Filme de Ryan Murphy é inspirado em musical da Broadway e debate a intolerância aos LGBTs. Confira crítica de The prom – A festa de formatura
Com a ampla carreira na televisão, o diretor e produtor Ryan Murphy criou um estilo próprio que perpassa por musicais, temáticas LGBTs, um olhar sobre a profissão do ator e o constante trabalho com artistas de grande porte de Hollywood. Todas essas características que, em alguns momentos, apareceram separadas em obras do showrunner estão reunidas no mais recente filme de Murphy, The prom – A festa de formatura, da Netflix.
A produção é uma adaptação de um musical da Broadway inspirado numa história real de uma jovem que foi impedida de participar do baile de formatura da escola em que estudava porque queria levar como acompanhante a namorada. Na adaptação cinematográfica, a história gira em torno de Emma (Jo Ellen Pellman), estudante assumidamente lésbica que se torna caso de polêmica entre os integrantes da Associação de Pais e Mestres de um colégio de Indiana justamente por quebrar os padrões de uma comunidade extremamente tradicional, ao querer ser acompanhada pela namorada Alyssa (Ariana DeBose), com quem ainda não assumiu um namoro publicamente, para a festa.
Paralelamente ao caso de Emma, o filme apresenta a história de quatro atores da Broadway que vivem momentos desastrosos na carreira e enxergam na tragédia da menina de Indiana uma forma de conquistar publicidade para o novo espetáculo, ao qual protagonizam e que vai de mal a pior, a partir do ativismo. São eles: Dee Dee Allen (Meryl Streep), uma atriz vencedora de dois Tony (o Oscar do mundo musical); Barry Glickman (James Corden), um ator tão narcisista quanto Dee Dee, mas com um passado similar ao de Emma; Angie Dickinson (Nicole Kidman), uma atriz de musicais que está fadada aos trabalhos no coro; e Trent Oliver (Andrew Rannells), uma espécie de faz tudo dos musicais.
Análise de The prom – A festa de formatura
Inicialmente, o longa-metragem apresenta o mundo da Broadway para depois migrar para Indiana, onde se passa grande parte da narrativa. A fusão entre esses dois mundos — a modernidade de atores de Nova York e uma sociedade antiquada de uma cidade interiorana dos Estados Unidos — é um choque de realidade. É a partir daí que Murphy busca fazer humor para falar sobre a intolerância às pessoas LGBTs. Tudo sob muito exagero. O que em alguns momentos funciona, em outros não.
No núcleo dos atores da Broadway quem rouba o filme para si é Meryl Streep. Todas as vezes em que a artista aparece demonstra como a câmera a ama. É difícil não prestar atenção no trabalho feito por Meryl, que entrega uma personagem a cara da sociedade atual, arrogante e egoísta.
Ela também se destaca nos momentos musicais. A parte mais forçada está na humanização da personagem que passa pela interação com o personagem de Keegan-Michael Key, o diretor da escola, Hawkins. Mesmo assim Meryl Streep mostra que consegue se virar bem até quando o roteiro não ajuda. Apesar do esforço do Keegan, o romance entre os personagens não convence.
Mas se Meryl é a estrela do grupo de atores veteranos entre os novatos, ao menos três mostram que têm tudo para ter um futuro brilhante e ainda aparecer muito em futuros trabalhos de Murphy.
A primeira delas é a a protagonista Jo Ellen Pellman, super carismática e com uma semelhança tremenda com Drew Barrymore. Ela torna Emma uma personagem facilmente adorada pelo espectador. Já Ariana DeBose e Logan Riley, que dá vida a jovem padrão Kaylee, mesmo que tenham papéis menores são do tipo que conseguem chamar a câmera para si. Ambas fazem isso muito bem.
Apesar de ter uma história boa, a produção poderia ser menor. Há momentos em que o filme, com mais de duas horas de duração, se prolonga desnecessariamente, sem dar devido espaço a personagens e atores. São os casos do papel de Nicole Kidman e de Kerry Washington, que vive a mãe que lidera a rechação à Emma — numa personagem que é o oposto do que ela interpretou em Little fires everywhere, mais recente trabalho, o que reforça o bom trabalho da atriz.
Ambas estão subaproveitadas em participações quase que de luxo. O que é uma pena, porque Kerry ainda tinha muito mais a mostrar como a vilã do filme, e Nicole deu um vislumbre de como Angie poderia ser mais relevante na trama, porque os momentos — mesmo que pequenos — da personagem com a protagonista são bem mais convincentes do que com Barry.
The prom – A festa de formatura está longe de ser uma das obras-primas de Ryan Murphy, mas é um filme que consegue passar uma mensagem importante sobre diversidade, com certa leveza e abusando das críticas às atitudes retrógradas por meio da piada e dos números musicais, o que diverte.