Análise do mercado de trabalho indica sinais de recuperação no emprego e de preocupação com a faixa etária da massa de empregados
A recuperação do mercado de trabalho, embora ainda com indícios difusos, começou pelo comportamento dos salários. Os ganhos iniciaram uma trajetória de aceleração, com alta de 1,4% entre o trimestre encerrado em fevereiro, depois de apresentar uma queda de 4% no segundo trimestre de 2016, de acordo com a Carta de Conjuntura, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os pesquisadores Maria Andréia Parente Lameiras e Sandro Sacchet de Carvalho são os responsáveis pelo estudo, que traz, ainda, uma análise inédita do mercado de trabalho por sexo, idade e escolaridade, entre outros recortes, a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD Contínua), do IBGE.
Por faixa etária, o contingente de trabalhadores com mais de 59 anos foi o único que registrou crescimento do índice de emprego, com alta de 1,1%, o único segmento a apresentar variação positiva no ano passado. Os trabalhadores com idade entre 25 e 49 anos, que correspondem a 62% de toda a população ocupada, tiveram, por sua vez, uma redução de 1,4% em 2016. Na análise dos pesquisadores, a força de trabalho brasileira vem, portanto, sofrendo alteração em seu perfil: está se tornando mais idosa e instruída, devido à acelerada transição demográfica brasileira e a uma série de políticas de aumento do acesso à educação iniciadas na década de 1990.
Rendimentos
Pelo lado dos rendimentos, a expectativa é de continuidade deste movimento recente de recuperação salarial, possibilitado, em parte, pelo recuo da inflação. Mesmo que de forma moderada, a conjunção da expansão dos rendimentos reais, atrelada à melhora de comportamento da população ocupada, deve impactar positivamente o comportamento da massa salarial, gerando incentivos à retomada do consumo das famílias, conclui a análise.
Desemprego
Se, por um lado, a taxa de desemprego atingiu 13,2%, na média, entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017, por outro já há uma desaceleração no ritmo de contração da população ocupada, graças à expansão da população economicamente ativa (PEA), que apresentou alta de 1,4% em 2016. Essa alta se explica, em boa parte, pelo aumento de 2,7% dos declarados “não chefes de família” na PEA, o que aponta o ingresso de um ou mais membros do domicílio na força de trabalho, a fim de recompor a renda perdida com o agravamento da recessão.
Escolaridade
A seção da Carta de Conjuntura traz uma análise inédita do mercado de trabalho por sexo, idade e escolaridade, entre outros recortes, a partir de microdados da PNAD Contínua, do IBGE. A avaliação por escolaridade, por exemplo, revela que o impacto da desaceleração econômica sobre o nível de emprego foi mais forte nas duas faixas que abarcam os trabalhadores com menor grau de instrução: ensino fundamental incompleto (queda de 5,6%) e ensino fundamental completo (redução de 8,3%).
Em sentido contrário, o contingente de trabalhadores com ensino superior voltou a registrar variação positiva em 2016 (2,5%), indicando que, mesmo durante o período mais grave da crise, a economia brasileira conseguiu gerar postos de trabalho destinados a pessoas com maior qualificação.
Faixa etária
A economia também conseguiu gerar postos de trabalho ao contingente de trabalhadores com mais de 59 anos, que cresceu 1,1%, sendo o único segmento por faixa etária a apresentar variação positiva no ano passado.
Os trabalhadores com idade entre 25 e 49 anos, que correspondem a 62% de toda a população ocupada, tiveram, por sua vez, uma redução de 1,4% em 2016. A força de trabalho brasileira vem, portanto, sofrendo alteração em seu perfil: está se tornando mais idosa e instruída, devido à acelerada transição demográfica brasileira e a uma série de políticas de aumento do acesso à educação iniciadas na década de 1990.
Perspectivas
Segundo os pesquisadores do Ipea, as perspectivas para o mercado de trabalho são favoráveis, mesmo que nos próximos meses a taxa de desemprego se mantenha em patamar elevado. “À medida que a retomada da economia se consolide, a taxa de desemprego deve começar a cair lentamente no segundo semestre”, diz o texto assinado pelos pesquisadores Maria Andréia Parente Lameiras e Sandro Sacchet de Carvalho.
Setores
A análise setorial revela que a indústria de transformação reduziu seu ritmo de fechamento de vagas, indicando uma melhora de perspectiva compatível com o desempenho mais recente da atividade industrial. O setor de serviços também demonstra sinais de avanço. Já a construção civil ainda sofre um forte impacto da crise: a população ocupada nesse segmento retroage a taxas próximas de 10% desde o último trimestre de 2016.
A seção da Carta de Conjuntura apresenta, ainda, a variação média dos rendimentos reais por faixa de renda, a taxa de desemprego por Unidades da Federação e os indicadores do mercado de trabalho por macrorregiões.
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