Os primeiros minutos do episódio de estreia da nova série da HBO, Years and years, são suficientes para que nossos olhos não desviem de Emma Thompson. A atriz vencedora de dois Oscar (melhor roteiro de Razão e sensibilidade e melhor atriz por Retorno a Howards End) interpreta a política britânica Vivienne Rook, uma celebridade com ambições políticas.
“Antes esquerda era esquerda, direita era direita, os EUA eram os EUA. Eu não entendo mais o mundo”. É com essa frase que Vivienne começa a prender a atenção do espectador e da família Lyon, outra ponta que sustenta Years and years. Em casas diferentes, os irmãos Daniel (Russel Tovey), Rosie (Ruth Madeley) e Stephen (Rory Kinnear) ficam chocados com a continuidade do discurso, no qual a britânica deseja que “Israel e Palestina se f***”.
É essa metralhadora que vomita o que pensa numa velocidade alucinante, praticamente sem pensar, que domina a série escrita, dirigida e produzida por Russel T. Daves. São seis episódios exibidos na HBO, às 22h. Nesta sexta-feira (5/7), sairá o segundo.
Years and years acompanha a família Lyon (o clã ainda tem os cônjuges e filhos dos irmãos, outra irmã e uma matriarca, avó deles) por 15 anos, a contar de 2019. Sabe aquele ditado que diz que o tempo voa? Pois ele rege o primeiro episódio da série.
Com uma velocidade estonteante, Donald Trump é reeleito presidente dos EUA e, a quatro dias de terminar o segundo mandato, lança um míssil nuclear em Hong Sha Dao, ilha artificial território da China; a chanceler Angela Merkel morre; as relações entre Ucrânia e Rússia ficam tensas ao ponto de um referendo apontar a inclusão da Ucrânia na Rússia e os refugiados partem para Grã-Bretanha; várias inovações tecnológicas nos são apresentadas.
É muita coisa para caber em pouco mais de uma hora de episódio. Mesmo com um roteiro engenhoso, é possível (provável, na verdade) que você se perca. Em tom de crítica pela velocidade e volatilidade das relações de hoje, quando comunicação não é nosso forte, Years and years corre o sério risco de confundir. Podia ser um pouco mais devagar.
Na estreia, podemos perceber que Years and years tem traços de duas séries de muito sucesso: This is us e Black mirror. Da primeira, vem o foco nas relações humanas. Aqui dominam a cena os dramas dos Lyons. Daniel e o marido, Ralph (Dino Fetscher), não estão nos melhores dias do casamento e Daniel acaba se apaixonando por Viktor (Max Baldry), um refugiado ucraniano acolhido no abrigo onde Daniel trabalha.
Rosie tem um filho de um homem chinês que está viajando quando a criança nasce, o que faz com Daniel acompanhe o parto. Com o passar dos anos, o marido de Rosie volta para a China (que será bombardeada) e abandona a esposa e o filho.
Stephen e a esposa, Celeste (T’Nia Miller), lidam com o fato de serem um casal interracial e com a implicância recíproca entre Celeste e a matriarca Muriel ( a ótima Anne Reid). Eles também estanham o fato de as crianças aprenderem luta sexual na escola.
Tudo isso nos é apresentado com lágrimas, risadas, conversas ao redor da mesa cheia e teleconferências para que todos possam participar da vida de todos. Afinal, é uma família bem do tipo Brothers & Sisters.
O lado Black mirror é um pouco mais sombrio, embora seja mostrado de uma forma até cômica. Robôs dominam o mundo e as relações: eles respondem quem é Vivienne Rook aos Lyons, protegem a criança atrás de um filtro desses de instagram em tamanho extra large, fazem sexo com os solitários de plantão.
Vivienne Rook parece mais conectada a essa vertente “tecno-catastrófica” de Years and years, especialmente quando a guerra entre EUA e China é deflagrada, como ela havia anunciado antes. É por meio da personagem que regimes totalitários e líderes populistas são criticados, mesmo sem ser explicitamente citados. Nem tudo ali é futurista. Daniel e Ralph, que é professor infantil, discutem por que Ralph quer ensinar aos meninos a teoria do terraplanismo, “já que a tela do GPS é plana”. Mais contemporâneo impossível.
Numa junção entre as duas coisas, Celeste e Stephen enfrentam a descoberta de que a filha adolescente é transumana, pessoa que quer salvar o cérebro numa espécie de nuvem tecnológica. A revelação acaba sendo uma das melhores cenas do episódio por juntar comédia e drama na medida certa. “Quero me livrar do meu corpo e me tornar digital”, brada a garota. “Eu vou virar dados”, continua com um impressionante ar de “está tudo bem”.
A naturalidade trazida em Years and years assusta e alerta ao mesmo tempo. “Parece que a inteligência está regredindo. A humanidade está ficando cada vez mais burra na nossa frente”, diz a implacável Vivienne. A série diverte, emociona e nos leva a pensar. A estreia termina com uma pergunta feita em meio ao bombardeio e ao anúncio do que o Reino Unido entrará na guerra: “O que acontece agora?”.
Ao Próximo Capítulo, os responsáveis pela série falam sobre o fato de ter se tornado…
Emissora apresentou os principais nomes do remake da obra icônica de 1988 que será lançada…
Ao Próximo Capítulo, a drag queen carioca fala sobre o sentimento de representar o Brasil…
Como nascem os heróis tem previsão de estreia no primeiro semestre de 2025, na TV…
Sam Mendes, Daniel Brühl, Jessica Heynes, Armando Ianoucci e Jon Brown comentam sobre a nova…
Volta Priscila estreou na última quarta-feira (25/9) e mostra um novo ponto de vista sobre…