O movimento “Pela aprovação de Kigali já” aponta que a Emenda de Kigali pode ajudar Itamaraty e abrir fundo de US$ 100 milhões à indústria brasileira
Mais de 100 países já aderiram à Emenda, que estabelece metas de substituição de gases hidrofluorcarbonetos (HFCs), de alto potencial de efeito estufa, em geladeiras e aparelhos de ar-condicionado. Quando ela for ratificada, a indústria brasileira terá acesso a linhas de crédito de US$ 100 milhões, a fundo perdido, para atualização tecnológica. O movimento “Pela aprovação de Kigali já” espera que a Câmara aprove o projeto para marcar o Dia Mundial da Terra, em 22 de abril.
Os US$ 100 milhões do Fundo Multilateral para Implementação do Protocolo de Montreal em países em desenvolvimento poderão ser usados também na adaptação das fábricas brasileiras para produzir aparelhos mais eficientes em economia de energia.
“A proteção do planeta precisa ser compatível com o desenvolvimento econômico, e a busca pela eficiência energética e por produtos mais inteligentes é o melhor caminho para aliar essas duas agendas fundamentais”, diz a coordenadora da Iniciativa de Eficiência Energética do iCS (Instituto Clima e Sociedade), Kamyla Borges, advogada e uma das líderes do movimento pela Emenda de Kigali.
Kamyla Borges. Foto: Produção
Entidades em defesa da indústria brasileira, dos direitos do consumidor e do meio ambiente lançaram um manifesto para que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, tire da gaveta um projeto que pode ajudar muito o Brasil a se aproximar dos Estados Unidos e demais países da OCDE nos esforços para desacelerar o aquecimento global. Trata-se da ratificação da Emenda de Kigali, que já passou por todas as comissões e há um ano e meio aguarda para ser enviada ao plenário.
Ao assumir a presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, voltou a aderir ao Acordo de Paris e baixou várias medidas de enfrentamento das mudanças climáticas, como uma instrução pela ratificação da Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal. A pressa faz sentido, segundo empresários. Para se ter ideia, um dos gases mais utilizados como fluido de aparelhos de ar-condicionado no Brasil, o R-410A, tem potencial de aquecimento global (GWP, na sigla em inglês) duas mil vezes maior do que o do dióxido de carbono.
Aparelhos eficientes de ar-condicionado produziriam impacto de R$ 57 bilhões na economia nacional até 2035, de acordo com um estudo do Instituto Clima e Sociedade (iCS) em cooperação técnica com o Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL). Desse total, R$ 30 bilhões deixariam de ser gastos pelo governo na geração de energia elétrica. Outros R$ 27 bilhões seriam economizados pelos consumidores na conta de luz.
Competitividade
O Brasil tem 28 milhões de aparelhos de ar condicionado instalados e crescimento anual de 10%. É o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do planeta. A aprovação da Emenda de Kigali vai aumentar a competitividade da indústria nacional e emitir um sinal positivo aos investidores sobre o compromisso do país com a economia de baixo carbono, a inovação e a competitividade.
A ratificação da Emenda também impedirá que o país se torne um dos poucos destinos mundiais de aparelhos obsoletos, uma grande preocupação do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e da Rede Kigali do qual faz parte. “Vai alinhar a indústria brasileira às tendências do mercado internacional, aumentar a competitividade e colocar o Brasil na rota da inovação”, afirma Clauber Leite, coordenador do Programa de Energia e Sustentabilidade do Idec. Hoje, 100% do mercado japonês e a maior parte dos países europeus já adotam fluidos refrigerantes de baixo potencial de aquecimento global. Essas tecnologias começam a dominar outros mercados robustos, como o chinês e o indiano.
A Emenda ao Protocolo de Montreal foi aprovada em 2016 em Kigali, capital de Ruanda, com um cronograma de redução no consumo dos HFCs, para os quais a indústria tem alternativas seguras. No Brasil, a Rede Kigali, que preconiza a aprovação da Emenda, reúne o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o Instituto Clima e Sociedade (iCS), o International Energy Initiative – IEI Brasil, o Engajamundo e o Projeto Hospitais Saudáveis (PHS).
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