A vez das webséries: Conheça as produções Arena e RED

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Mercado audiovisual na internet apresenta crescimento no Brasil influenciado pela facilidade e autonomia. Conheça algumas webséries brasileiras

Autonomia, falta de burocracia e facilidade são os principais fatores que levaram o mercado do audiovisual a ganhar um espaço na internet, por meio das webséries. No Brasil, produtores estão optando pelo formato para contar histórias que, provavelmente, não teriam lugar em canais e emissoras tradicionais. O aumento dessa tendência pode ser visto numa pesquisa no Google. Ao buscar pelo termo “webséries brasileiras” na aba vídeos há mais de 7 mil resultados.

A websérie mais conhecida do país é 3%. Criada e lançada por Pedro Aguilera em 2010, a produção ultrapassou o YouTube e ganhou espaço no serviço de streaming Netflix, ganhando uma temporada completa com atores famosos, como Bianca Comparatto, João Miguel, Mel Fronckowiak e Zezé Motta, lançada em 2016. Uma segunda temporada, inclusive, está confirmada e em fase de produção.

Crédito: Facebook/Reprodução. Cena da websérie Arena

No entanto, o que aconteceu com 3% é uma exceção. Grande parte das webséries brasileiras seguem na internet e se mantém com ajuda de fãs, por meio de financiamentos coletivos, ou ainda com a própria verba arrecadada pela equipe. O segundo caso é o que aconteceu com os alunos da Universidade de Brasília (UnB), que criaram a websérie Arena, lançada oficialmente em 21 de agosto. “Começamos a fazer o projeto em junho do ano passado. Fizemos sem nenhum patrocínio, gravamos com o dinheiro de uma rifa e com os equipamentos da Faculdade de Comunicação da UnB”, conta Luyla Vieira, uma das produtoras da Arena, que possui uma equipe formada por 400 pessoas.

A websérie Arena, que foi criada por Kallyo Aquiles, pode ser definida como um retrato ficcional do dia a dia da UnB. “É importante dizer que é uma história de ficção de personagens que estão na UnB. Cada episódio tem o intuito de ser centrado em um dos personagens. Tem uma história por completo, tem uma trama”, explica Luyla. O primeiro episódio Boas vindas é centrado na história de Micão (Ady Estellita), um veterano que resolve ajudar o calouro Marcos (Vinícius Alves). Ao todo, serão nove episódios com média de 15 minutos de duração, disponibilizados sempre às quartas no canal oficial do YouTube.

Com apenas dois dias de divulgação do primeiro episódio, o canal conseguiu mais de quatro mil visualizações do capítulo, o que surpreendeu a equipe. “Foi muito legal. A gente não esperava. A recepção foi muito grande. Acho que o público quer se ver na UnB. A websérie não atingiu apenas esse público da UnB, mas também quem já passou por aqui e pessoas de Brasília como um todo. Essa foi a nossa maior surpresa”, define.

Sucesso em festivais

A websérie brasiliense Arena ainda está dando os primeiros passos nesse formato. No entanto, o Brasil já possui algumas produções de destaque no cenário. O país até tem alguns festivais dedicados ao mercado, como o Rio WebFest — Festival Internacional de Webséries do Brasil, e o Minas Web Festival. “Apesar de novo, é um mercado que tem se desenvolvido rapidamente e que cresceu bastante nos últimos anos. Já existe um interesse maior no formato tanto por quem produz conteúdo, como por quem consome”, define Germana Belo, roteirista, produtora e criadora da websérie RED.

Crédito: Facebook/Reprodução. Cena da websérie Red

A produção RED surgiu em 2014 de iniciativa de Germana e Viv Schiller, que buscavam produzir um conteúdo de forma viável, autônoma e sobre a temática lésbica. “A proposta, desde o início, era contar uma história de amor entre duas mulheres, que fosse retratada de maneira natural e realista”, revela Germana.

RED, então, acompanha duas atrizes que se envolvem durante as filmagens de um curta-metragem. Logo no primeiro ano, a série foi indicada ao NYC Web Festival na categoria de melhor websérie de língua estrangeira e contou com mais de 2 milhões de visualizações em 145 países. Desde a segunda temporada, a produção é financiada pelo público por meio de campanhas de financiamento coletivo. “E, mais recentemente, pela venda de conteúdo on demand. Em 2016, negociamos as duas primeiras temporadas com a francesa Vivendi, uma das maiores distribuidoras de conteúdo do mundo para exibição no Studio+, o primeiro aplicativo mundial dedicado a séries de curta duração. No Brasil, o aplicativo está disponível para clientes da Vivo”, explica a produtora.

Atualmente, a série está em processo de gravação da quarta temporada, que estreará no primeiro semestre de 2018. É possível acompanhar os episódios de RED no canal oficial do Vimeo, com atualização sempre às terças e capítulos de 10 minutos.

