A pandemia do novo coronavírus mexeu com a programação televisiva. Estreias foram adiadas e produções antigas voltaram à programação. Mas nem esse troca-troca todo tirou o ator uruguaio radicado no Brasil, Roberto Birindelli, da telinha. Atualmente, ele pode ser visto em duas tramas: na quarta e última temporada de Um contra todos, na Fox Premium, em que vive o traficante Pepe, um dos antagonistas; e na reprise de Apocalipse, na Record, quando viveu o delegado Guido.
A reexibição da novela, inclusive, é vista pelo ator como uma forma de dialogar com o momento atual. “Penso que a temática é tristemente atual. Caminhamos para um estado totalitário. Normalmente é legal ver novelas antigas para entender e comparar períodos. Mas mesmo tendo sido recente, o país deteriorou tanto em poucos anos que já temos espaço para comparação e reflexão”.
Durante a pandemia, Birindelli tem aproveitado para dedicar o tempo para si, algo que pretende levar para o período pós-Covid-19, quando poderá ser visto em outra trama: a novela de época Nos tempos do Imperador, na Globo. No folhetim, ainda sem previsão de estreia, vive o general Solano Lopes. O enredo é uma sequência de Novo mundo, que está sendo reexibida no horário das 18h.
Você estreou recentemente na tevê fechada na temporada final de Um contra todos, em que vive um personagem que era pra ter sido menor, mas ganhou destaque na produção. Como você avalia a sua trajetória e de Pepe na série?
Um contra todos é, sem dúvida, o trabalho que mais satisfação me deu. Pepe é um presente para um ator. Pensa na alegria de fazer parte disso. O trabalho evoluiu a cada temporada. No projeto original, Pepe era o antagonista que morreria no final da primeira temporada, mas foi ganhando espaço, a relação com Cadu foi ganhando camadas e significados que davam para desenvolver mais e aproveitar, e chegamos na quarta com muita coisa ainda para acontecer entre eles. Tanto que a última cena antes do final é a decisão definitiva de Cadu, e envolve Pepe. Esses cinco anos de convivência foram incríveis. Acho que foi um projeto pra lá de especial para cada um dos envolvidos. Texto maravilhoso, e a gente acrescentava, sugeria desdobramentos e matizes, os autores estavam sempre por perto pra incorporar no texto, repensar. A direção detalhista, cuidada e parceira do Breno (Silveira) foi memorável. A caracterização e figurinos do Pepe… vou lembrar sempre!
O que as pessoas podem esperar do final de Um contra todos?
Os problemas de Cadu pioram a cada temporada. Sempre tendo Pepe como o “master mind”. Nesta temporada novas situações colocarão Pepe frente a riscos e limites, até então, não ultrapassados. Pepe sempre se manteve no controle da situação, até nos momentos em que tudo parecia perdido.
A Record passou a reprisar Apocalipse, que você fez parte. Como é para você poder rever essa experiência?
Sabe que do elenco de Apocalipse mantemos um grupo de WhatsApp até hoje? Sempre nos comunicamos. Parcerias que foram ficando. Penso que a temática é tristemente atual. Caminhamos para um estado totalitário. Normalmente é legal ver novelas antigas para entender e comparar períodos. Mas mesmo tendo sido recente, o país deteriorou tanto em poucos anos que já temos espaço para comparação e reflexão.
Que lembranças guarda da novela e do seu personagem?
Gravar uma novela é sempre um ato de resistência. Pensa que um projeto de 180 capítulos de 45 minutos é mais ou menos (com diferente qualidade, obviamente) o conteúdo de 90 filmes. É muita coisa, muitas dificuldades, possibilidade de adaptar, de evoluir, de ir trabalhando o personagem ao longo do tempo, de ir acompanhando nas ruas as reações que seu personagem desperta. Guido — o delegado — foi leal durante 120 capítulos. Um dia recebi o roteiro e ele tinha se vendido pro mal. Foi uma surpresa pra mim e para os telespectadores, enfim…
Você está confirmado na novela Nos tempos do Imperador ,que acabou tendo a estreia adiada por conta da pandemia. O que pode contar sobre o seu personagem?
Bem, só recebi o texto dos primeiros capítulos. General Solano Lopes aparece no primeiro capítulo da novela, quando os conflitos são apresentados. Depois retornará nos últimos quatro meses da novela, que abordará a Guerra do Paraguai.
Como se preparou para o personagem?
Tenho lido muito da história e suas versões, tendo em vista que cada país tem sua própria narrativa. Sigo o que estudei na escola, no Uruguai, e também os pontos de vista brasileiro e paraguaio, obviamente conflitantes. Em relação à preparação, fiz treino de montaria. Já gravei as cenas a cavalo, mas certamente haverá mais ao longo da novela. Mais adiante haverá batalhas. Tem treino de armas. Pratiquei esgrima vários anos, isso não vai ser complicado. Estou tomando cuidados semelhantes ao da composição do Pepe em relação à linguagem. Buscamos palavras que possam ser compreendidas tanto em espanhol quanto em português.
Como você tem ocupado seu tempo durante a quarentena?
Estive nos festivais de Porto e Manchester. O plano era retornar a Lisboa e vir ao Brasil só dia 27. Mas as condições na Europa pioraram muito rápido, e encurtamos a viagem. Foi um sufoco sair. O tumulto no aeroporto de Londres já dava pra entender o caos. Vim direto para a quarentena em casa. Isolamento, recolhimento e pensar na vida. Sem acesso a restaurantes, locais públicos, passeios, não tenho comprado nada, nem on-line. Mas o que esse isolamento mais mostrou é que o que mais sinto falta é das pessoas. Acho que na volta desse confinamento as pessoas vão valorizar mais umas às outras. Assisto a séries e filmes, livros, arrumo a casa, troco tomadas, fiação, lavo e passo roupa – descobri que sou um desastre passando roupa. A grande mudança, pelo que posso perceber agora, é minha relação com o tempo. Isso vai mudar definitivamente pós-quarentena. Entendo todas as necessidades, compromissos, expectativas, mas também entendo que meu tempo… é meu.
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