O mercado do audiovisual está mudando aos poucos e, mesmo que devagar, alguns novos nomes estão tendo a oportunidade de mostrar a própria perspectiva por meio dos filmes e até das séries. Rye Lane, estreia da semana na Star+ , é um desses filmes que inova dentro do gênero e faz algo que é divertido, engraçado, mas com cuidado estético e muita originalidade.
O longa é uma comédia romântica que acompanha Dom (David Jonsson) e Yas (Vivian Oparah), duas pessoas que se encontram em um banheiro neutro e iniciam uma relação baseada em tentar vingança de situações que ex-namorados os fizeram passar. O filme é dirigido pela estreante Raine Allen-Miller e tem como principal cenário a cidade de Londres, mais precisamente as áreas de Peckham e Brixton, regiões marcantes da capital britânica.
A ideia do filme é conquistar o espectador pelo carisma dos personagens e o exuberante visual, mas também pela linguagem universal do amor. “É muito importante, para mim, que os personagens sejam universalmente gostáveis. Mesmo que o filme seja incrivelmente britânico, todo mundo no planeta sabe como é o sentimento de estar se apaixonando”, afirma a diretora, em entrevista ao Próximo Capítulo. Para Raine, o trabalho dela é mostrar um lindo mundo dentro da realidade. “Meu trabalho como cineasta é pegar algo que é real e dar um toque de mágica. Eu estou capturando coisas que acontecem na vida real, mas o fato de elas estarem na tela deixa tudo mais mágico”, acredita.
Raine é muito inventiva também na forma de filmar e usa muitas saídas técnicas de cinema que dão um caráter empolgante para a produção, com um tratamento especial para um fator: a cor. “A minha abordagem no fazer cinema é algo que eu penso há muito tempo. Eu dirijo comerciais e curtas já faz tempo, e uma coisa que eu gosto é usar e brincar com as cores”, explica. “Contudo, para mim, a parte mais importante é que o filme não se descole da realidade. Uma coisa bonita de Rye Lane, é que tudo ali é real. Se você vai ao Brixton Market, lugar onde gravamos, vai ver aquilo que você vê na tela”, acrescenta. “Tudo se eleva apenas pela forma que filmamos e coreografias, nós queríamos que aquelas cores se destacassem.”
Para Raine, o fato de Rye Lane ser diferente tem relação com oportunidades. “Eu acredito que seja outro ponto de vista. Pessoas como eu não têm a oportunidade de fazer tantos filmes. Como eu vejo o mundo de uma forma diferente daqueles que comumente estão fazendo cinema, quase tudo desse filme traz algo novo”, analisa a cineasta, uma mulher negra britânica, perfil mais raro em posições de comando no cinema. “Não estou falando só de mulheres negras. Não é só sobre mulheres, nem só sobre pessoas negras. Tem que ser levado em consideração a questão de classe, oportunidade e privilégio.”
Ela pede que pessoas de todos os contextos sejam consideradas, para que todas as experiências estejam representadas na tela. “Nós somos capazes, e há pessoas, de todos os contextos possíveis, capazes de fazer algo bom, que conseguem fazer um bom cinema”, diz. “Eu sou uma nova voz e espero que as pessoas tenham mais oportunidades. Que quem está no poder perceba que é necessário contratar pessoas com vozes diferentes para fazer filmes”, conclui.
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