A real de Portugal: fome e falta de moradia marcam fim de ano de brasileiros

Publicado em Economia

Não foi fácil a vida de muitos brasileiros que moram em Portugal neste fim de ano. Sem dinheiro suficiente para garantir uma vida digna, muitas famílias enfrentaram a fome e a falta de uma moradia digna. A situação só não foi pior, devido à ajuda das igrejas e da Santa Casa de Misericórdia, que ofereceram cestas com alimentos e brinquedos e abrigo.

 

Fundador da Adonai Church, o pastor Fabrizio Santos estendeu, neste fim de ano, as mãos para cinco famílias, com dois ou três filhos cada. Com a ajuda de fiéis, muitos assalariados, ele conseguiu comprar alimentos, roupas e brinquedos para esses brasileiros que se mudaram para Portugal certos de que teriam uma vida melhor que no Brasil.

 

“Muitas dessas pessoas foram enganadas por vídeos de youtubers, que vendem uma imagem totalmente equivocada de Portugal. Essas famílias não se prepararam para mudar de país e chegaram acreditando que, com poucos recursos, poderiam viver bem. São pessoas menos instruídas e com pouca qualificação profissional”, conta o pastor.

 

Pastor Fabrizio Santos ajuda brasileiros em Portugal

 

Suporte emocional às famílias

 

Além do suporte econômico, a igreja evangélica também deu apoio psicológico às famílias, devastadas pela decepção que tiveram com a realidade de Portugal. “Em 2016, quando cheguei ao país, com 100 euros (R$ 550), enchia-se um carrinho e meio com as compras de supermercado. Hoje, com a mesma quantia, os produtos não ocupam nem meio carrinho”, afirma Santos.

 

Mas é na questão da moradia que reside o maior problema para os brasileiros, acredita o pastor. “Na Cova da Piedade, bairro de Almada onde moro, o aluguel de um quarto para um casal está custando 500 euros (R$ 2.750). É muito num país em que o salário mínimo é de 820 euros (R$ 4.510). O aluguel de um apartamento de um quarto no mesmo bairro sai por 700 euros (R$ 3.850)”, diz.

 

Segundo o pastor, na Adonai Church, que funciona na Charneca da Caparica, também em Almada, não há discriminação em relação aos brasileiros que necessitam de ajuda. “Não queremos saber qual é a religião das pessoas, se são evangélicas, católicas, umbandistas, muçulmanas. O que importa é ajudar a todos os que estão precisando”, ressalta.

 

Quadro pior que na pandemia

 

Na Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, os pedidos de ajuda não param de crescer, inclusive por parte de brasileiros, que acabaram ficando nas ruas. Sem documentação adequada, esses cidadãos se submeteram a trabalhos indignos, foram explorados ao máximo e, depois, jogados à própria sorte. Nem mesmo durante a pandemia a instituição viu tanta gente precisando de ajuda.

 

O pastor Fabrizio diz que gostaria de poder fazer mais pelos brasileiros que enfrentam dificuldades em Portugal, mas faltam recursos, uma vez que a igreja dele não tem vínculos com nenhuma instituição evangélica no Brasil. “Tudo o que recolhemos para ajudar quem precisa vem de doações de nossos fiéis, que são trabalhadores”, assinala.

 

Um dos projetos que está à espera de recursos prevê a construção de três casas, com sala, quarto, cozinha e banheiro, para abrigar os mais necessitados. “A ideia é que as famílias acolhidas ocupem esses imóveis sem pagar nada até que estruturem a vida e possam caminhar com as próprias pernas. Vamos ver se conseguimos tirar essa proposta do papel”, diz.