Crítica com spoilers: No fundo, Dark era uma verdadeira história de amor

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Produção chegou ao fim com a disponibilização dos oito episódios na Netflix. Confira a crítica da terceira temporada com spoilers do final de Dark!

Caso você ainda não tenha assistido aos oito episódios da terceira temporada de Dark, mas quer uma expectativa sobre o final sem spoilers, deixe esse texto e leia esse aqui. Caso você já tenha assistido ou ainda gosta de conferir spoilers, esse é o seu lugar! Não esqueça deixar nos comentários o que você achou da conclusão da trama alemã!

Assim que a segunda temporada de Dark chegou ao fim, a série abriu todo um novo enredo ao apresentar uma Martha (Lisa Vicari) de outra Terra. Já não era mais só sobre viagem no tempo. Agora, Dark passava a ser também sobre multiverso. E é assim que a terceira temporada começa, explorando esse outro mundo que é, na verdade, um espelho da Terra a qual o espectador foi apresentado.

Tudo que acontece em uma Terra, também acontece na outra. Quer dizer, quase tudo. Jonas Kahnwald (Louis Hofmann) não existe nesse outro mundo — lembram quando Claudia (Lisa Kreuzer) disse que conhecia um mundo sem Jonas e, que, não era melhor? Pois bem, está aí! –, porque Mikkel (Dean Lennard Liebrenz) nunca viajou no tempo nessa Terra, nem se tornou Michael (Sebastian Rudolph), pai de Jonas. Por motivos óbvios, já que a série mostrou que foi o próprio Jonas que levou Mikkel para 1986. Apesar desse único aspecto diferente, todo o resto acontece (incluindo o apocalipse de 27 de junho de 2020), porém, é o caminho que muda.

A série acerta ao dedicar o primeiro episódio Deja vu só para a segunda Terra, num enredo extremamente nostálgico ao repetir mesmo que, de outra forma, a narrativa da primeira temporada. Também é um grande trunfo o segundo capítulo, Os sobreviventes, ser dedicado a mostrar aonde cada personagem está localizado depois do apocalipse. Há espaço para ambientar os sobreviventes em 2020 e também os viajantes, esses estabelecendo para cada ano cada um foi: 1888 para Jonas adulto, Franziska (Gina Stiebitz), Magnus (Moritz Jahn) e  Bartosz (Paul Lux) e os anos 1980 para Katharina (Jördis Triebel).

Crédito: Netflix/Divulgação

Ao introduzir essa segunda Terra, Dark dá mais tempo de tela para Martha, que, agora, de fato divide o protagonismo com Jonas. Da mesma forma que o personagem tem suas versões de diferentes tempos coexistindo, Martha também. E, assim como Adam — que é mesmo Jonas –, ela está manipulando os acontecimentos. A diferença é que Martha não quer quebrar os ciclos. Ela quer que eles aconteçam exatamente da mesma forma, enquanto Adam acredita que o certo é acabar com eles e, para isso, busca o início ou uma brecha.

A brecha foi encontrada por Martha, que são as frações de segundo de um momento em que o tempo para e uma outra decisão pode ser tomada. Por isso, a Martha da outra Terra consegue ser uma via não descoberta por Jonas (nas versões mais velhas). Assim que Martha é assassinada e Jonas chora a morte dela na casa Kahnwald, essa realidade se abre para duas vias, uma em que ele vai até a outra Terra, e a outra que ele segue para se tornar o Jonas que conhecemos, mantendo sempre as Terras unidas nesse loop infinito.

É nessa hora, inclusive, que a série mostra que também há uma espécie de Sic mundus na outra Terra, formado por personagens diferentes. Em ambos os casos, cada um deles têm uma missão em manter o ciclo se repetindo diversas vezes. O ponto negativo é que, diferentemente de como aconteceu com os integrantes do Sic mundus da Terra de Jonas, que foram muito bem apresentados, os da outra Terra são apenas “jogados” na trama, sem explicar as verdadeiras motivações de aceitarem participar dos fatos. Mas nada que atrapalhe de fato o desenrolar desse enredo.

Conexão das famílias

Da mesma forma que as Terras estão conectadas, porque tem Martha e Jonas como o início de tudo por serem a espécie de “Adão e Eva desses locais” — casal, que, inclusive, gerou um fruto, o personagem dos trailers e que aparece sempre acompanhado de outras versões –, as quatro famílias protagonistas de Dark (Nielsen, Kahnwald, Tiedemann e Doppler) ficam, a cada episódio, ainda mais conectadas, mostrando que é quase impossível desfazer esse emaranhando.

