Quando estreou, há pouco mais de uma semana, a nova novela das 19h, Salve-se quem puder prometia levar humor pastelão à faixa. Isso não é de todo ruim, pois, quando bem feito, o estilo agrada ー como qualquer estilo, na verdade. Mas, até agora, não é o caso de Salve-se quem puder. A novela das 19h começou com vários efeitos especiais e abusando das piadas sem graça. Parece até que passou um furacão que tirou o horário do eixo depois de Bom Sucesso.
Salve-se quem puder tem três protagonistas: Kyra/ Cleyde (Vitória Strada), Alexia/ Josimara (Deborah Secco) e Luna/Fiona (Juliana Paiva). As três chances de achar uma boa mocinha naufragaram. Vitória é a pior delas: Kyra é uma caricatura ambulante. Em doses homeopáticas, o fato de ela ser estabanada funcionaria. Mas o excesso vai pelo caminho fácil e a gente já sabe que uma coisa vai despencar ou uma peça do cenário será quebrada quando ela aparece. Para piorar, Vitória abusa das caras e bocas.
Deborah Secco é a melhor das três em cena ー tem também o melhor texto entre elas, até agora. Mesmo assim a personagem dela também precisa de ajustes, especialmente quando grita. Aliás, as três estão alguns decibéis acima do ideal.
Juliana Paiva já mostrou que é boa atriz. Mas ela precisa urgentemente sair do papel de mocinha chorosa, otimista demais e à espera de um final feliz. Isso ela já mostrou que sabe fazer. A atriz até está à vontade como Luna, mas, mais uma vez, o roteiro não ajuda em nada e é recheado de estereótipos. Conta a favor dela a química que ela tem com Felipe Simas, o Téo, com quem Luna deve se envolver.
Parece que o diretor Fred Mayrink propôs um desafio à equipe: a cada piada escrita por Daniel Ortiz, Salve-se quem puder tem que trazer uma cena em que o poderio de efeitos especiais da Globo seja mostrado. Só isso justifica tantas perseguições, explosões, alagamentos, etc. Tudo com uma grandeza que chama a atenção, mas pouco acrescenta ao roteiro e soa enfadonho.
Salve-se quem puder tem pontos bons: duas tramas paralelas dramáticas se mostraram fortes. Mas não era para ser uma comédia? Pois é! O primeiro destaque são os acontecimentos que envolvem o passado de Helena (Flávia Alessandra). A mãe de Luna é lembrada a toda hora pelo marido Hugo (Leopoldo Pacheco) que, se entrar no México, não vai mais sair. A insistência no assunto cansa, mas anuncia que pode vir coisa boa por aí, ainda mais porque Téo é filho de Hugo e é como se fosse filho de Helena ー a chama de mãe, inclusive.
Outro bom momento pode vir da doença de Úrsula (Aline Dias). A namorada de Téo está em tratamento de um transtorno de ansiedade e o acidente que quase matou o rapaz pode desencadear nova crise. Irmã de Téo, Micaela (Sabrina Petraglia, bem em cena) já acendeu o sinal de alerta ao ver que a cunhada carrega com ela um vidro de remédios só para se sentir mais confortável. É pena que Aline não parece que vá dar conta de uma carga tão grande, pois a atriz não rendeu em seus últimos trabalhos, Malhação – Pro dia nascer feliz (2016) e O tempo não para (2018).
No mais, a vinheta de abertura é ponto alto de Salve-se quem puder, assim como as atuações de Rafael Cardoso (Renzo, personagem complexo que oscila entre a fidelidade à tia assassina e a paixão por Alexia), Otávio Augusto (Ignácio), Felipe Simas, Bruno Ferrari (Rafael) e Bruna Guerin (Petra). Mais uma colagem do nada saudoso Zorra total do que uma novela propriamente dita, Salve-se quem puder precisa de ajuda.
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