Você sabe como é a profissão de diretor de elenco? Raoni Seixas te conta!

Raoni Seixas ficou conhecido como diretor de elenco de produções como Homens? e Reality Z. Confira entrevista em que ele conta um pouco mais sobre a profissão dele.

O que as séries Arcanjo renegado (Globoplay), Homens? (Comedy Central), Me chama de Bruna (Fox) e Reality Z (Netflix) têm em comum? De diferentes gêneros e disponíveis em distintas plataformas, as produções têm por trás delas o mesmo diretor de elenco: Raoni Seixas.

Muitas vezes sem ganhar os méritos que merece, o diretor de elenco tem papel fundamental no sucesso de uma série ou filme. “Não existe uma boa equipe de filmagem sem esse profissional. É ele quem pensa junto com o diretor quais serão os atores para determinados personagens. O diretor de elenco organiza os testes, faz sugestões sobre alguns personagens e participa de todo o processo, desde a sugestão de nomes até o encerramento da filmagem”, explica Raoni, em entrevista ao Próximo Capítulo.

Raoni lembra que já esteve no comando de nomes como os atores Vincent Cassel, Angelo Antonio , Leandra Leal e Selton Mello e ao lado de diretores do porte de Cacá Diegues e Heitor Dhalia. O diretor ainda comemora que na próxima temporada de Arcanjo renegado juntará duas atrizes que admira bastante: Lea Garcia e Zezé Motta, “dois ícones da cultura brasileira”.

Há uma mística de que o diretor de elenco é aquela pessoa que grita e faz o ator passar por coisa humilhantes. Raoni Seixas logo explica: “Eu prefiro trabalhar de forma tranquila, com pessoas conscientes, dedicadas e criativas. Eu não grito nem com o meu filho, que vai fazer 2 anos. Porque gritaria com um profissional maior de idade? É improdutivo.”

Na entrevista a seguir, Raoni fala sobre a profissão, relembra mestres como José Wilker e Flora Diegues e admite que gostaria de ter o reconhecimento devido pelo esforço nos sets de filmagem. Confira!

Entrevista// Raoni Seixas

Qual é a importância de um diretor de elenco num filme ou série?
Se a produção do trabalho precisa de bons atores no set de filmagem, então essa produção precisará, necessariamente, de um bom diretor de elenco. Não existe uma boa equipe de filmagem sem esse profissional. É ele quem pensa junto com o diretor quais serão os atores para determinados personagens.

Como é o trabalho do diretor de elenco?
É um trabalho criativo. O diretor de elenco recebe os roteiros e a lista dos personagens e pensa junto do diretor e da produção quem serão os atores selecionados. É um quebra-cabeça onde preciso organizar as expectativas e a agenda do ator, com a vontade do diretor e o orçamento de produção. O diretor de elenco organiza os testes, faz sugestões sobre alguns personagens e participa de todo o processo, desde a sugestão de nomes até o encerramento da filmagem.

O diretor de elenco tem que gritar? Que ser bravo? Como você definiria seu estilo de trabalho?
O diretor e a produção precisam que cada departamento trabalhe com afinco e dentro do orçamento e do cronograma. O diretor de elenco precisa do ator dedicado, o ator precisa do diretor de elenco, e por aí vai… O trabalho é coletivo: cada pessoa depende do trabalho de outra, e todos esses trabalhos juntos fazem um produto audiovisual: uma série, um filme, um comercial… Se todos os profissionais estão cientes do que fazem e estão dando o melhor de si, não há necessidade de estresse. Eu prefiro trabalhar de forma tranquila, com pessoas conscientes, dedicadas e criativas. Desse jeito, se acontecer algum problema, todos sabem que precisam resolvê-lo da melhor forma possível. Eu não grito nem com o meu filho, que vai fazer 2 anos. Porque gritaria com um profissional maior de idade? Eu nunca achei que gritar com alguém seja a melhor forma de se resolver alguma coisa. Se alguém grita comigo, eu travo na hora. É improdutivo.

