Preste atenção à minissérie Se eu fechar os olhos agora, disponível no Now. É de assistir de olhos bem abertos!
Oportunidade não vai faltar para que você assista à minissérie Se eu fechar os olhos agora, de Ricardo Linhares, com direção de Carlos Manga Jr., e baseada no livro homônimo de Edney Silvestre. A atração está disponível no Now (por R$ 29,90 e tempo limitado), em novembro chega ao serviço on demand da Globo, o Globo Play, e em janeiro deve estrear na televisão propriamente dita. Uma estratégia cada vez mais utilizada pela Globo, como na primeira temporada de Carcereiros e em The good doctor.
Se eu fechar os olhos agora tem apenas 10 capítulos, o que não deixa muito espaço para as famosas “barrigas” das novelas. Ricardo Linhares não tem tempo a perder e se vale de uma direção ágil e precisa de Carlos Manga Jr..
A história de Se eu fechar os olhos agora se passa em São Miguel (RJ), na década de 1960, e gira em torno do mistério que envolve o assassinato de Anita (Thainá Duarte), esposa do dentista Francisco (Renato Borghi). O corpo da moça é achado por duas crianças: Paulo Roberto (João Gabriel d’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois). Matando aula, os meninos se deparam com a morta e chamam a polícia, transformando-se nos primeiros suspeitos do crime.
Logo, Francisco assume o crime ー mesmo com toda a cidade tendo certeza de que ele não era culpado ー e os meninos são inocentados. Mas eles insistem em querer investigar o que realmente aconteceu e, para isso, contam com a ajuda do misterioso Ubiratan (Antonio Fagundes). Conforme as investigações caminham, outras vítimas vão sendo assassinadas e vários segredos aparecem e são revelados.
Aliás, segredo é uma palavra chave em Se eu fechar os olhos agora. Parece que todos ali em São Miguel têm pelo menos um: o prefeito Adriano (Murilo Benício), a primeira dama Isabel (Débora Falabella), a ex-miss Adalgisa (Mariana Ximenes), o marido dela e aliado do prefeito Geraldo (Gabriel Braga Nunes), Francisco, Renato (Enzo Romani). A cada revelação, outros segredos surgem e o público vai sendo fisgado. É um acerto enorme do roteiro não deixar as revelações para o último capítulo, guardando para este apenas a solução do principal mistério da trama.
Além do mistério, Se eu fechar os olhos agora segue o mesmo tom de várias produções de época da Globo: trata de assuntos atuais. Estão presentes ali o machismo ー Adriano se orgulha porque as filhas são “belas, recatadas e do lar” (nas palavras dele mesmo) e diz que Anita merecia morrer porque era “uma mulher do balacobaco” ー ; o racismo quando Paulo Roberto recusa um convite para ir à festa na casa do prefeito porque não quer ser o único negro a lazer por ali; feminismo ー a cena em que Isabel conversa com a filha sobre desejo feminino é muito boa; e corrupção e negociatas políticas.
Elenco afiadíssimo é destaque em Se eu fechar os olhos agora
Muito da ação de Se eu fechar os olhos agora depende do rumo que tomam as investigações de Eduardo, Paulo Roberto e Ubiratan. Então, seria uma catástrofe ter duas crianças tatibitates e infantilizadas nos papéis. É com respiro aliviado que o público se depara com dois atores-mirins que merecem ser chamados de atores e não estamos falando de dois personagens que são daqueles irritantes “mini adultos”. Eles são crianças, mas não falam tudo no diminutivo e não ouvem um Ubiratan que os trata como ETs.
João Gabriel e Xande lideram um elenco de vários acertos. Débora Falabella demora a engrenar, mas quando fica mais à vontade, dá show. Mariana Ximenes alterna momentos de uma Adalgisa submissa ao marido e outra fogosa, com amantes. A narração de Milton Gonçalves como Paulo Roberto, a firmeza delicada de Antonio Fagundes e a presença cênica de Renato Borghi merecem destaque. Mas nada se compara à participação pequena, mas marcante de Ruth de Souza. A atriz de 97 anos quase não tem falas, mas não precisa. Ela diz tudo com olhares piedosos e fortes.
Pena que nem todo mundo está bem em cena. Murilo Benício e Gabriel Braga Nunes têm papéis de destaque na trama. Mas cometem o mesmo erro: são eles mesmos. Eles precisam variar mais. E Murilo ainda tem uma agravante: está sempre no mesmo tom, seja irritado (como fica irritado o prefeito Adriano!), seja feliz, seja dando uma ordem, seja destilando ironias.
Felizmente os dois não comprometem Se eu fechar os olhos agora, minissérie de primeira linha com cara de mercado internacional que encanta pelo elenco e especialmente pelo roteiro.