Todos de olho na reforma da Previdência

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DEBORAH FORTUNA E ROSANA HESSEL

A aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso vai fazer toda a diferença para o crescimento de 2019 e para os anos seguintes. Embora as mudanças nas aposentadorias tenham efeitos mais nítidos a longo prazo, a chancela do Congresso vai melhorar a confiança na sustentabilidade das contas públicas, resultando em reflexos imediatos nos investimentos e no fluxo cambial.

Com o adiamento da votação da reforma na Câmara para fevereiro, a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, evita até mesmo elevar as projeções para 2018 e mantém a taxa de expansão em 2,8%. Para ela, a postergação coloca em dúvida o processo de retomada, porque a proposta de mudanças no sistema de aposentadorias será ainda mais desidratada do que a atual.

“As chances de não aprovação existem. O risco é alto e, por isso, mantivemos nossas premissas para 2018. Se o governo não resolver o problema fiscal, não há como manter nossas previsões do cenário otimista e veremos a dívida pública chegando a 110% do PIB em 2027, pelas nossas estimativas”, avisa.

As preocupações são compartilhadas por outros observadores.“A gente não tinha no cenário a aprovação da reforma da Previdência em 2017, e sim, em 2018. Em 2019 vai ser mais difícil cumprir o teto de gastos. Os ajustes que precisam fazer sem reformas chegou a R$ 30 bilhões”, alerta o economista Pedro Schneider, do Itaú Unibanco, lembrando que a instituição está com previsão de crescimento do PIB em 3% em 2018, “mas com viés de baixa”.

Rosana Hessel/CB/D.A Press

“Se o governo não resolver o problema fiscal, não há como manter nossas previsões do cenário otimista e, fatalmente, veremos a dívida pública chegando a 110% do PIB em 2027, pelas nossas estimativas”
Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria

Comprometimento

Pelas contas do especialista em contas públicas do Itaú Unibanco, se a reforma da Previdência for aprovada, a economia do setor público será de R$ 14 bilhões para o setor público em 2018. “Como 90% dos gastos são obrigatórios e crescem automaticamente, o governo não tem escolha de gastar ou não. Nesses outros 10%, em que estão os investimentos, será preciso um ajuste de R$ 30 bilhões”, avisa ele, reconhecendo que a cada novo corte no orçamento, o crescimento da economia fica comprometido.

Evandro Buccini, economista da Rio Bravo, avisa que os candidatos à Presidência precisam reconhecer desafios de longo prazo, como educação e envelhecimento da população. “Quem assumir vai ter que fazer uma nova reforma da Previdência, porque a que está aí é muito tímida. Os bebês nascidos a partir de 2019 vão ter um novo regime pela frente e precisarão poupar bem mais para se aposentar”, conclui.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o otimismo pode sobreviver mesmo sem reforma. “A Previdência é importante, mas não determinante. Há outras variáveis acontecendo.”, destaca. Entretanto, ainda que o texto da Previdência não seja definitivo para os avanços em 2018, poderia acelerar o crescimento. “Se a reforma não for feita, transfere-se um risco maior a médio e longo prazos, e isso acaba afastando investimentos. A reforma pode acelerar. Freiá-lo é difícil”, observa.

Vicente Nunes