das contas públicas. Sob o argumento de que o ajuste fiscal não deveria ser tão rigoroso, a ponto de comprometer o crescimento econômico, passou sistematicamente a bombardear as propostas de Levy. E não precisou de muito esforço para convencer Dilma a embarcar em suas aventuras.
As investidas de Barbosa, no entanto, só contribuíram para agravar a crise econômica. Ao enviar ao Congresso uma proposta de Orçamento de 2016 com deficit de R$ 30,5 bilhões, ele apressou a perda do selo de bom pagador do país pela Standard & Poor’s (S&P). No início da semana, convenceu a chefe a reduzir a meta fiscal proposta por Levy para o ano que vem, de 0,7% para 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), com possibilidade de o resultado ser zerado depois de uma série de abatimentos. Foi a vez da Fitch de rebaixar o país para o grupo de países considerados lixo.
O novo ministro da Fazenda, por sinal, não descarta adotar, a partir de 2017, o sistema de bandas para as metas fiscais. Afirma que, no ano que vem, seguirá à risca o que determinou o Congresso, que fixou o superavit primário em 0,5% do PIB, mas proibiu os abatimentos. Nos anos seguintes, entretanto, tudo pode acontecer. Barbosa está convencido de que esse é o melhor modelo para acomodar as frustrações de receitas e a necessidade de o governo ampliar os gastos para incentivar setores específicos com o intuito de estimular o crescimento econômico.
Replay de Mantega
Barbosa na Fazenda é a volta da velha Dilma. Por mais que ele diga o contrário, a política econômica que prevalecerá daqui por diante será muito parecida com a que se viu entre 2011 e 2014, cujos estragos estão custando caro ao país. O novo chefe da equipe econômica será apenas o executor do que a presidente definir. E ela já disse que cederá aos pleitos dos movimentos sociais que pedem uma política fiscal mais flexível. A petista precisa, desesperadamente, desses movimentos para ocupar as ruas contra o impeachment.
Não por acaso, muitos dentro do governo já consideram Barbosa o replay de Guido Mantega, que nunca teve voz ativa, apenas colocava em prática o que a chefe definia. Mas o sucessor de Levy está disposto a desempenhar esse papel de subserviência. Para ele, o mais importante é desfrutar do poder, de ocupar a cadeira com a qual tanto sonhou e desejou. “De início, Barbosa reforçará o compromisso com a responsabilidade fiscal, até para acalmar os ânimos dos investidores. Mas bastará Dilma exigir uma intervenção mais forte do Estado na economia para a máscara cair. É do jogo”, diz um dos poucos ministros que defendiam a permanência de Levy na Fazenda como contraponto às loucuras do Palácio do Planalto.
Se Dilma não mudou até agora, com a economia em frangalhos e o fechamento de 1,5 milhão de vagas com carteira assinada nos últimos 12 meses, não será agora, com Barbosa abaixando a cabeça para tudo, que será diferente. O resultado, todos podem esperar: aumento da desconfiança, decepção com o fiscal, dívida pública nas alturas, mais demissões e a necessidade de o Banco Central elevar a taxa básica de juros (Selic) além do desejado para evitar o descontrole da inflação. E mais: a recessão, que já destruiu 2015, se aprofundará em 2016 e tem tudo para comprometer 2017.
Dilma e Barbosa formam a dupla perfeita. Pensam da mesma forma. Acreditam que o governo pode tudo. Enquanto os dois se encarregarão de formular e executar a nova política econômica, ou a velha matriz econômica, o Brasil caminhará ladeira abaixo, empurrando o futuro para depois, comprometendo a vida de gerações que tinham tudo para tirar proveito de um país próspero e menos desigual. Os oito anos de governo de Dilma têm tudo para ser as trevas. E não há nenhum exagero nisso.
Foi o que restou
» Para os técnicos da Fazenda, a escolha de Nelson Barbosa como sucessor de Levy foi a pior opção de Dilma. Mas todos reconhecem que, diante do que está por vir e do que foi feito com o ex-ministro, seria um milagre alguém mais conceituado ir para o sacrifício.
Brasília, 08h30min