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Um lugar ao sol para Daniel Satti, o “pai da Carmen”

Publicado em Comportamento, Entrevista, Filmes, Novela, Perfil, Séries, Streaming

O ator de 49 anos tem trajetória bem-sucedida nos palcos e no audiovisual e explica por que sente falta de um protagonismo na tevê

 

Patrick Selvatti

 

Reconhecido nas ruas na última década pelo “pai da Carmen (Stefany Vaz)”, o personagem Frederico Carrillo que interpretou em Carrossel, no SBT, em 2012, o ator Daniel Satti lembra com carinho da novela infantil, em que teve oportunidade de contracenar com atores mirins que, hoje, estão em evidência, como Larissa Manoela (Maria Joaquina), Maísa Silva (Valéria) e Jean Paulo Campos (Cirilo), além do atualmente cantor Nicholas Torres (Jaime). O paulistano de 49 anos, entretanto, acumula uma série extensa de trabalhos na tevê, como A favorita (2008), Cama de gato (2009), Novo mundo (2018) e Salve-se quem puder (2020), na Globo, e Pecado mortal (2013) e Os dez mandamentos (2015), na Record. Mas é no cinema e no teatro que ele encontrou o protagonismo. 

“Sou muito grato por todos os personagens que fiz até hoje na TV. Comecei com papéis menores que trazem muito aprendizado e experiência. Sou reconhecido nas ruas, pago minhas contas, vivo da arte, mas sigo na busca de trabalhos maiores que tragam notoriedade, e sonho com o dia em que o mercado me proporcione mais e melhores oportunidades. Meu objetivo é o reconhecimento do meu trabalho como ator, a fama é uma consequência”, explica.

“Carrossel”, grande papel na TV | Lourival Ribeiro/SBT

Essa oportunidade de um papel com maior relevância em novelas surgiu, novamente, em 2020, quando foi chamado para um papel de destaque em Salve-se quem puder, de Daniel Ortiz. Ele viveu Donato, o criminoso responsável pelo assassinato presenciado pelas protagonistas interpretadas por Deborah Secco, Juliana Paiva e Vitória Strada. “Havia a expectativa de que o Donato continuasse, mas veio a pandemia, a novela foi interrompida e eu acho que o personagem foi morto por isso. Ele era a única testemunha viva que poderia entregar o grupo criminoso principal da trama, foi preso no início, mas, quando a exibição retornou, anunciaram a morte dele na cadeia”, conta.

“Não quero necessariamente ser o protagonista, mas ter esse lugar de protagonismo na trama. Sigo tentando, assim, um lugar ao sol. Não cheguei aonde eu acho que eu devo”, argumenta Daniel Satti, que está em cartaz, há dois anos, como O homem mais inteligente da história, obra de Augusto Cury adaptada para o teatro. O ator dá vida a Marco Polo, o alter ego de Cury, na narrativa que é o resultado de uma pesquisa real de 15 anos feita pelo autor sobre Jesus, com o viés das ciências humanas. “Do começo ao fim, ele soube administrar o emocional de forma como nenhum de nós jamais conseguirá”, explica. O ator ouve do público que a peça — que roda o Brasil — emociona, reflete, aprende e ri. “O texto é denso, profundo, mas tem leveza”, afirma. 

Às cegas

Em 2020, Daniel Satti ganhou o prêmio de Melhor Ator no The Scene Festival, festival de cinema nos Estados Unidos, pelo curta-metragem Entreolhares, de Ivann Willig. A produção foi premiada mais de 70 vezes ao redor do mundo. Ele conta que esse trabalho foi uma surpresa em tudo, desde o instante em que o diretor o contatou, através da indicação da atriz Tuna Dwek, propondo o desafio de só conhecer a atriz com quem contracenaria no set de filmagem.

Com Marina Azze, no filme premiado “Entreolhares”

“Eu não podia saber quem era a atriz até a gravação da primeira cena, que seria de sexo. E foi muito gratificante, porque éramos dois completos desconhecidos se encontrando e o resultado foi uma cena com beleza, sem vulgaridade, muita delicadeza e naturalidade de um amor que sobressai aos obstáculos”, ele conta, emocionado, relembrando o trabalho que compartilhou com a hoje amiga Marina Azze, atriz de Varginha (MG).

Na história, eles vivem um casal em que a mulher é cega e o marido cuida dela. A produção rodou o mundo em festivais e foi premiada em todas as categorias de todos os segmentos em que competiu.

Com uma forte atuação no cinema, Daniel conta que os filmes possuem a característica de propor composições mais elaboradas e mais desafiadoras. É também o caso de Amor confuso amor, de André Luís, uma produção a qual também protagoniza e que é apresentada nas telas com um roteiro não-linear. “A narrativa é permeada por camadas de realidade e devaneios que tornaram o processo de interpretação muito rico”, avalia o ator, que está envolvido em seis projetos cinematográficos.

Um desses projetos é o curta Bom comportamento, que aborda temas como preconceito, relação familiar e relação abusiva. No projeto dirigido por Mathews Silva, ele dá vida a Thomás, o único personagem masculino. “Em princípio, um pai de família conservador, porém autoritário, egocêntrico, possessivo e seguidor de suas próprias regras e crenças limitantes que são baseadas em suas verdades absolutas. Faz de tudo para proteger sua família em prol do que acredita ser uma boa causa, a manutenção dos bons costumes e imagem ilibada perante a sociedade, por esse motivo, se vê como um bom pai de família”, descreve. “Tive a chance de contracenar com a Ângela Dippe, uma atriz pela qual tenho muita admiração e respeito. Ela faz a minha esposa, Gabriela”, acrescenta. 

Faixa preta

Enquanto isso, Daniel Satti pode ser visto, na HBO Max, no filme O  faixa preta — A verdadeira história de Fernando Tererê, de Caco Souza, onde vive Gigi, o mestre do lutador, interpretado na fase adulta por Raphael Logan. No longa, empresta o corpo a um personagem real, que acompanha de perto a trajetória do esportista Tererê. “O treinador Alexandre Paiva, o Gigi, sempre foi um paizão com olhar generoso e foi testemunha ocular da história mais bonita do jiu jitsu brasileiro”, conta Satti.

Para o paulistano criado em Belo Horizonte (MG), a experiência de viver um preparador de artes marciais veio com uma memória afetiva especial. É que Daniel teve uma rápida passagem por Tóquio na infância. O pai era engenheiro da Usiminas e foi em missão pelo governo federal para negociar o aço no Japão, em 1979. “Tenho lembranças muito fortes dessa época e um carinho muito especial pela cultura japonesa”, afirma.