Para os mais atentos, a própria série dá spoilers da verdadeira árvore genealógica de Dark — apesar de também enganar. Martha e Jonas são o elo que conecta tudo em loop, mas são Bartosz e Silja (a menina que aparece no futuro ao lado de Elisabeth), que é a filha de Hanna (Maja Schöne) com Egon Tiedemann (fruto da relação deles nos anos 1980) que volta no tempo quando a mãe decide procurar por Jonas, os pais de Agnes (Antje Traue) e Hanno/Noah (Mark Waschke), que dão origem a toda árvore Nielsen.

A série também explica mais sobre a origem de Charlotte (Karoline Eichhorn), filha de Elisabeth e Noah. Mas ainda explora pouco a verdade sobre o pai de Tronte (Walter Kreye), o filho de Martha e Jonas. Falando em Tronte, boa parte da série, o público é levado a acreditar que o Nielsen é pai de Regina Tiedemann (Deborah Kaufmann), o que Dark revela mais tarde não ser verdade, enredo importantíssimo para as descobertas de Claudia e que tem a ver com a conclusão da trama.

Verdadeiro início

Não é Martha e nem Jonas/Adam que descobrem o meio de resolver e quebrar os ciclos de Dark. É Claudia. Da mesma forma que Martha mantém os ciclos por amor, ao filho — personagem que poderia ser muito melhor explorado, porém, não acontece –, Claudia quer quebrá-los para parar de ver a filha Regina morrer nas duas Terras.

É nesse momento que a trama de Dark fica complexa — de novo –, porque o espectador é apresentado ao real início de tudo. Foi H.G. Tannhaus (Christian Steyer), o “pai de Charlotte” e autor do livro sobre viagem no tempo, numa outra Terra, que acabou criando esses dois mundos como uma anomalia de uma tentativa de voltar no tempo e impedir a morte do filho, da nora e da neta. Ou seja, também foi por amor que Tannhaus acabou criando esse ciclo sem fim com Martha e Jonas.

Com essa informação, Jonas e Martha, em suas versões jovens, seguem para essa outra Terra, para tentar mudar o que aconteceu e colocar um fim no loop de Widen. A dupla consegue em um final emocionante, em que impedem a morte da família de Tannhaus e, consequentemente, apagam as próprias existências. Sobram, então, nessa Terra principal, apenas os personagens que estavam de fora desse emaranhado Hanna, Regina, Katharina (Jördis Triebel) e Peter (Stephan Kampwirth), cada um representando uma família do início da série, com a exceção de que Katharina é Albers, sobrenome da mãe, e não Nielsen, clã apagado com o fim das outras Terras.

Pontos altos e baixos da terceira temporada de Dark

Crédito: Netflix/Divulgação. Cena da terceira temporada de Dark da Netflix.

A temporada final de Dark mantém a complexidade das outras. O tempo todo a série cria novos emaranhados em mistérios que, aos poucos, vão se resolvendo. A maior parte deles tem uma solução coerente e muito bem explicada. Há um detalhe aqui e ali que poderiam ser melhor explorados ou terem tido outros caminhos.

O filho de Martha e Jonas foi um dos personagens que poderia ter tido mais aprofundamento, assim como Silja e até Aleksander (Peter Benedict). Também é preciso ressaltar negativamente a solução um tanto estranha da série sobre o pai de Regina. Fica claro que o enredo precisava tirá-la do emaranhado, mas a solução foi um tanto mal explicada.

De modo geral, Dark conseguiu cumprir seu papel e mostrou que os criadores Baran bo Odar e Jantje Friese sabiam desde o início qual caminho gostariam de seguir, o que nem sempre acontece no mundo das tramas seriadas. A produção explorou muito bem as questões filosóficas e científicas, explicando quando necessário e deixando nas entrelinhas em outros momentos, num modo interessante e instigante para o espectador.

Apesar de abordar viagem no tempo e o multiverso, a narrativa de Dark era uma verdadeira história de amor. Todos os personagens ali tiveram atitudes galgadas pelo sentimento, seja ele fraternal, seja ele amoroso. Com uma boa conclusão, Dark se firma na história das produções seriadas, sendo uma série que rompeu barreiras da língua e da origem, e também da narrativa.

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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