Run the world chega com uma mescla de comédia, empoderamento feminino e problemas do cotidiano na história de quatro amigas negras
Por Pedro Ibarra*
Quatro amigas bem-sucedidas vivem as próprias vidas em um cotidiano recheado de comédia. Esse é o enredo principal de Run the world, nova série original Straz, que estreia neste domingo (16/5) na plataforma Starzplay. Temas do cotidiano, como emprego, romances e responsabilidades, são contextualizados na história dessas mulheres negras e poderosas do bairro do Harlem, em Nova York.
Ella (Andrea Bordeaux), Renee (Bresha Webb), Sondi (Corbin Reid) e Whitney (Amber Stevens West) são amigas há anos e passam por diferentes fases da vida. Ella está de volta ao emprego antigo no jornalismo; Renee está satisfeita com a vida de luxo que vive; Sondi tem problemas na relação com a filha do namorado; e Whitney se prepara para um casamento com o namorado de adolescência. Porém, antes de tudo, são todas mulheres negras e bem-sucedidas no bairro do Harlem.
“Minha intenção é de que essa série expanda a forma como mulheres negras são vistas na própria negritude, em que somos seres políticos, sexuais, criativos, tudo ao mesmo tempo, todo dia”, define a criadora e roteirista da história Leigh Davenport. “Eu queria contar essa história porque percebi um vácuo no que víamos das mulheres negras na televisão. Nós não víamos nada por completo. As séries eram sempre sobre querer se casar, ter filhos ou brigas com amigos, mas isso não era o que eu via na minha vida, nem nas experiências das minhas amigas”, acrescenta, em entrevista ao Correio.
A ideia veio da busca por representatividade na tela. “Decidi fazer uma série baseada na minha vida e na vida das minhas amigas, e sobre como nós batalhamos para sermos a melhor versão de nós mesmas e para atingirmos todos os nossos sonhos de carreira, enquanto nos divertimos, saímos com uns caras e tentamos não ficar doidas com isso tudo”, afirma Leigh.
Ela conta que demorou, ao todo, uma década para chegar ao produto final, agora disponível na Starzplay. Nos últimos quatro anos, largou o emprego como editora de uma revista para se mudar para Hollywood e se dedicar exclusivamente a fazer essa produção ser possível. “Um dia, eu saí muito tarde da casa de uma amiga, depois de uma noite de vinho e fofocas com o meu grupo. Estava voltando para casa e tive uma epifania: ‘Nós deveríamos ser uma série de tevê’”, relembra.
“Eu acho que é isso que todo mundo quer assistir: amizades verdadeira refletidas nas telas”, acredita a atriz Bresha Webb. O seriado abusa da química das atrizes para trazer uma bonita relação das personagens, que conseguem ser cômicas, carinhosas e, ao mesmo tempo, fazer o público pensar. “Espero que mulheres assistam à série e se sintam inspiradas a ir atrás da ajuda que precisam e a se confidenciar com amigas, terapeutas, na intenção de consertarem a si mesmas, antes de consertar qualquer outra coisa”, completa.
Mulheres negras levam representatividade à Run the world
A série é criada, produzida e dirigida por mulheres negras e protagonizada por outras quatro. “Eu nunca tinha feito parte de algo que celebrasse tanto as mulheres negras. Desde detalhes, como andar em slow-motion, as marcas que usávamos e até o fato de fecharmos ruas para gravações. Teve muito dinheiro envolvido e eu me senti apoiada”, avalia Bresha.
Davenport tentou trazer o ponto de vista que, para ela, ainda era um tanto inexplorado no audiovisual. “Eu quero que as pessoas vejam o que é ser uma mulher moderna em Nova York da perspectiva dessas divertidas, inteligentes e negras protagonistas”, apresenta a criadora. “Essa série é uma excelente forma de exaltarmos a negritude e as mulheres negras bem-sucedidas morando em Nova York”, ressalta, por sua vez, a atriz Bresha Webb.
Para Andrea Bordeaux, a série deixa um recado para as várias mulheres negras que vão assistir: a importância de, às vezes, ser egoísta. “Eu vejo o egoísmo como algo usado, na maioria das vezes, como sendo pejorativo. Mas, na verdade, é só uma forma de fazer as pessoas tomarem decisões que agradem a si mesmas”, pontua a atriz. “Seja egoísta, ponha-se em primeiro lugar, tenha muito amor-próprio, que tudo que vier em seguida será muito positivo para você. E, só então, você poderá ajudar o próximo da melhor forma”, adiciona.
Nova Sex and the city?
“É impossível qualquer produção que trate sobre mulheres em Nova York não ser comparada com Sex and the city”, analisa Leigh Davenport. A clássica série da HBO também foca em um grupo de amigas na grande metrópole norte-americana. Contudo, para criadora e roteirista, são duas produções bem diferentes. “O nosso seriado vive desse cânone (de uma história sobre amigas), mas o ponto de partida não tem a ver com relacionamentos amorosos e romance”, explica. “Essa é uma série sobre irmãs que estão tentando descobrir o que querem fazer da vida e como elas apoiam umas às outras para que consigam alcançar seus objetivos”, complementa.
No entanto, as semelhanças são inegáveis, e a série faz até homenagens à sua antecessora dos anos 1990, citando personagens, inclusive, no primeiro episódio. “Run the world pega toda essa energia feminina, de Nova York, e adiciona um lado de cultura afro-americana. Com essa mistura, nós ganhamos algo muito dinâmico, que nunca foi visto a este nível antes”, comenta Bordeaux sobre como a série usa dessa semelhança ao próprio favor. “Nós dizemos que Sex and the city andou para que pudéssemos correr”, brinca a atriz.
Para as atrizes e a roteirista, Run the world conversa mais com os dias atuais, mas não perde o cerne que Sex and the city trouxe lá em 1998. “O que eu gostava de Sex and the city é que mulheres estavam fazendo acontecer em Nova York. Agora, quero ver mulheres negras fazendo acontecer em Nova York e no Harlem”, clama Webb.
* Estagiário sob a supervisão de Sibele Negromonte