Os brasileiros que moram em Portugal nem de longe sofrem a xenofobia enfrentada por indianos, paquistaneses, nepaleses e cidadãos oriundos de Bangladesh. Esses são, atualmente, os grande alvos de preconceitos no país europeu.
Em qualquer conversa com portugueses sobre xenofobia, o comentário é sempre o mesmo: “Os brasileiros a gente até gosta, mas não dá para aturar indianos, paquistaneses, muçulmanos e aquele povo da Ásia, que vive em bandos”.
A xenofobia é tão grande em relação a esses grupos étnicos, que vários portugueses se recusam a andar em carros de aplicativos se os motoristas tiverem nomes de indianos, árabes e de outras nacionalidades que remetam à Ásia. As corridas são canceladas.
Em Lisboa, esses imigrantes ocupam, sobretudo, a região de Martins Moniz, área que os portugueses dizem não pertencer mais a eles. “Aquilo se transformou em um antro de gente que não respeita a nossa cultura”, afirma um português ao Blog.
Desejo pela cidadania europeia
Muitos dos indianos, dos paquistaneses e dos cidadãos de Bangladesh chegaram a Portugal inebriados pela promessa de emprego fácil. Não por acaso, eles são as maiores vítimas de exploração de mão de obra e de tráfico de seres humanos em território luso.
Mas, na leva atual de imigrantes asiáticos que tem desembarcado em Portugal, o principal objetivo é obter a cidadania portuguesa para poder transitarem livremente pela União Europeia. Por isso, se submeter a tantos sacrifícios e humilhações.
Ao Blog, um paquistanês de 43 anos, que trabalha como motorista de aplicativo, disse que chegou a Portugal há um ano vindo da Escócia, onde viveu por oito anos. Lá, ele tentou por três vezes obter a cidadania escocesa, mas, em todas as oportunidades, o benefício foi negado, mesmo sendo dono de um comércio, gerando empregos e renda no país.
Agora, ele e a mulher ficarão cinco anos em Portugal certos de que, depois desse período, poderão conquistar a tão sonhada nacionalidade europeia. “A lei diz que é assim: depois desse tempo, a cidadania é concedida”, frisa o paquistanês.
Nem ele nem a mulher falam português. E isso se repete entre a maioria de indianos, nepaleses e outras nacionalidades que, mesmo vivendo há anos em terras lusitanas, se recusam a aprender a língua local. Alegam que o português é muito difícil.
Explorados e jogados na sarjeta
Em conversa recente com jornalistas estrangeiros, o prefeito de Lisboa, Carlos Moedas, afirmou que a situação desses imigrantes é terrível. Alguns chegam a viver em uma casa com até 20 pessoas, sem o mínimo de dignidade.
Segundo Moedas, a prefeitura, com apoio da Santa Casa de Misericórdia, tem socorrido esses imigrantes, pois muitos estão passando fome e chegam a viver nas ruas.
Para o prefeito, entre os estrangeiros que moram em Portugal, os brasileiros são os que menos passam aperto, devido à ampla comunidade construída no país ao longo de anos. Acaba prevalecendo uma certa solidariedade.
“A imigração desses grupos oriundos da Ásia é mais recente, não têm laços de amizade nem familiares em Portugal”, ressaltou Moedas, o que torna a vida de todos mais complicada.
O prefeito reclamou de empresários portugueses que empregam estrangeiros por alguns meses na lavoura e, depois de concluídas as safras, despejam os trabalhadores em Lisboa, na sarjeta, sem o mínimo de assistência.