Série da HBO Industry traça duro panorama do mundo dos negócios em que as cifras importam mais do que as pessoas. Leia a crítica!
O selvagem mundo corporativo de Succession e os hormônios à flor da pele dos médicos de Grey’s anatomy. Juntos, em diferentes doses, esses dois elementos ajudam a formatar Industry, atração da HBO que chega neste domingo (6/12) ao 5º de 8 episódios. No HBO Go a promessa é que os quatro últimos episódios entrem juntos. O resultado é uma série intensa, irônica e sem medo de tocar em tabus do universo dos negócios.
Durante a primeira metade de Industry, acompanhamos Harper Stern (Myha’la Herrold), jovem de Nova York que começa como trainee do Pierpoint & Co, banco de investimentos de Londres. Tudo é novidade para Harper: da pressão de estar num mundo ao qual ela não pertencia antes à dificuldade de fazer amizades. Além dela, outros colegas participam do programa de trainee do Pierpoint. Ela se aproxima mais de Yasmin (Marisa Abela), Robert (Harry Lawtey) e Gus (David Johnson).
Logo de cara, Industry deixa claro que o mundo corporativo ali exposto é o selvagem, em que você é muito mais o quanto você produz ー sem importar o como se chegou a esse resultado. Se é dando um agradinho aqui, fazendo uma trapaça ali, saindo para jantar (e outras coisas mais, porque não?) com um ou outro, o que é importa é o fim.
Em Industry não há limites
Essa é a primeira barreira para Harper. Ela se incomoda ao ver tantos assédios morais no banco financeiro e se espanta ao ver que muitos dos colegas acham que esse tratamento faz parte do jogo pelo faturamento ー Yasmin vive sendo humilhada pelo chefe dela. As cifras conseguidas soam como compensação para muitos deles. Ao ponto de um amigo dela, a quem ela tinha se afeiçoado, morrer dentro da empresa, pois precisava mostrar interesse e não sabia impor limites. Até agora, Harper está caminhando para a felicidade do equilíbrio ー e parece que conseguirá na metade restante da série.
Industry é muito sobre limites. Os do ramo profissional ー do quanto se dedicar, se entregar, de como se impor, se comportar, do quando parar ー estão mais claros. Mas há outros. Com tanta droga e tanto álcool correndo nas veias, os corpos dos amigos de Harper certamente estão no limite. Uma hora a conta chega, mesmo eles sendo jovens, e a moça tem de entender isso da maneira mais dolorosa.
Há também os limites emocionais. Em frangalhos por tanto grito e tanto desrespeito impostos no banco, sobra pouco para se dedicar a si. Poucos ali parecem ter vida própria: o celular está sempre a postos para receber a chamada do chefe e a cama pode virar mesa do escritório para terminar um projeto a qualquer momento. Dessa forma, os relacionamentos deles são passageiros, calcados muito mais no prazer do sexo sem compromisso no que no assumir um namoro.
Espécie de Malhação depois da formatura, Industry pode ser um retrato de jovens que se entregam demais ao trabalho e esquecem da própria vida. Dura essa vida de adulto.