Poucas séries nesse mundo conseguem ter na história a importante marca de quatro remakes, The twilight zone é uma delas. Na prática, a série comemora neste ano a marca de 60 anos, após a estreia do piloto ainda em 1959, de uma que foi a de maior sucesso para o programa. Com cinco temporadas, ela redefiniu o significado de sci-fi e ainda o grande combustível para o revival de 1980, com três temporadas.
Depois de um filme, The twilight zone voltou à tevê em 2002. Agora alça voo novamente, com uma temporada de 10 episódios. Desta vez pelo streaming da emissora CBS, o CBS All Access. A grande novidade é a presença de Jordan Peele, um dos showrunners mais badalados do momento em Hollywood. À frente de produções como Toy story e Corra!, Peele ainda atua em frente das câmeras.
A proposta de The twilight zone é clara: apresentar histórias que ultrapassam o limite da lógica e da ciência. Anedotas que habitam aquela turva área em que o tempo, as dimensões e a realidade são simplesmente relativas e incontroláveis. A famosa 5ª dimensão.
Tendo isso em vista, vale citar a criatividade da versão 2019. Com um plot inusitado e interessante, o piloto da nova fase da produção (intitulado de The comedian) é inteligente e chamativo.
O primeiro episódio da fase 2019 da produção conta a história de Samir (Kumail Nanjiani), um comediante falido e sem graça. Samir quer usar a comédia para implementar opiniões políticas e sociais no palco. Infelizmente, o nobre propósito não emplaca com um público ávido por baixarias, xingamentos, e um humor fácil e rápido.
Tudo muda, entretanto, quando Samir ganha um estranho “poder”. Ao apelar para uma comédia mais simples e popular, o homem passa a transformar as anedotas de palco em verdade. O que a priori parece divertido (já que o humorista se diverte contando histórias de como os inimigos tiveram a vida arruinada), rapidamente vira uma tragédia. Sem querer, Samir acaba com a vida daqueles de quem de fato ama.
Por mais que a ideia principal do piloto tenha sido interessante, o que atrapalha a produção é o tamanho do episódio. Demasiadamente longo, a narrativa se torna arrastada e cansativa. Não é difícil para o público mais acostumado com esse tipo de antologia (cada episódio da série é independente dos outros) se questionar por uma maior agilidade.
Tal problema, entretanto, não ocorre com o segundo episódio (nos Estados Unidos ocorreu uma exibição dupla na estreia), que poupou tempo e apresentou um conjunto da obra bem mais ajustado. Em 30 minutos, a produção contou a história de Justin (Adam Scott), um jornalista que embarca em um voo sem fim.
Justin embarca no avião sem grandes expectativas até que acaba achando um dispositivo eletrônico programado para transmitir um podcast muito misterioso. Guiado pela curiosidade, o homem se arrisca a escutar o conteúdo que foi deixado em seu assento.
Não demora muito para que Justin entenda que a história do podcast é, na verdade, sobre a queda do voo em que o próprio está (o 1015). O público passa todo o tempo do episódio colado à telinha. O homem tenta de todas as formas salvar os passageiros — com as “dicas” presentes gravação —, mas no fim, uma reviravolta digna de Game of thrones muda tudo.
O nome do segundo episódio é Nightmare at 30,000 feet (“Pesadelo a 30,000 pés”, em tradução livre) e foi baseado em um episódio de 1963 intitulado Nightmare at 20,000 feet. No icônico episódio da década de 1960, o protagonista (interpretado por William Shatner) consegue ver uma espécie de Gremlin na asa do avião, algo que nenhum outro passageiro consegue ver, levando o homem à beira da loucura (a 20 mil pés de altitude).
Até o momento, quatro episódios da nova temporada de The twiligth zone foram ao ar, e incomoda um pouco a opção dos roteiristas em poupar assuntos mais atuais. Particularmente, quando ouvi sobre a volta do programa, imaginei grande parte das histórias ligadas a tecnologia e seus “limites” para a modernidade. Algo levado pela onda Black mirror e toda a distopia envolvida na questão.
Entretanto, parece que tal vertente não está nos planos da atração. As histórias levam a ficção para um contexto mais arcaico e “sólido”, sem abrir muito espaço para aventuras “on-line” — pelo menos até o momento. Óbvio que isso não é necessariamente um problema, contudo, realmente parece uma oportunidade perdida.
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