Em tom documental, Doutor Castor fala do homem que era adorado por incentivar o futebol e o carnaval e temido pelo envolvimento com o crime
Quantos homens havia em Castor de Andrade? “Muitos. O benfeitor, o pai dos pobres, o dirigente esportivo, o líder no mundo do carnaval e, claro, o chefão de uma organização criminosa muito perigosa”. A resposta é de Marco Antônio Araújo, diretor da série documental Doutor Castor, disponível no catálogo do Globoplay.
Em quatro episódios, Doutor Castor fala de todas essas personas que fazem de Castor de Andrade um verdadeiro anti-herói. “Castor dava dinheiro para as pessoas, financiava tratamentos médicos, fazia doações para as igrejas da região. E levou alegria por meio do Bangu Atlético Clube e da Mocidade Independente de Padre Miguel. Claro que havia um preço a pagar. As mortes e a violência vinham a reboque, como acontece sempre que uma organização criminosa toma de assalto uma região”, explica o diretor, em entrevista ao Próximo Capítulo.
Marco Antônio conta que mergulhou no mundo de Castor de Andrade sem medo de se prender a algum rótulo. “Doutor Castor narra a trajetória de um anti-herói. Ele é o protagonista, mas o tempo todo estamos mostrando as suas falhas morais e éticas. Mesmo histórias engraçadas e quase anedóticas trazem o lado perverso do personagem. Quando o ex-jogador e comentarista Dé Aranha, com toda a sua irreverência, conta que o Castor apontou uma arma na direção do lateral Marco Antônio para que ele se dedicasse mais nos treinamentos, a nossa tendência é dar risada. Mas esse “causo” revela o lado gangster do Castor. Acho que tivemos sucesso em contar essa história sem glamourizar o Castor, exemplifica.
Entrevista // Marco Antônio Araújo
Porque uma série documental sobre Castor de Andrade?
O Castor é um personagem irresistível. É inacreditável que ainda não existisse um documentário ou uma biografia sobre ele. A história do Castor é fundamental para entendermos o Rio de Janeiro, para compreendermos o Brasil. Crime, futebol e carnaval são marcas registradas do Brasil – e o Castor foi uma grande figura nessas três áreas. Esse é o primeiro documentário do Esporte da Globo original para o Globoplay.
De alguma forma, Castor levou o subúrbio carioca para o Brasil por meio do Bangu e da Mocidade. Qual é a importância dele para essas comunidades?
O assistencialismo é uma arma poderosa em locais onde o estado é omisso. Castor dava dinheiro para as pessoas, financiava tratamentos médicos, fazia doações para as igrejas da região. E levou alegria por meio do Bangu Atlético Clube e da Mocidade Independente de Padre Miguel. Claro que havia um preço a pagar. As mortes e a violência vinham a reboque, como acontece sempre que uma organização criminosa toma de assalto uma região.
No início da série vimos que “Castor continua vivo em Bangu”. De que forma?
Mais de 20 anos após a morte dele, todo mundo em Bangu e adjacências conhece Castor de Andrade. Ele se tornou uma figura lendária na região. Castor também continua presente na segunda guerra do jogo do bicho. A família Andrade está se matando em uma batalha fratricida. Fernando Iggnacio, genro do Castor, foi alvejado na Zona Oeste do Rio, em novembro do ano passado. Castor morreu, mas o legado de violência continua.
Quantos homens havia em Castor de Andrade?
Muitos. O benfeitor, o pai dos pobres, o dirigente esportivo, o líder no mundo do carnaval e, claro, o chefão de uma organização criminosa muito perigosa.
Houve algum receio em falar sobre o contraventor Castor? Ou de ser acusado de romancear a trajetória de um contraventor?
Doutor Castor narra a trajetória de um anti-herói. Ele é o protagonista, mas o tempo todo estamos mostrando as suas falhas morais e éticas. Mesmo histórias engraçadas e quase anedóticas trazem o lado perverso do personagem. Quando o ex-jogador e comentarista Dé Aranha, com toda a sua irreverência, conta que o Castor apontou uma arma na direção do lateral Marco Antônio para que ele se dedicasse mais nos treinamentos, a nossa tendência é dar risada. Mas esse “causo” revela o lado gangster do Castor. Acho que tivemos sucesso em contar essa história sem glamourizar o Castor.
Qual é, na sua opinião, a imagem definitiva de Castor: o jogo do bicho, o carnaval, o futebol…
Impossível dissociar uma imagem da outra. A imagem definitiva do Castor é a do homem da festa, da bola e da bala.
Qual é legado de Castor para o carnaval carioca?
Ele foi importante. Investiu dinheiro e ajudou a transformar o carnaval carioca no grande espetáculo que conhecemos hoje. Mas, ao mesmo tempo, os bicheiros tiraram o protagonismo da comunidade. Tomaram para si o posto de “donos” das escolas de samba. No curto prazo, essa injeção financeira alavancou o carnaval. Mas, depois de um tempo, as comunidades se tornaram extremamente dependentes dos bicheiros.