Ator, de 29 anos, que participa desta temporada de Reis, relata as próprias batalhas para se firmar na arte
Patrick Selvatti
Na última semana, a oitava temporada de Reis, na Record, apresentou uma cena de estupro. Entre os integrantes da violência, estava o soldado Gesurita, que faz parte do núcleo de Absalão (Ricky Tavares), filho de Davi (Petrônio Gontijo) e Maaca (Michelle Martins). Intérprete do personagem, o ator Samuel Bernardo faz um paralelo entre a cultura da época — onde o abuso contra mulheres era algo culturalmente aceitável — e os dias atuais.
“Mesmo se tratando de novos tempos, onde existe uma conscientização maior, o machismo ainda é muito grande. Acho que o perigo é justamente quando o homem acha que a mulher é uma posse, como se fosse uma propriedade ou um bem. Isso precisa ser combatido”, argumenta o jovem, de 29 anos, formado pelo Tablado, uma das maiores referências em artes cênicas do Brasil.
Em conversa exclusiva com o Próximo capítulo, Samuel conta que a cena delicada teve todo um cuidado para ser realizada. “Como se a atriz estava confortável ou não de fazer. Mesmo se tratando de uma ficção, tem todo um contexto social por trás. Toda a equipe, a direção e o elenco, foi muito empenhada para entregar algo bacana para os telespectadores, mas sempre com muito cuidado e atenção nas ações necessárias”, explica o artista, que, se considerando cristão, conta que frequenta a igreja desde novo. “Hoje em dia, não é sempre que consigo ir, mas tenho minha comunhão com Deus e minha intimidade, faço minhas orações, e sempre coloco Deus à frente da minha vida e da minha carreira”, revela.
Cara a cara com o público
Com maior bagagem no teatro, o ator — natural de João Pessoa (PB) — está em seu segundo trabalho em novelas. Na estreia em rede nacional, teve sua primeira chance na tevê dividindo uma cena com Chay Suede e Jade Picon, em Travessia. “Me abriu portas”, garante o capricorniano, que tem como traço forte da personalidade focar no trabalho e correr atrás para alcançar seus objetivos.
A estrada, entretanto, tem sido longa e árdua para o rapaz de origem humilde. “Quando saí do ensino médio achei que ia passar para a universidade federal, que ia cursar cinema, que ia dar tudo certo… Mas, na prática, foi diferente porque não passei, aí fiquei em casa sem ter o que fazer, mas por sempre gostar de ser independente fui deixar currículo no shopping, em lojas”, conta Samuel, que trabalhou como vendedor por pelo menos cinco anos. “Fora isso, já trabalhei com passeio de cães, casa de festas, eventos… E vendi picolé”, detalha, sem nenhuma vergonha dos ofícios que desempenhou.
“Sempre amei lidar com o público”, destaca o bonitão, que frequenta academia, é adepto do crossfit e procura manter uma boa alimentação. Com o shape em forma, em seu perfil no Instagram, Samuel Bernardo compartilha fotos de sunga na praia e arranca elogios de seguidores. Entre seu fã-clube, o paraibano criado no Rio de Janeiro já é considerado um galã.
Paixão antiga
A porta que se abriu na tevê ocorreu, agora em 2023, com um convite da produtora de elenco Dani Ciminelli. Já a paixão de Samuel Bernardo pelo teatro é antiga. “Comecei a estudar teatro de 13 para 14 anos, quando a minha ex-professora da quarta série me levou ao Tablado e conseguiu uma bolsa para mim. Fiquei durante uns 10 anos e fiz oito peças. Aí, depois saí para fazer faculdade de cinema e estudar curso de interpretação para o audiovisual”, explica.
O ator tem no currículo, ainda, um curta-metragem. Ela é da sua rua, com direção de Ariana Lorenzino e produção de Patrícia Aguiar, foi para os festivais de cinema de Paulínia (SP) e Atibaia (RJ). “O meu interesse por televisão e cinema veio depois do Tablado. Duas produtoras foram assistir a aula e me chamaram para conversar no final e fizeram o convite para o curta”, detalha ele, que, hoje, estuda no Centro de Treinamento de Atores, que tem no casting nomes como Bella Campos (Pantanal e Vai na fé) e Barbara Reis (Todas as flores e Terra e paixão).
Nascido em 31 de dezembro, Samuel Bernardo está acostumado a celebrar “grandes viradas”. Caçula de 10 filhos, ele é o único artista da família — que se divide entre Sudeste e Nordeste — e o orgulho da mãe, Teresa Maria, de 65 anos. “Ela trabalhou muito como empregada doméstica para me criar e hoje fala para todo mundo, com alegria, que sou ator”, conta, cheio de gratidão e emoção.
Sobre o futuro, o nordestino morador de Botafogo — que está solteiro e pretende mirar 100% na carreira artística — não tem dúvidas: “Outros trabalhos virão”, garante. E tem a nossa torcida.
