O coração do ator Ricardo Pereira é verde, amarelo e vermelho. As cores das bandeiras brasileira e portuguesa se confundem na carreira e na vida do intérprete do Almeida da novela Éramos seis, que chega ao fim nesta semana na faixa das 18h na Globo.
Almeida começou a novela com um ar de bon vivant, quase que um solteirão convicto. Mas, aos poucos, revelou-se um homem desquitado, quase um acinte para a época em que se passava a trama de Ângela Chaves — as décadas de 1920, 1930 e 1940. Mas ele acaba se apaixonando por Clotilde (Simone Spoladore) e a conquistando sem revelar o segredo. Depois, teve que reconquistá-la.
“Almeida é um personagem muito consistente, muito profundo, com questões muito densas. Ele teve um arco dramático maravilhoso, com as diferenças que ele foi tendo ao longo da novela”, analisa Ricardo, em entrevista ao Correio. “O amor foi sem dúvida o motor para que eles (Almeida e Clotilde) conseguissem se entender, se amar mesmo contra a não aceitação social. O amor resistiu a tudo”, continua o ator.
Com a novela já gravada, Ricardo só quer saber de desacelerar. “Mesmo antes dessa questão mundial muito forte que estamos passando (a pandemia de coronavírus) eu já tinha plano de tranquilizar um pouquinho. Eu tenho projetos para o cinema e estou lendo textos para o teatro, mas para o ano que vem. Para o segundo semestre, devo rodar filmes e tenho projetos para a televisão, quer como ator, quer como apresentador. Mas estou analisando tudo com muita tranquilidade, sem pressa porque agora estou querendo descansar, cuidar da casa, ler livros”, conta, fazendo mistério quanto ao que vem por aí.
Além das carreiras de ator e apresentador, promover o intercâmbio entre atores brasileiros e portugueses é um dos orgulhos de Ricardo Pereira. Nomes como a luso-brasileira Joana de Verona (a Adelaide de Éramos seis) e José Condessa (o Juan de Salve-se quem puder) o procuram para pedir conselhos e também para matar as saudades da terrinha. “Eu conheço a maioria deles lá de Portugal. Fico muito feliz com essa troca”, comemora essa espécie de embaixador televisivo entre os dois países.
Qual o balanço que você pode fazer do Almeida de Éramos seis?
Um balanço muito bonito. A novela está chegando na reta final. É um personagem muito consistente, muito profundo, com bastante questões da vida dele muito densas. Ele teve um arco dramático maravilhoso, com as diferenças que ele foi tendo ao longo da novela. O personagem foi crescendo porque a novela passa pelas décadas de 1920, 1930 e 1940 e parece que o personagem sentiu essa passagem, quase como se fosse real.
O Almeida vive com a Clotilde (Simone Spoladore) um amor que para aquela época era proibido porque ele era desquitado. Como o público se portou diante disso? Desde o início havia a torcida por vocês?
O desquite naquela época era como se fosse uma doença que ele trazia marcada. Ele vivia sempre à sombra desse desquite, ele próprio não se aceitava socialmente. No início da novela, era um bon vivant, um cara solto, solitário, era quase um disfarce dele para evitar falar do problema que ele tinha. O público acompanhou essas questões ao longo do tempo e viveu intensamente os problemas daquela época. A pessoas entraram na história sem criticar, mesmo quando o Almeida deixou a Clotilde. Pelo contrário, elas sofreram com a impossibilidade, entenderam e tentaram acompanhar e torcer para que eles se resolvessem.
Você falou há pouco que o fato de o Almeida ser desquitado era quase como uma doença, uma marca. O amor da Clotilde o curou?
O amor foi sem dúvida o motor para que eles conseguissem se entender, se amar mesmo contra a não aceitação social. O amor resistiu a tudo. Essa novela é muito bonita porque ela não tem vilão. O vilão são as circunstâncias da vida. Mas a novela tem muito amor, a gente fala de muito amor.
Isso pode acontecer fora das telas numa realidade como a nossa hoje em dia, quando o ódio parece dominar?
Eu quero seguir acreditando sempre que isso é possível. O ser humano tem essa capacidade de se comunicar, de dialogar que é maravilhosa e que ajuda a resolver problemas. Mas às vezes a gente esquece dela. Ela pode ajudar a acabar o ódio e a trazer mais amor. O amor tem que existir, tem que comandar as nossas vidas. Ele resolve muita coisa. É bom que a gente não se esqueça dele ー desse amor com as pessoas e com nós próprios, que é muito importante.
Com a novela terminando, quais são seus próximos planos? Já tem projetos? Vai descansar?
Mesmo antes dessa questão mundial muito forte que estamos passando (a pandemia de coronavírus) eu já tinha plano de tranquilizar um pouquinho. Eu tenho projetos para o cinema e estou lendo textos para o teatro, mas para o ano que vem. Para o segundo semestre, devo rodar filmes e tenho projetos para a televisão, quer como ator, quer como apresentador. Mas estou analisando tudo com muita tranquilidade, sem pressa porque agora estou querendo descansar, cuidar da casa, ler livros.
Você falou de projetos como apresentador… como surgiu o apresentador na sua vida? Porque no Brasil a gente te conheceu primeiro como ator, mas em Portugal, não…
Eu comecei como apresentador há muito tempo em Portugal paralelamente à minha carreira de ator. Tem muito a ver com meu lado de gostar de me comunicar, de gostar de pessoas. Eu já tive oportunidade de ter vários programas ー de auditório, de conversa, magazines, programas ao vivo. Eu gosto muito de programas ao vivo. A adrenalina do ao vivo é muito prazerosa, é um risco grande, mas é algo que estimula e desafia muito. No último programa que eu tive na tevê internacional, Sem cortes, descobri um outro lado meu. É o de fazer entrevistas sobre a vida das pessoas, entrevistas mais profundas, além da carreira. A gente tocava os sentimentos. Como apresentador tem que levar a conversa pra frente e, como pessoa, se emociona com aquelas histórias.
Além de você, há outros atores portugueses no Brasil e vem chegando cada vez mais gente. Eles te procuram para pedir dicas?
Sim! Eu conheço a maioria deles lá de Portugal porque trabalho lá há muitos anos e sempre estou lá passando férias ou trabalhando mesmo. Eles me procuram porque sabem que eu tenho trabalhado aqui continuamente nos últimos anos e eu tenho sempre alguma coisa a acrescentar, a falar da minha experiência. Eles me procuram também quando sentem saudades das famílias deles porque eu estou mais protegido aqui por ter família e casa no Brasil. Fico muito feliz com essa troca. Do mesmo jeito tenho amigos atores brasileiros que vão para Portugal e eu ajudo mesmo não estando lá, com algum contato, com dica. É quase como se eu fosse um embaixador entre esses dois países para assuntos culturais. A gente ganharia muito culturalmente se nos mostrássemos mais tanto portugueses para brasileiros como o contrário. São dois países irmãos que ganham com essa troca cultural contínua.
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