Série Todo dia a mesma noite revive o pesadelo do incêndio da boate Kiss com coragem e emoção

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Todo dia a mesma noite leva à reflexão e emociona ao mesmo tempo. Série estreia amanhã (25/1) no catálogo da Netflix. Leia a crítica!

Na sequência inicial da série Todo dia a mesma noite, que estreia amanhã (25/1) na Netflix, Mari apaga as velinhas do bolo comemorativo de seus 20 anos. Ao lado da família e de poucas melhores amigas, a menina não vê a hora de comemorar mesmo é na boate, com outros jovens. Impossível não ligar a chama da vela ao destino de Mari, uma das 242 vítimas do incêndio da boate Kiss, tragédia em Santa Maria (RS) que abalou o país há 10 anos.

Em cinco episódios, Todo dia a mesma noite revisita a tragédia. A série consegue causar um desconforto, num lugar entre a tristeza pelas vítimas e a indignação pela impunidade dos responsáveis até hoje. O roteiro de Gustavo Lipsztein começa com a apresentação de outros jovens, que assim como Mari, vão à Kiss aquela noite. Não é fácil não se afeiçoar àqueles meninos cheio de sonhos que queriam apenas se divertir.

O segundo episódio é o mais duro de toda a série. Vale separar a caixa de lenços antes de assistir. Intitulado Luto, o episódio é dedicado aos primeiros momentos dos pais ao saber que havia um incêndio na boate que estava pegando fogo. Do susto pela notícia ao desespero por ter perdido um filho, passando pela negação e pela peregrinação por hospitais em busca de notícias ou de um corpo. O episódio é dilacerante. Muito pela tragédia, claro. Mas não se pode deixar de falar da performance dos atores que interpretam esses pais. Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Débora Lamm, Leonardo Medeiros e Thelmo Fernandes se destacam em um elenco em que todos estão muito bem.

Todo dia a mesma noite não para no drama dos pais e familiares enlutados. Ela avança rumo à briga na Justiça para que responsáveis sejam punidos por uma sucessão de erros, como lotação acima do permitido, pouca saída de emergência, alvará de funcionamento sob suspeita, material altamente inflamável revestindo as paredes e teto e um sinalizador disparado pela banda, estopim que iniciou o incêndio. O descaso da Justiça parece ficção de tão absurdo: manobras são feitas para que políticos e seus afilhados não sejam responsabilizados, recursos infindáveis levam o caso a não ter uma solução até hoje (são 10 anos!) e pais chegaram a ser processados pelo simples fato de quererem justiça.

Todas essas trapalhadas são corajosamente expostas na série, que muitas vezes parece apenas uma ficção sem conexão com essa tão absurda realidade. Todo dia a mesma noite emociona ー e muito!. Mas também cumpre o papel de não deixar a sociedade esquecer essa tragédia, de lançar luz sobre um caso que, se resolvido, poderia ajudar na prevenção de outras mortes, no rigor na fiscalização de outras boates. É a arte a serviço também da reflexão.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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