Seis temporadas depois, The Handmaid’s Tale chega ao grande final. Em um episódio intitulado Execution, a saga de June Osbourne — brilhantemente interpretada por Elisabeth Moss — é concluída entregando ao público a merecida excelência que marcou a produção no começo do primeiro ano, e que se perdeu em diversos momentos ao longo da série.
É curioso refletir sobre o encerramento de uma temporada tão curta (foram somente nove episódios na sexta temporada, com um episódio especial no final em um mundo “pós-Gilead”). A grande sensação que fica é que The Handmaid’s Tale conseguiu entregar um excelente desfecho ao focar no mais simples, voltando às suas raízes.
Engana-se quem esperava a grande derrocada de Gilead — o regime teocrático que substituiu os Estados Unidos em um futuro distópico — com bombas, explosões e cenas de guerra. O futuro de Gilead ficou apenas implícito e, de certa forma, foi perfeito assim.
Todas as vezes que The Handmaid’s Tale tentou ensaiar grandezas, tropeçou. E, nesta sexta temporada, parece ter aprendido a lição. Os diálogos foram o ponto central de todo o desenrolar da história. As atuações de um elenco de primeira se destacaram por meio de olhares, lágrimas e sorrisos. O tom contido também ajudou a amarrar as pontas do roteiro de forma mais sóbria. Que prazer foi assistir a histórias que se conectavam a momentos anteriores da série — era possível perceber uma linha clara, com o cuidado necessário para contar bem aquela narrativa.
É claro que nem tudo foram flores. A transição de Nick (Max Minghella) para vilão pareceu forçada e apressada. O monólogo que ele entrega no quarto episódio (Promotion), falando sobre como os homens “comuns” do passado haviam ascendido socialmente em Gilead, no entanto, foi brilhante.
Outra falha, que se repetiu ao longo da temporada, foi a presença de Luke (O. T. Fagbenle) e Moira (Samira Wiley). O marido e a amiga de June acabaram relegados a uma presença morna e sem impacto. O oposto de Lawrence (Bradley Whitford) e Janine (Madeline Brewer), que, apesar de repetirem as motivações dos personagens, contribuíram positivamente para o avanço da trama e para manter a narrativa em um contexto mais real e crível.
A sexta temporada também apresentou novos personagens, como Gabriel (Josh Charles) que tive importância pontual. Mas é nos personagens clássicos que vale a reflexão: Serena (Yvonne Strahovski) e Tia Lydia (Ann Dowd). Esta foi a temporada dos medalhões apagados. Se a transição de Nick para vilão foi apressada, a de Tia Lydia, ao contrário, foi ainda mais atropelada. Já Serena prometia ser a “nova Messias” de Gilead. Pena que a trama foi abandonada, e a participação no fim do regime teocrático foi desconfortavelmente ínfima.
Agora, não tem como falar de atuações em The Handmaid’s Tale sem mencionar a excelência de Elisabeth Moss. A série tem como marca registrada as rugas e lágrimas de June — e não por acaso. Elisabeth conseguiu compreender e transmitir o sofrimento social das mulheres por meio da personagem. June nem sempre foi favorecida pelo roteiro ao longo das seis temporadas, mas Elisabeth sempre conseguiu evitar a repetição e o cansaço. Por fim, aquele rosto que expressava ao mesmo tempo tantas emoções e nenhuma, contemplando o avião explodindo com os últimos Comandantes de Gilead, mostrou a grandeza da atriz.
Um longo caminho até o grande final
The Handmaid’s Tale começou brilhante, mas se perdeu e se repetiu nas segunda e terceira temporadas, ousou na quarta com a saída de June de Gilead (finalmente!), voltou a se repetir na quinta, com um enredo disperso entre o Canadá e Gilead, e conseguiu se reerguer na sexta temporada.
Por muito tempo The Handmaid’s Tale parecia falar as mesmas coisas e não sair do lugar. Mas, no final, a produção retomou o rumo certo. É justo apontar que os últimos nove episódios da saga de June remeteram àquele piloto genial e promissor que arrebatou o mundo ainda no começo de 2018.
Vale lembra que no Brasil, The Handmaid’s Tale é transmitida pela Paramount+.