Patrick Selvatti
O ator Renan Monteiro abriu o peito, arregaçou as mangas e tem suado a camisa para enfrentar um grande desafio nessa nova empreitada de sua carreira: a série Reis, da Record. Recém-chegado, já na oitava temporada da produção bíblica, para interpretar o dúbio Hadade, ele afirma que a preparação tem sido puxada, com muitas aulas de luta, de montaria e de espada, já que virão muitas cenas épicas de batalhas.
“Tenho me preparado fisicamente para estar disposto a viver este momento. Logo, tudo se torna um desafio: academia, alimentação, tempo de sono e mesclar tudo isso com tempo de decorar texto, mais minha vida pessoal e meu trabalho de professor de teatro. Tem sido desafiador”, admite, em entrevista exclusiva. Na trama, Hadade é um personagem obstinado. “Ele é pelo poder, eu sou obstinado pela arte e por boas oportunidades de trabalho”, revela o carioca de 37 anos, que começou muito cedo a estudar o ofício das artes e luta para conquistar o seu espaço.
Como não poderia ser diferente na retratação de uma época tão distante, a narrativa de Reis traz fortes elementos do patriarcado, com situações bem machistas, mas Renan não problematiza. “Para dar vida ao personagem, embarco na trajetória dela na trama, vivendo cada cena, cada relação estabelecida. Quanto mais distante de mim, mas perto do personagem estou”, reforça.
Renan nasceu na comunidade do Vidigal e orgulha-se em dizer que foi lá, através do Nós do Morro — companhia que revelou nomes como Babu Santana, Roberta Rodrigues, Thiago Martins, Marcello Melo Jr e Jonathan Azevedo —, que aprendeu o que hoje desenvolve na tevê, no teatro e no cinema. “O grupo [Nós do Morro] foi e sempre será minha escola, meu ponto de partida, e o que mantém meus pés no chão. Tenho muito orgulho de onde vim, e ser referência para a nova geração de talentos, principalmente jovens pretos e periféricos é gratificante”, conta ele, que atua como educador na comunidade. Ele dá aulas de teatro para crianças, ensinando o que aprendeu com seu mentor, Guti Fraga, líder da companhia. “Poder ser um elo de possibilidades na vida das pessoas é uma missão. Agradeço ao universo por isso”, ele pontua.
Antes desse trabalho na Record, Renan passou pela Globo, onde esteve em diversas produções, com destaque para as novelas Novo Mundo (2017) e Nos tempos do Imperador (2021). Nessa última, o ator teve a oportunidade de dar vida a ninguém menos que Machado de Assis (1839-1908). “Foi um privilégio. Um homem preto, acadêmico e simplesmente um dos maiores romancistas do mundo. É importante que as pessoas saibam disso!”, assinala o carioca, que ressalta, ainda, o valor de ter nas produções de teledramaturgia debates sobre racismo e machismo estrutural. “As produções audiovisuais têm seu papel fundamental na sociedade de não só entreter, mas também de dar voz às questões socioculturais da sociedade. E isso é urgente”, defende.
Nessa mesma época, o multiartista foi escolhido para “ressuscitar” outra personalidade emblemática na tevê. Ele seria Carlos Gomes, o mais importante compositor de ópera brasileiro, que viveu entre 1836 e 1896, na produção batizada de O selvagem da ópera, que a escritora Maria Adelaide Amaral estava desenvolvendo para a Globo. Renan relembra que foi uma etapa dura de testes até ser escolhido para dar vida ao grande maestro, outro homem preto e um dos maiores maestros do mundo. “Eu estava radiante. Começamos a preparação e, diga-se de passagem, uma árdua preparação, com aulas de canto lírico, de piano, de regência, um mergulho profundo no mundo da ópera e na cultura italiana”, descreve o artista.
O projeto, entretanto, foi engavetado, e Renan encara com resignação o fato de seu protagonista não ter acontecido. “Veio a pandemia e, graças a Deus, estou vivo. Trabalhos vão e vêm. Eu sou um sobrevivente. A arte é minha filosofia de vida, minha fé, e não é fácil viver dela em um país tão desigual como o Brasil”, conclui Monteiro, que também pode ser visto, pela Amazon Prime, no filme Estação Rock. Nesse longa de 2020, dirigido por Pablo Loureiros, Renan divide o protagonismo com Caio Paduan, Jaffar Bambirra, Francisco Vitti e Rodrigo Dorado — que vivem os integrantes de uma banda.
O papel principal na tevê, contudo, ainda segue na lista de desejos. Renan Monteiro reforça que, para isso, precisa de boas oportunidades. “Elas aparecendo, darei sempre o meu melhor. Por ora, continuarei estudando, estudando e estudando”, finaliza o ator, que acumula inúmeros trabalhos no Brasil e ostenta no currículo apresentações em Portugal e na Inglaterra.
E, ao que tudo indica, o Universo está disposto a se abrir para o filho de Vidigal. No fechamento desta matéria, vazou a informação de que o retorno de Renan Monteiro a Globo é dado como certo, no remake de Renascer. Ele deve interpretar o filho mais velho de José Inocêncio, personagem que será defendido por Marcos Palmeira. José Augusto, na primeira versão, marcou a estreia de Marco Ricca na tevê.
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