Rain Dogs faz crítica enquanto ri da própria desgraça

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Rain dogs, série britânica da HBO Max, estreia com história que usa o humor para apontar o dedo para feridas da sociedade

Por Pedro Ibarra

A expressão em inglês rain dog é pouco conhecida e muito literal. Traduzida para o português, significa cachorro na chuva e é usada para todas as pessoas que estão em uma situação ruim que precisam de ajuda, que precisam ser tiradas dessa tempestade. Nessa ideia da expressão, a autora Cash Carraway, conhecida pela série de livros Skint Estate, estreia como roteirista e criadora no seriado Rain dogs, uma produção que mostra uma perspectiva crítica e bem-humorada das pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. A série estreia hoje na HBO Max.

A série acompanha Costello (Daisy May Cooper), uma mãe capaz de tudo para dar o melhor que pode para a filha. Na falta de recursos, ela se junta a Selby (Jack Farthing), um homem homossexual que nasceu em uma família rica, mas se afastou e vive em dificuldades. Juntos, eles criam a própria família, pouco usual, um tanto disfuncional, mas a melhor opção para as condições que estão vivendo.

A série, no entanto, propõe um olhar bem-humorado sobre as situações, sem esconder a gravidade e as dificuldades da vida na pobreza. “Eu experienciei a pobreza e realmente parece que alguém deu uma voz interessante para essas pessoas. Não  é sempre obscuro, às vezes é engraçado, até na vida real”, conta Daisy May Cooper. A atriz e roteirista, que ficou conhecida por fazer parte de comédias aclamadas no Reino Unido, exalta o ponto de vista da criadora da série. “Ela é uma das escritoras mais magníficas com quem já trabalhei. O que eu mais amei do roteiro é que eu não senti que era uma romantização da pobreza”, elogia a artista.

“As coisas são tão sombrias, que, às vezes, o que resta é rir.” Assim Daisy defende que há como encontrar comédia em um drama sobre pobreza. “O coração da série é encontrar comédia mesmo no mais obscuros dos momentos”, complementa Jack Farthing. O ator analisa que o humor britânico tem esse traço mais rebuscado, mas que a história de Rain dogs é universal. “Pode parecer uma coisa britânica, mas viaja entre culturas. Em todo mundo há pessoas passando por coisas difíceis. Tratar isso com bom humor é uma forma de humanizar e dar um respiro na dificuldade da vida real”, reflete o intérprete. “Rir é e sempre será vital, e essa série lembra as pessoas disso”, conclui.

Para ambos os atores principais, a produção acerta ao dar voz para esses cachorros na chuva. “Esses personagens, assim como os cachorros, ainda estão na chuva. São pessoas que não sabem como é o sentimento de serem amadas. Como cachorros resgatados, são muito desconfiados de tudo”, explica Daisy. “Precisamos contar essas histórias porque elas são reais, porque há verdade nisso. Existem pessoas que sentem que precisam ser salvas da chuva, cuidadas e amadas”, acrescenta Jack.

A comédia que toca a realidade pode fazer uma crítica muito mais acessível e potente para o público, e Rain dogs tem essa intenção. “Todo mundo é, de certa forma, um cachorro na chuva, e mesmo essa categorização é irrelevante porque as experiências são muitas e individuais. Esse seriado quer tocar nisso, surpreender o público e mostrar que as pessoas que estão abaixo da linha da pobreza não devem ser generalizadas, é necessário ser específico”, avalia Farthing.

Pedro Ibarra

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