Série Sentença mescla tribunais e dramas pessoais

Compartilhe

Série nacional Sentença humaniza personagens complexos e escancara as diferenças sociais no sistema penitenciário brasileiro

“Todos têm direito à defesa.” Esse é o lema da renomada advogada criminalista Heloísa (Camila Morgado), protagonista de Sentença, que o Amazon Prime Video estreou sexta-feira (15/4). É também o que rege grande parte dos personagens e das ações da boa série que tem direção de Anahí Berneri e Marina Meliande.

Uma curiosidade de Sentença é que ela é uma daquelas séries de tribunal em que os americanos se especializaram. Aqui, Heloísa defende Dinorah (Lena Roque), provável assassina do companheiro, em ação com tintas tupiniquins. “Adaptamos o formato à Justiça brasileira. Podemos mostrar como funciona o nosso sistema judiciário, não o americano. Contamos com uma assessoria jurídica para isso”, afirma a diretora Marina Meliande.

“(A série de tribunal) É um subgênero do drama que funciona muito bem. O roteiro sofisticado me chamou muito a atenção quando li a série, com o cotidiano de advogados e procuradores fora dos tribunais também”, completa Malu Miranda, head de conteúdo original brasileiro do Amazon Studios. Em Sentença, vemos Heloísa envolvida com processos e com a vida profissional, mas também a leoa que ela vira quando, por exemplo, o filho é vítima de racismo numa briga de trânsito ou às voltas com a crise com a sogra.

Mas não se engane. Heloísa não é daquelas personagens infalíveis, acima do bem e do mal. E nem se coloca assim. A advogada está presa a uma questão do passado que a atormenta e a leva a estabelecer uma ligação com Zeca (Rui Ricardo Diaz), chefe de uma das facções criminosas mais poderosas do país. Tal ligação pode opor Heloísa ao marido, o promotor Pedro (Fernando Alves Pinto), e à esposa de Zeca, Moira (Heloísa Jorge).

“Os personagens de Sentença não são bonzinhos ou totalmente maus. Gosto de personagens assim. Eles são complexos, feitos do que a gente é, das escolhas que a gente faz na nossa vida. No início, você acha que a Heloísa é uma heroína, mas aí ela se depara com uma escolha difícil. E o público se pergunta: ela vai atravessar essa fronteira ética? As pessoas se identificam com uma pessoa que acerta e erra e isso faz com que ela fique tão perto do público. Esse lugar da heroína que pode errar é fundamental para que a audiência possa fazer a escolha dela sobre se a ação está certa ou errada”, afirma Camila.

Personagens

A atriz Heloísa Jorge ressalta que a importância de Sentença vai bem além das cenas do julgamento de Dinorah: “O grande desafio (do ator) é humanizar esses personagens. Mais do que tratar do sistema prisional brasileiro, mais do que falar sobre a corrupção, o racismo dentro do sistema prisional, as injustiças, a nossa série fala sobre relação. Não é colocar o ‘mas’. É colocar o ‘e’. O Zeca é o líder de uma facção criminosa e um pai maravilhoso. A Moira é apaixonada pelo Zeca e também parceira dele nos negócios do crime e também uma ótima mãe”.

Rui Ricardo Diaz concorda e vai além: “A gente tem essas questões do sistema prisional que são muito fortes e pungentes no nosso país. Elas chamam a atenção e é importante que elas chamem, mas a gente não pode esquecer nunca do humano. Mesmo figuras que a gente considera terríveis têm pai, mãe”.

Lena Roque conta que, para se preparar para viver Dinorah, foi três vezes ao centro de detenção feminina, em São Paulo. O que ela encontrou foi um tipo diferente de desigualdade social do que estamos acostumados associar ao termo. O parâmetro aqui não era apenas financeiro ou racial. “Eu vi mulheres muito sozinhas. As pessoas, a família, os amigos desaparecem. Isso não acontece na penitenciária masculina. Quando a Dinorah encontra a Heloísa, ela encontra um apoio”, conta.

Debate

Mesmo criada há mais de quatro anos e rodada há quase dois, Sentença acaba trazendo um debate necessário em um ano eleitoral. A série expõe, com coragem, uma ferida que a sociedade brasileira teima em não ver. “Falamos do Brasil desigual, que, infelizmente, poderia ser de qualquer época. Estrearmos em um ano eleitoral foi coincidência”, afirma Marina Meliande.

Fernando Alves Pinto reforça que a ideia também é levar o público a refletir sobre o encarceramento em massa, especialmente o feminino. “É um problema estrutural de desigualdade social”, explica. Para o ator, Sentença pode, sim, lançar uma importante luz.

“A série contribui para o debate, com certeza, ao mostrar a cegueira da sociedade com relação à desigualdade. A arte é uma lanterna. É o que faz a gente enxergar as coisas. O dever dela é tirar o olhar do óbvio para você poder olhar mais longe”, encerra.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

Posts recentes

Bridgerton mostra que é “tudo isso mesmo” em nova temporada

O Próximo Capítulo assistiu aos episódios iniciais da série e passa as primeiras impressões sobre…

2 dias atrás

O reinado da global Sharam Diniz, agora no Brasil

Supermodel internacional, a atriz angolana Sharam Diniz, de 33 anos, vive Rainha de Sabá em…

7 dias atrás

Mary Elizabeth Winstead comenta a estreia de Um cavalheiro em Moscou

A minissérie da Paramount+ adapta um livro sobre Revolução Russa e esperança por dias melhores,…

7 dias atrás

Bridgerton retorna e elenco destaca a “temporada das mudanças”

Sucesso da Netflix, Bridgerton estreia terceiro ano focado em romance de Colin e Penélope, e elenco…

7 dias atrás

Samuel Melo: o ator mirim cresceu e tornou-se príncipe

Revelado aos 9 anos vivendo um menino escravo traficado, o carioca de 34 anos, nascido…

2 semanas atrás

Hacks retorna para terceira temporada com mesma essência e graça

O Próximo Capítulo já assistiu o início da série e garante que embate geracional de…

2 semanas atrás