Após uma primeira temporada polêmica, a série nacional O mecanismo, sobre os desdobramentos da Operação Lava-Jato, está de volta. Em seu segundo ano, o seriado criado e dirigido por José Padilha mantém a fórmula da primeira temporada, mas acrescenta algumas novidades, como um maior desenvolvimento dos dramas pessoais dos personagens, uma ampliação de visão política — agora com outros partidos e personagens sendo criticados, consequentemente, por também aparecerem na investigação da operação — e uma nova (e ótima) abertura. Ou seja, quem gostou da primeira temporada, deve gostar. Já quem não se agradou, também deve permanecer não gostando.
A primeira (e melhor) novidade de O mecanismo é a abertura. Segundo Padilha, ela deveria ter entrado na primeira temporada, no entanto, questões jurídicas impediram. Uma pena! Mas sorte que a Netflix autorizou na segunda temporada. Ao som de Reunião de bacana (Se gritar pega ladrão), os créditos da série aparecem em meio as imagens de Fernando Collor de Mello, Dilma Rousseff, Michel Temer, Sérgio Cabral, Eduardo Cunha e outros políticos brasileiros — sempre com parte dos rostos borradas. Dessa forma, a produção crava que, em sua história, está chamando “todos os políticos, sem exceção e sem diferenciação de partido, de bandidos”. Esse é mais um recurso característico de Padilha e que está também em outra produção dele na casa, a série Narcos.
Quanto ao desenvolvimento da história, a segunda temporada começa exatamente de onde parou a primeira. Antes, inclusive, há uma espécie de resumão para relembrar o espectador dos acontecimentos do primeiro ano. Agora, o delegado afastado Marco Ruffo (Selton Mello) e a delegada Verena (Caroline Abras) estão criando o cerco em cima de Ricardo Bretch (personagem inspirado em Marcelo Odebrecht), o 13º empreiteiro do Clube dos 13, o único que ainda não foi preso, interpretado pelo ator Emílio Orciollo Netto. Ao focar na caçada a Ricardo, a série dá mais destaque a Emílio Orciollo Netto. Outro ponto positivo, já que o ator está muito bem no papel.
Ao explorar os caminhos da Lava-Jato, a série deixa um pouco de lado a atmosfera anti-petista da primeira temporada para se tornar mais apartidária, como José Padilha sempre frisou que seria. Dessa vez, sobra mais para outros partidos com o maior desenvolvimento dos personagens Samuel Themes (Tonio Carvalho), que é inspirado em Michel Temer e na série tem ares de grande peça do esquema; Lúcio Lemes (Michel Bercovitch), uma versão de Aécio Neves, que até ganhou a frase “estancar a sangria” (que foi amplamente criticada na primeira temporada) e apareceu articulando o impeachment de Janete Ruscov (Sura Berditchesky), uma referência a ex-presidente Dilma Rousseff; e o juiz Paulo Rigo (Otto Jr.), livremente inspirado no atual ministro Sergio Moro e que, na sequência, passa de herói nacional para alguém deslumbrado com a fama.
Em relação aos dramas pessoais, a produção explícita o quanto a incessante luta de Ruffo contra a corrupção destruiu a vida do personagem, dá destaque a vida amorosa de Verena e, de forma muito leve, debate questões de raça e gênero com os desenvolvimentos das histórias dos policiais Vander (Jonathan Haggensen) e Guilhome (Osvaldo Mil). Esse, inclusive, é um momento em que o seriado perde uma grande oportunidade. Explorar os dramas pessoais é positivo, porém, isso não foi feito da forma profunda que merecia. As questões de Verena, inclusive, são as mais rasas. Era uma oportunidade de dar mais voz a personagem, que, apesar de ser uma líder, está em muitos momentos ofuscada pela figura de Ruffo.
Outro problema da segunda temporada é que, ao seguir a fórmula da primeira temporada, a série se repete, o que, para o espectador, pode ser cansativo. O discurso clichê e piegas com palavras e frases de impacto também está lá e sempre na voz de Ruffo, o que também nada mais é do que uma repetição, que, aqui, se torna excessivo.
A temporada tem como foco acontecimentos entre 2014 e 2016, passando pela prisão de Ricardo Brecht e seguindo até o impeachment de Janete Ruscov (Sura Berditchesky). Uma terceira temporada ainda não está confirmada. Mas, tudo indica, que se houver, deve ter o protagonismo focado em Verena e nos outros desdobramentos da Lava-Jato, já sem a presença de Marco Ruffo.
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