Faço parte da geração que teve a infância marcada por Os Trapalhões. Esperava as noites de domingo para assistir a Didi, Dedé, Mussum e Zacarias — quando o quarteto estava completo era um deleite só! Bastava uma risada de Zacarias ou uma piadis de Mussum para eu me divertir e, hoje, me emocionar. E quando Didi imitava cantoras como Maria Bethânia e Fafá de Belém? Seria vencedor fácil do Show dos famosos do Faustão.
Por isso recebi com um misto de alegria e espanto a notícia que o Viva e a Globo fariam um remake do humorístico, nos mesmos moldes da bem-sucedida A nova escolinha do Professor Raimundo. O programa estreia em 17 de julho no Viva e está previsto para setembro na Globo. A direção será de Fred Mayrink, a redação final de Péricles Barros e a supervisão de texto de Mauro Wilson.
A alegria, é claro, vem junto com a nostalgia de reviver aquela época. Didi e Dedé participam do projeto como professores de trapalhadas de Didico (Lucas Veloso), Dedeco (Bruno Gissoni), Mussa (Mumuzinho) e Zaca (Gui Santana). É na escolha do elenco que mora minha primeira apreensão. A turma, que ainda tem Nego do Borel como Tião Macalé (oi?!) e Ernani Moraes como Sargento Pimenta, não agradou às redes sociais. As comparações serão inevitáveis, mas será que os aprendizes darão conta?
O segundo temor está no texto e nos dias de hoje. Os Trapalhões ia ao ar quando a patrulha do politicamente correto — necessária e polêmica ao mesmo tempo — ainda não existia. Sobreviverá a graça dos personagens que nos encantavam? Espero que sim. Mas tenho minhas dúvidas.
Há quem enxergue racismo, preconceito e tantos outros males nas sequências do humorístico. Não sou desses — a ingenuidade estava ali ou na minha cabeça de criança? Assistia ao quarteto para me divertir e eu e o país inteiro — independentemente de orientação sexual, raça, gênero, localização geográfica — também, numa das poucas quase unanimidades da tevê brasileira. Que os novos trapalhões venham com o mesmo gás e a mesma graça dos clássicos — e sem medo de ser feliz!