Produção Verona estreia nesta quinta-feira (3/12), às 21h, no Prime Box Brazil
A tragédia escrita por William Shakespeare em 1591, Romeu e Julieta, reverbera até os dias atuais. Vez ou outra o clássico ganha novas roupagens. Dessa vez será em formato de série a partir da história do casal Rodrigo (Lucas Zaffari) e Juliana (Marcela Fetter) na produção Verona, que estreia nesta quinta-feira (3/12), às 21h, no canal de TV por assinatura Prime Box Brazil. O seriado tem quatro episódios e exibições sempre às quintas.
Sob idealização do ator Leonardo Machado, que morreu em 2018, roteiro de Paulo Nascimento (que reescreveu e finalizou após a morte do amigo) e direção de Ane Siderman, a obra busca no enredo de amor shakespeariano a inspiração para retratar a paixão dos protagonistas, ambos de famílias rivais que vivem em fazendas vizinhas no sul do país, na fronteira entre Brasil e Uruguai.
A separação entre as cercas “cai” quando Juliana e Rodrigo resolvem ouvir o coração e dar vazão a história de amor sentida por eles. O conflito se passa entre o Natal e o ano-novo. A escolha pelo recorte tem a ver exatamente com o fato de ser um momento em que as famílias se reúnem. “É sempre um momento de união, mas ao mesmo tempo o convívio gera alguns atritos, que ajudam a reforçar o conflito central”, defende a diretora Ane Siderman.
“Shakespeare conseguiu plasmar conflitos universais em suas obras de forma genial. Desde o início queríamos adaptar estes conflitos à realidade contemporânea, para mostrar que eles seguem vigentes ainda hoje. Na série há alguns elementos que remetem ao bardo, outros que adaptamos para mostrar o universo de sentido da vida no campo. O eixo da história de amor e o ódio entre as famílias está sempre presente. O roteiro do Paulo deu mais ênfase às relações em família e como elas influenciam os jovens amantes”, justifica.
Para a diretora, esse foi um trabalho muito complicado de se fazer. Afinal, ela precisava falar de amor, logo após ter perdido o dela, o ator Leonardo Machado. “Para mim foi uma das coisas mais difíceis que fiz na minha vida. Mas busquei forças para ressignificar este sofrimento e fazer o que ele gostaria que eu fizesse. Muitas vezes fui surpreendida no projeto por coincidências, descobri que ele esteve sempre presente nos ajudando a fazer tudo da melhor forma”, revela.
Personagens de Verona
O casal é vivido pelos atores Lucas Zaffari e Marcela Fetter, que puderam compor os personagens unindo as referências da literatura com uma preparação intensa de um mês ocorrida em Porto Alegre (RS). Naquele momento, eles buscaram traçar as crenças e o passado de Rodrigo e Juliana para que eles pudessem ser retratados na tela.
Sobre as semelhanças com os personagens da obra originais, os atores apontam algumas, já que a série não é necessariamente uma adaptação. “O Rodrigo é um outro personagem. Mas acho que os dois são jovens românticos e apaixonados. Talvez a paixão que Romeu tenha pela poesia, seja a mesma que Rodrigo tem pela música. Mas são outras circunstâncias, outra época, outra intensidade”, comenta Lucas. “O que Juliana trouxe de Julieta é esse coração nobre e a ingenuidade, que dão força para que ela possa enfrentar as famílias. É a vontade diária e a certeza de que esse amor vai dar certo. Ela coloca o amor em primeiro lugar”, afirma Marcela.
Questionados sobre se o público pode esperar um final tão trágico quanto o de Romeu e Julieta, os protagonistas evitam dar detalhes. Lucas diz apenas se tratar de uma “história de amor que tem muitos conflitos e que cada um lida da maneira que consegue”. Já Marcela acaba decretando: “É uma história muito intensa. É tão trágica quanto”.
Entrevista // Ane Siderman, diretora de Verona
O projeto foi idealizado por você em conjunto com Leonardo Machado. Como surgiu essa ideia de vocês de fazer uma adaptação shakesperiana aos moldes de uma história brasileira?
Em 2013, o Leonardo começou a pensar nessa ideia. Ele já havia adaptado obras de Shakespeare e queria trazer esses conflitos universais para a nossa realidade. Fiz a primeira versão do roteiro, o projeto se chamava Tchekespeare. Alguns anos depois, retomamos o projeto para um edital de incentivo. Eu trabalhei na defesa do projeto e o Leonardo refez o roteiro. Fomos contemplados e seguimos pensando nos desafios para adaptar esta história.
O Leonardo conseguiu tocar algo em relação a esse projeto? Como foi para você dar continuidade sem ele?
Infelizmente não houve tempo para que ele finalizasse os conceitos que estava pensando em mudar no projeto. Nos seus últimos dias de vida, ele pediu ao amigo cineasta Paulo Nascimento para reescrever a história, trazendo mais a realidade das relações dessas famílias. Paulo refez o roteiro do zero. Para mim foi uma das coisas mais difíceis que fiz na minha vida: dirigir uma história de amor um ano depois de perder o amor da minha vida. Mas busquei forças para ressignificar este sofrimento e fazer o que ele gostaria que eu fizesse. Muitas vezes fui surpreendida no projeto por coincidências, descobri que ele esteve sempre presente nos ajudando a fazer tudo da melhor forma. Com a força de cada um da equipe, a dedicação, o carinho, juntos conseguimos fazer esta série. Foi um trabalho coletivo de muita união e força.
A história de amor de Rodrigo e Juliana é menos trágica do que Romeu e Julieta?
Não costumo comparar, pois existem diferentes tipos de amor e intensidades. A relação de cada um tem que ter em conta a intimidade, a confiança, o companheirismo e a paixão. Mas Romeu e Julieta eram apaixonados, na história eles não tiveram a chance de conviver e viver mais profundamente este amor. Já Rodrigo e Juliana estavam vivendo este amor há alguns meses em uma cidade grande antes de retornarem as fazendas deles. É difícil dizer que o tempo convivendo juntos possa ser comparado, pois a intensidade de cada um é diferente. Acredito que a tragédia se dá na quebra do sonho de viver este amor em ambas as obras.
Shakespeare foi um autor atemporal, até por isso acredito que vocês buscaram usar frases dele (os créditos iniciais dos quatro episódios da primeira temporada carregam frases de Shakespeare). Mas como foi o processo de escolha desses trechos que estariam nos episódios?
Quando estávamos finalizando a montagem e revisando os créditos iniciais lembrei da série Sonho americano. O último projeto que fiz com o Leo, ele ajudou na montagem e pediu para incluir frases no início de cada capítulo. Comentei ao montador Márcio Papel que havia lembrado disso, não sabia o porquê, mas achava que era um recado do Leo para fazer o mesmo em Verona. Eu tinha lido diversas obras de Shakespeare e já conhecia algumas frases, no episódio 1 escolhi uma frase que o Leo sempre dizia: “o mundo é um palco e nós somos apenas atores que entram e saem de cena”. É uma homenagem a ele. A frase do episódio 2 tem a ver com a relatividade do tempo e como o tempo para os que amam se eterniza. A compositora Cecília Lopes, do Rio Grande do Sul, fez uma música para a série inspirada na história de Rodrigo e Juliana e também em minha história com o Leo. A música coincidentemente fala sobre isso. A frase do episódio 3 trata de um conceito amplamente explorado na trama: a postergação. E encaixa com o conflito central do episódio. A frase do episódio 4 é a última fala da obra de Romeu e Julieta. E trata de como as pessoas lidam com essa tragédia.