Entrevista // Germana Belo e Viv Schiller

Como foi o processo da escolha da história e também do elenco envolvido na trama?
Germana: A proposta, desde o início, era contar uma história de amor entre duas mulheres, que fosse retratada de maneira natural e realista.
Viv: Queríamos oferecer ao público algo que gostaríamos de assistir. Queríamos, também, evitar clichês e uma história com elenco inchado (até por falta de recursos). O processo de seleção se deu por casting e indicações. Tivemos muita sorte na escolha do elenco e ficamos muito satisfeitas ao ver que todos toparam contar essa nossa história conosco.

A websérie se destacou também por retratar uma temática lésbica. Qual é a importância de debater temas como esse em uma produção nacional?
Viv: A importância é grande, porque não se trata apenas de querer mitigar o tabu ou de promover o ativismo da causa, mas por querer oferecer ao nosso público uma história com a qual ele possa se identificar; uma história crível e sincera. Os depoimentos que recebemos das fãs de RED são emocionantes. As pessoas se conectam de verdade com a nossa história e isso não tem preço. Nossa missão – a de entregar uma história bonita, sem clichês e a mais real possível – está sendo realizada. É uma alegria poder ver tamanha identificação das fãs – carinhosamente conhecida como REDlovers – com nossas personagens.

Vocês foram premiados em alguns prêmios por conta da RED. Como receberam essa boa receptividade da websérie?
Germana: RED foi indicada no New York Web Festival nas categorias Melhor Websérie de Lingua Estrangeira (2015), Melhor Websérie Drama e Melhor Ator Coadjuvante (2016), e no Rio Web Festival, na categoria Melhor Roteiro Drama (2016), mas não foi premiada. A resposta que tivemos, inclusive de um grande público internacional (RED já foi assistida em 145 países, e nosso canal no Vimeo conta com mais de 3 milhões de visualizações), foi uma grata surpresa para todos nós.

Outras webséries para ficar de olho

SEPTO: Lançada em 2016, a websérie acompanha a triatleta Jéssica, que, em uma das manhãs de treino, passa mal após ser convocada para as Olimpíadas e é socorrida por Lua, professora de surf. O encontro entre as duas se tornará em algo a mais. Episódios sempre às quartas, às 19h, no Youtube. A segunda temporada está escrita e em processo de captação. A sequência deve estrear em 2018. Mais mais sobre a produção abaixo.

Crédito: Facebook/Reprodução

Entrevista // Alice Carvalho, roteirista e protagonista de SEPTO

Como surgiu a ideia de fazer SEPTO e por que o formato de websérie?
O argumento de SEPTO foi escrito por mim em novembro de 2015. O país estava imerso naquela euforia devido às Olimpíadas de 2016. Juntei algumas vivências pessoais (minha mãe passou por um processo de retirada de um câncer de mama – ela só tinha 35 anos) com a vontade de rodar uma história que se passasse em Natal, mas que gerasse identificação com qualquer jovem da minha geração: estar preso em uma carreira que, muitas vezes, não é o que você quer, mas faz por um falso sentimento de “vocação”. Inicialmente a série seria um curta-metragem, mas percebi que o mercado de webséries crescia mundialmente e aqui no Nordeste não havia nada igual ou que não estereotipasse o nordestino enquanto centro de uma trama.

Como foi o processo da escolha da história e também do elenco envolvido na trama? Além disso, como foi custeada a produção da série?
A história foi desenvolvida com ajuda de mais outros dois roteiristas: Aureliano Medeiros e Frank Aleixo. O elenco foi escolhido por meio de teste, naturalmente, com atores e atrizes estabelecidos na cidade, sempre com essa gana de gerar emprego pra artistas locais. O projeto foi financiado por financiamento coletivo, no Catarse. Impulsionamos a divulgação e tudo deu certo graças ao Brasileiríssimos, um portal de valorização de artistas independentes criado por três comunicados de Recife. Tinhamos alguns amigos em comum e estabelecemos o contato, posteriormente a página viraria a distribuidora da obra on-line – o que foi ótimo no quesito marketing, já que possuem uma média de 9 milhões de seguidores/curtidas/share.

Como enxerga o mercado de webséries no Brasil?
O Brasil está abrindo os olhos para a gama de possibilidades que a internet abre, comercialmente as marcas também estão percebendo que participar do financiamento de obras assim só favorece a imagem da empresa. Fora o fato de que somos engajados em causas sociais importantes como feminismo e direitos LGBTQ+.

A websérie ganhou alguns prêmios. Como recebeu essa boa receptividade?
Como criadora foi emocionante receber um prêmio na Argentina onde fomos os vencedores disparados do voto do público, inclusive de crítica especializada da Universidade de Cinema de Buenos Aires. Abriu portas para entrarmos no circuito mundial e participarmos de outros festivais como o Asia Web Awards e Seoul Webfest – ambos na Ásia. Inacreditável!

Crime time — Hora do perigo: Baseada em fatos reais, a websérie é produzida por Fabiano Gullane, que assinou produções em Que horas ela volta? e O lobo atrás da porta. A história gira em torno de Tony Padaratz, um ex-policial que se torna famoso apresentando programas de televisão sensacionalistas. Disponível no canal do Studio+ no YouTube.

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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