Ted Lasso é a comédia Sessão da tarde da Apple TV+ (e isso não é ruim)

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O streaming da plataforma amplia a oferta de conteúdos e, como não poderia faltar, Ted Lasso representa a comédia simples e despretensiosa para toda a família

Não faz muito tempo que a Apple TV+ chegou ao Brasil com uma nova onda de conteúdos por streaming. A primeira leva de séries apostou no mais alto escalão de Hollywood, seja em The morning show, com o protagonismo de Jennifer Aniston, ou em Defending Jacob, com Chris Evans. E se as produções elegíveis para a temporada de premiações são importantes para chamar a atenção do público, mais importantes ainda são as séries que conversam, e retêm, uma parcela ampla de audiência. É exatamente neste filão que se encontra Ted Lasso no streaming da maçã (inclusive já renovada para uma segunda temporada). A produção — que estreou no meio de agosto — é uma comédia simples e despretensiosa, mas ao mesmo tempo adorável e aconchegante.

O ponto de partida da história é a chegada do treinador Ted Lasso (Jason Sudeikis) à Inglaterra para treinar o time de futebol AFC Richmond. O grande problema é que toda a experiência de treinador de Lasso é com o futebol norte-americano, no Kansas, e quando a bola vai para os pés no esporte do país da Rainha, a confusão é certa. E que bom seria se Lasso tivesse de enfrentar somente o esporte que vai treinar.

Crédito: Giphy/Apple TV — Ted Lasso é a comédia água com açucar da Apple TV+

Na prática, a mudança do bom homem é uma estrada esburacada. Rebecca (Hannah Waddingham), a dona do AFC Richmond, tem como principal objetivo arruinar o trabalho de Lasso, já que o time foi herdado na separação com o ex-marido (um cafajeste de mão cheia), e agora virou uma arma para se vingar do homem que a traiu durante anos. Dentro do campo, Lasso também tem de lidar com o hostilidade dos jogadores, que não lhes são muito acolhedores. A “fuga” dos Estados Unidos também teve uma razão além de treinar um novo time: Lasso passa por um momento delicado no próprio casamento.

O carro-chefe do roteiro, entretanto, é mostrar o quanto as dificuldades não abalam o treinador. No melhor estilo “bobo alegre”, Lasso é um daqueles caras que apostam tudo no otimismo e na benevolência — uma caricatura do norte-americano interiorano, mas não conservador. A principal bandeira como novo treinador é simples: ajudar na evolução dos jogadores como seres humanos, e não tanto vencer partidas na principal liga de futebol do país.

Crédito: Giphy/Apple TV — O otimismo (e desprendimento) de Lasso é a grande lição da série

E nesse espírito de solicitude, companheirismo e gentileza, Lasso acaba seguindo em frente e colecionando novas amizades e aventuras bem longe de casa.

Importante lembrar que o Ted Lasso não é um personagem inédito. Ainda em 2013, ‌Jason‌ ‌Sudeikis interpretou o treinador em uma propaganda do canal NBC bem nos moldes em que chegou a série da Apple TV +. Na ocasião, o canal aberto norte-americano estava começando a transmitir os jogos de futebol da Europa e o personagem foi a personificação do estadunidense que não entendia muito do esporte, mas tinha um “bom coração” para aceitar a “nova” competição. Ted Lasso é um raro exemplo de uma peça publicitária que conseguiu migrar para o mundo das séries de tevê.

Ted Lasso é uma comédia para se sentir bem

Declaradamente uma comédia, é estranho acompanhar Ted Lasso sem rir na grande maioria dos episódios até o momento exibidos (cinco, em um total de 10. Lembrando que para Ted Lasso, assim como para Defending Jacob, a Apple TV+ adotou o sistema de publicação semanal de episódios). Se no piloto a grande impressão era de que a comédia seria focada nas “mudanças” entre os esportes que Lasso treina, na prática, as piadas se apoiam essencialmente nas diferenças culturais entre norte-americanos e ingleses (e sim, tem a tradicional piada dos “carros dirigidos ao contrário”).

O grande ponto é que a produção não é necessariamente para gargalhar (como em Veep), mas sim para fechar arcos da história de um forma leve e mais aconchegante. Agrada como o treinador que só quer fazer o bem consegue sair de situações delicadas com uma piadinha sobre o quão ruim chá realmente é.

Crédito: Giphy/Apple TV — Rebecca é uma espécie de “vilã” da série

Ajuda nessa equação a experiência de Jason Sudeikis em outras produções tão leves e despretensiosas como Ted Lasso (em exemplo Família do bagulho e Quero matar meu chefe). É difícil imaginar outro ator tão confortável quanto Sudeikis no papel do “palhaço da corte” de Ted Lasso. Seja com mil caretas ao experimentar a comida apimentada da Índia ou ao levar uma bolada na cara de uma criança, o ator é eficaz nas idiossincrasias de Lasso e ajuda o público a continuar na saga do imigrante bondoso. Para os mais saudosistas, a produção lembra — guardada as devidas proporções — Coach, a clássica sitcom da ABC, que foi ao ar de 1989 a 1997. Importante lembrar também que Sudeikis faz parte da equipe que criou e da produção executiva da série.

No fim do terceiro episódio, Lasso tem de passar pelo crivo de um repórter durão para um perfil em um importante jornal britânico. Curiosamente, as últimas palavras do texto podem concluir as primeiras impressões de Ted Lasso de forma eficaz: “Embora acredite que Ted Lasso sofrerá uma derrota, e que Richmond será rebaixado, não ficarei feliz quando isso ocorrer, porque não posso evitar torcer por ele”.

Ronayre Nunes

Jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). No Correio Braziliense desde 2016. Entusiasta de entretenimento e ciências.

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