Você trabalhou em produções diferentes, como Reality Z, Me chama de Bruna, Arcanjo renegado e Homens?. Qual é a principal diferença entre eles?
São séries totalmente distintas entre si. Homens? é uma série de comédia que trata de questões sérias. Me chama de Bruna tem momentos mais leves, de paixão, mas também tem assuntos mais pesados e pertinentes para a nossa sociedade. Arcanjo renegado é uma série em que trabalhamos muito com elenco de favela, subúrbio e comunidades. Nessa série, conseguimos mesclar um elenco renomado com atores desconhecidos do grande público. E no Reality Z, temos um produto totalmente novo no mercado brasileiro, com temática zumbi. Nesse caso, optamos por um elenco de destaque, em que todos os atores já tiveram um grande papel de destaque em sua carreira. Tenho bastante orgulho de todas essas séries. São bastantes diferentes entre si, e no entanto todas estão fazendo bastante sucesso.

É mais fácil para o diretor de elenco trabalhar com estreantes do que com atores veteranos, que podem ter “vícios” da carreira?
Cada projeto tem um desafio e uma necessidade diferente. Todos têm seu lado positivo e negativo.

O diretor de elenco é, muitas vezes, corresponsável pelo sucesso de um personagem. Mas poucas vezes ele é reconhecido num sucesso. Como lida com isso? Dá um certo ciúme ver o ator ser laureado e você ficar nos bastidores?
Quando comecei, eu me apaixonava pelos projetos que fazia, dava tudo de mim, interrompia projetos pessoais para me dedicar totalmente a uma obra. Hoje, eu consigo ter mais distanciamento. Me dedico da mesma forma, mas sem aquela paixão de outrora. Agora, o que sinto é amor. E amor passa por entender que as coisas não são necessariamente como você quer que elas sejam. Então é claro que eu adoraria ter o reconhecimento devido: é um trabalho árduo em que, muitas vezes, o diretor ou o produtor não pensaram naquele ator que eu sugeri. E muitas vezes os atores agradecem ao diretor esquecendo do profissional que lutou por eles. Mas enfim, o que se há de fazer? Eu tento apenas valorizar meu trabalho. Tendo o crédito inicial (como todos os chefes de departamento) de diretor de elenco, e tendo todas as condições necessárias para realizar meu trabalho, me dou por satisfeito. Hoje, não faço nada pensando em glórias. Só quero realizar meu trabalho cada vez melhor.

Com quem você sentiu mais reconhecimento em trabalhar?
Eu me formei na Uni-Rio em interpretação em Artes Cênicas, mas foi a Luz Mágica Produções a minha faculdade de cinema. Trabalhei três anos, de 2005 a 2008, com Cacá Diegues e as produtoras Renata Almeida Magalhães e Tereza Gonzalez. Flora Diegues fez isso acontecer. São pessoas extremamente marcantes na minha vida. Na Luz Mágica conheci o José Wilker (que me deu meu primeiro MacBook para trabalhar), e o José Júnior (com quem trabalho até hoje). Há muitas pessoas que são importantes na minha trajetória, mas essas eu guardo um lugar especial, pois estiveram no início de tudo e são presentes até hoje. Wilker e Flora infelizmente não estão mais conosco, mas trago eles para sempre comigo, no meu coração.

Como você virou diretor de elenco?
Eu era ator e queria um papel no filme O maior amor do mundo. Fiz uma entrevista. Não tinha papel pra mim, mas me ofereceram um estágio na direção de elenco. Aceitei. Foi um sucesso e me chamaram para estagiar durante a filmagem, e depois na pós-produção. Acabaram por me contratar e fiquei lá durante três anos. Em 2008, saí para trabalhar exclusivamente como diretor de elenco freelancer.

Quem não poderia faltar no seu elenco dos sonhos? Porque?
Zezé Motta e Léa Garcia. Dois ícones da cultura brasileira. Na segunda temporada do Arcanjo renegado vou conseguir realizar esse sonho de ter as duas juntas no mesmo elenco.

Tem algum ator ou diretor com quem você sonha em trabalhar?
Já trabalhei com muita gente boa. Dos diretores: Cacá Diegues, José Wilker, Claudio Torres Gonzaga, José Júnior, Heitor Dhalia, Johnny Araújo, Vicente Amorim, Pedro Amorim, Paulo Fontenelle, Marcos Prado, Duda Vaisman, Calvito Leal, Claudia Jouvin… Dos atores: Vincent Cassel, Fábio Porchat, Mariana Ximenes, Bruna Linzmeyer, Johnny Massaro, George Sauma, Bruno Mazzeo, Leandra Leal, Nathália Dill, Selton Mello, Angelo Antonio… Esses são apenas alguns de muitos que lembro agora. Presto aqui uma homenagem aos profissionais com quem já trabalhei. Muito obrigado!