Você não precisa entender de moda para gostar da minissérie Halston, da Netflix

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Halston, da Netflix, traz atuações inspiradas, especialmente do protagonista Ewan McGregor, e figurinos lindos, como era de se esperar. Leia a crítica!

O universo da moda serve como backstage para a minissérie em cinco capítulos Halston, da Netflix. Sob os holofotes o que realmente vem na produção dirigida por Daniel Minahan é vida do badalado estilista que dá nome à série e que mudou a história da moda americana nas décadas de 1970 e 1980.

Os cinco episódios de Halston se passam entre 1961 e 1987 e, mais do que traçar um rápido panorama da moda daquela época, nos apresentam a um personagem de extremos. Halston (Ewan McGregor, numa composição muito boa) pode ser amável no início da trama, especialmente com a melhor amiga, Liza Minelli (Krysta Rodriguez). Mas o tempo vai passando e o lado rude e egoísta dele vai prevalecendo. Que o digam Elsa Peretti (Rebecca Dayan) e Joe Eula (David Pittu), fiéis escudeiros até que Halston consiga afastar todos à sua volta.

Inspirado no livro Simply Halston, de Steven Gaines, o roteiro de Halston começa quando a carreira do estilista está prestes a decolar, devido ao fato de Jackie Kennedy ter usado um chapéu assinado por ele na posse de John Kennedy como presidente dos EUA. Aos poucos, Halston vai construindo um império da moda e chamando a atenção da crítica especializada e do público endinheirado.

Os excessos acompanharam a vida de Halston

O gênio difícil era, ao mesmo tempo, o que o impulsionava (“encontrei meu time, um mais excêntrico do que o outro”, afirma ao fechar a primeira equipe) e o que o arruinava. Certo de suas convicções, o estilista tem muita dificuldade em ver a moda como negócio e não como arte. Esse embate leva quase metade da minissérie e nos rende bastante reflexão sobre o quanto jogamos nossos sonhos fora facilmente. É fácil traçar paralelos entre as dúvidas de Halston e as nossas.

Ao chegar ao auge, depois de se render a uma espécie de batalha contra colegas franceses em Versalhes, Halston se entrega aos excessos. A fama sobe à cabeça do genial criador, que já não se divide mais entre o trabalho e a dobradinha drogas e sexo sem cuidado ou proteção ー a segunda opção é sempre a seguida. E a direção da minissérie não nos poupa de contundentes (mas necessárias e bem cuidadas) cenas de muita festa, drogas e sexo.

Halston tem elenco afiado

Krysta Rodriguez brilha como Liza Minelli

Com roteiro correto e, como não poderia deixar de ser figurinos deslumbrantes, a série tem outro ponto alto: o elenco. Ewan McGregor entrega um Halston adoravelmente mal humorado, mas disfarçadamente solitário e triste. É o personagem de um personagem. E dá muito certo.

Mas ele não está só: há coadjuvantes à altura do protagonista. A Liza Minelli de Krysta Rodriguez impressiona. Com a ajuda da caracterização, a interpretação soa como uma bela homenagem à diva, que também aparece dada aos excessos em determinadas fases da vida.

Em rápida, mas certeira participação, Kelly Bishop dá vida a Eleanor Lambert – doce e imponente. Rebecca Dayan também faz crível a trajetória de Elsa Peretti, que vai da submissão a Halston à carreira solo. Com menos tempo de tela, Bill Pullman não decepciona como David Mahoney.

Dentro e fora da passarela, os figurinos chamam a atenção

Como costuma acontecer em cinebiografias, é divertido ver na tela o desfile de nomes conhecidos ー só que com a pitada da ficção. Fazem parte do numeroso time Ed Austin (Sullivan Jones), Martha Graham (Mary Beth Peil), Adele (Vera Farmiga) e Calvin Klein (Barry Anderson), entre tantos outros.

O roteiro de Halston termina na derrocada do estilista, que morreu em 1990. “O pior é que você desistiu de você”, alerta Martha Graham a uma certa altura. Brigado com seus grandes amigos e com seu amor, Victor Hugo (Gian Franco Rodriguez), o gênio sai de cena em espetáculo solo, mas sem brilho. Ao fim do 5º episódio, uma certeza: não é preciso gostar de moda, mas, sim de um bom drama, para aprovar a minissérie.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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